FÃ DE CARTEIRINHA: Claudiomar de Oliveira
>> 14 de mar. de 2008
No primeiro "Fã de Carteirinha" cruzamos o Atlântico em busca da história de Arnaldo Guerreiro, um português aficionado pela vida e obra de Teixeirinha. Hoje, nossa viagem é mais curta, mas não menos importante. Vamos conhecer Claudiomar Pinto de Oliveira, outro fã inconteste do "Rei do Disco".
Claudiomar visita o túmulo de Teixeirinha
Claudiomar na casa de Teixeirinha
A coleção particular do grande fã
Claudiomar visita o túmulo de Teixeirinha
Claudiomar é um jovem de 37 anos, nascido na localidade denominada Alto da Cruz, interior do município gaúcho de Canguçu. Filho de agricultores, ele viveu no campo até os 12 anos de idade, quando mudou-se para a cidade a fim de dar continuidade aos estudos. No meio urbano, Claudiomar conquistou muitas vitórias. Formou-se como técnico em Contabilidade e, mais tarde, licenciou-se em Matemática pela Universidade Católica de Pelotas. Hoje, ele cursa a pós-graduação em Matemática e Linguagem pela UFPEL.
Mas não é apenas no campo acadêmico que Claudiomar construiu uma bela e sólida carreira. Apaixonado pelas tradições gaúchas, ele iniciou contato com o Movimento Tradicionalista desde cedo. Em 1989, associou-se ao CTG Raul Silveira. Menos de dez anos depois, em 1998, já era um dos mais empenhados diretoress da 21ª Região Tradicionalista, promovendo inúmeros eventos e, por conta de sua competência, recebendo vários prêmios.
Claudiomar na casa de Teixeirinha
Entre um animado baile de CTG e as salas de aula das duas escolas em que atua como professor (Escola Municipal Guido Timm Venske e Escola Estadual João de Deus Nunes), Claudiomar reserva parte de seu tempo para manter e ampliar uma outra paixão: sua coleção particular sobre Teixeirinha. Comprando ou mesmo ganhando material referente ao cantor, nosso fã de carteirinha já montou um dos maiores e mais importantes acervos particulares em homenagem ao "Gaúcho Coração do Rio Grande".
Entrevistado pelo Revivendo Teixeirinha, o professor relembra o início de tudo: "Meu primeiro contato, que lembro, foi pelos 5, 6 anos, quando pela manhã cedo meus pais ligavam o rádio e graças a Deus era "obrigado ouvir" a todo o vapor os programas, assim começou meu gosto pelas músicas e curiosidade em conhecer depois que cresci. Lembro dos anos seguintes, da abertura dos programas, dos diálogos do Teixeirinha e da Mary, da leitura das cartas, do anuncio dos shows, das propagandas, enfim de algumas musicas que eram rodadas. Minha mãe principalmente cantava pra mim algumas musicas dele, e ficaram gravadas em minha memória, algumas delas eu vim a conhecer na voz do Teixeirinha, 15, 20 anos depois e como foi bom resgatar a memória do que minha mãe cantava".
A coleção particular do grande fã
Da infância humilde até a atualidade, ele segue recordando saudosamente: "Tínhamos apenas um rádio de pilha, este era o único recurso tecnológico que dispúnhamos, do qual acompanhávamos a programação. Na época tinha ascensão outras duplas (Nelson e Janeti, Zezinho e Julieta, De Lima e Leninha, Carlos Cirne e Sonia Mara, Luiz Fernando e Maria Celoy, Milton e Almerinda, Zequinha Ferreira e Beatriz, Chara e Timbaúva, e muitos outros) que faziam certo sucesso e uns falavam sobre os outros, era muito legal a integração. Muitos deles tinham programas em outras rádios. Dos 12 aos 14 anos fui morar na cidade pra estudar, então deixei de ouvir os programas de rádio; Teixeirinha mudou de emissora também; houve a separação, enfim muita coisa ocorreu no começo dos anos 80. Mas até então eu não tinha nenhuma fita, nenhum disco dele, apenas cadernos com letras de músicas copiadas direto do rádio, com meses de trabalho. Quando voltei 2 anos pra o interior, em 84 e 85, passei de novo a acompanhar pelo rádio, quando em 85, aconteceu a morte dele. Lembro quando acordei, naquela sexta feira, dia 06 de dezembro, e ouvi os noticiários em todas as emissoras sobre o ocorrido do seu falecimento, as especulações das causas eram muitas, rádios transmitiam ao vivo os detalhes do velório, ao vivo e ininterruptamente, foi um dia longo".
Claudiomar, assim como a maioria dos fãs de Teixeirinha não teve a feliz oportunidade de conhecer o ídolo pessoalmente. No entanto, ele reforça que "ao analisar a sua obra, tenho a sensação de que o conheci e parece que o vejo no palco, animando e emocionando multidões".
Quando perguntado sobre o preconceito nutrido por algumas pessoas em relação a artistas como Teixeirinha e àqueles que o admiram, Claudiomar de Oliveira nega qualquer constrangimento: "Todos na minha cidade e em vários outros municípios da região, me identificam como fã fervoroso de Teixeirinha, me comentam detalhes e particularidades que ainda lembram, muitos se identificam como fãs também e me fazem muitos pedidos de músicas, principalmente as que não se encontram no mercado. Recebo muitas doações. Nunca me senti constrangido ao ouvir alguma ironia sobre Teixeirinha, o que raramente ocorre, pois quem me conhece sabe o quanto valorizo e levo a sério a sua obra, então o diálogo sempre vai pro lado da curiosidade, e me fazem inúmeras perguntas. Meus alunos todos sabem desta minha predileção, e noto o quanto uma grande porcentagem de jovens gostam ou tem curiosidade em saber quem foi Teixeirinha. Então me sinto muito a vontade em divulgar Teixeirinha" - comenta. Sobre a opinião de amigos e familiares ele revela: "Vêem-me como uma referência de ligação entre o ídolo e sua obra, no sentido que se precisam de alguma coisa sobre ele, o primeiro nome que surge pra auxiliar é o meu. Claro que nem sempre consigo atender, pelo fato de não dispor do que precisam, mas nunca pela falta de consideração de quem me procura. De certa forma minha família orgulha-se de poder contar comigo pra esta valorização, pois saliento que quase a totalidade deles, principalmente pais e tios, são todos fãs também".
Como bom fã de carteirinha, Claudiomar quer saber sempre mais sobre o "Rei do Disco". Para isso, ele mostra dedicação: "Já estive na casa de Teixeirinha, na frente, no saguão pra piscina, no pátio desta casa; no Cemitério da Santa Casa; na exposição 'Teixeirinha: 15 Anos de Saudade' em 2000, na Casa de Cultura Mario Quintana; em todos estes locais acompanhado pelo Teixeirinha Filho e Neto. Estive no Praça Teixeirinha em Passo Fundo, onde tem sua estátua. Também no local onde Teixeirinha tinha o 'Tiro ao Alvo', no inicio da carreira" - revela. E continua: "Tenho uma boa coleção de materiais referentes a Teixeirinha. Entre eles 71 discos diferentes entre Vinil e CDs, incluindo as regravações feitas após a sua morte. Possuo chaveiros, calendários de bolso e parede, propaganda de Erva Mate que eram usados nas paredes dos armazéns, o livro Teixeirinha, o Gaúcho Coração do Rio Grande, o livro Teixeirinha e o Cinema Gaúcho, o livro A Gaita Nua da Mary Terezinha. Dezenas de recortes de Jornais com reportagem ao longo do tempo. Cópias de jornais da época da separação e cobertura da morte de Teixeirinha. Encarte Especial da Revista 'Veja' de 1992. Revista Aplauso de 2002. Livrinhos com letras das músicas publicados nos anos 60 e 80. Revista em Quadrinhos 'Coração de Luto'. 10 filmes em VHS. Várias cartas que ele mandava pros seus fãs. Cópia da Revista 'Rainha' dos anos 70, sobre os acertos e desacertos com Flávio Cavalcanti. Mais de 600 músicas gravadas. Cartão Telefônico em sua homenagem. Muitas fotos em espécie ou digitalizadas. 6 discos de vinil da Mary Terezinha. Todos os discos em vinil e CD do Teixeirinha Filho. 20 e poucas fitas K7".
E já que o assunto é coleção, que tal sabermos qual o ítem mais antigo e mais importante de seu nada pequeno museu? "O primeiro LP, 'O Gaúcho Coração do Rio Grande' de 1961 e os outros dois compactos que usaram o mesmo cenário para as fotografias de capa. Quanto a importância fica difícil, pois cada obra tem uma particularidade, claro que algumas com mais enlevo, mas nenhuma passou desapercebida" - confessa Claudiomar.
Em meio a nossa entrevista, 3 perguntas de praxe e bem pessoais foram respondidas por Claudiomar. A primeira - qual a música de Teixeirinha de que ele mais gosto - ficou sem uma resposta única: "São várias, 'Querência Amada', 'Tropeiro Velho', 'Velho Casarão', 'Mocinho Aventureiro', 'Quase Pequei', 'Passo Fundo do Coração', enfim, são dezenas que aprecio com mesmo gosto" - afirma. Já sobre qual é o melhor disco e o melhor filme do "Gaúcho Coração do Rio Grande", ele foi mais preciso: "O Disco 'Último Adeus', pela qualidade da seleção de sucessos gravados" e "o filme 'Tropeiro Velho' que é o melhor deles, pela história envolvente, onde a mensagem que o mal não compensa, do valor da palavra empenhada, do orgulho ao ser magoado, pela leveza do texto e bom humor em vários momentos e principalmente pela possibilidade do perdão, independente que qual foi o erro, resgatando valores indispensáveis para a solidificação de uma família e resgate da cidadania".
Apesar de fã incondicional, Claudiomar considera Teixeirinha um fenômeno inexplicável: "Tem coisas que nem sempre se explica, na época do seu sucesso em vida, principalmente nos anos 60, até era de se entender pelo menos parte de seu sucesso, pelo grande mercado que existia, pelo talento indiscutível para compor e interpretar, pela boa influência da música sertaneja, pelo apoio que recebeu das gravadoras e emissoras do centro do país, pela ajuda que a crítica deu ao expor a sua obra e assim aguçar a curiosidade das pessoas em geral; enfim, artisticamente ele estava na hora certa, no local correto, fazendo um trabalho de agrado a todos. Hoje porém, o mito se preserva, e para os mitos não se consegue obter uma resposta lógica, apenas se aprende a conviver com ele. E é de certa forma inexplicável como Teixeirinha ainda vende tudo o que é publicado. Outro diferencial que ocorre é o elo de integração automática que acontece entre os fãs de Teixeirinha, que ao conversarem sobre ele, mesmo que seja a primeira vez. O diálogo dá a impressão que são velhos amigos. Só um artista com esta expressão pode proporcionar este tipo de manifestação e também se verifica a emoção que muitas pessoas que o conheceram são tomadas quando falam sobre algum fato que presenciou ao longo da carreira".
Quando perguntado sobre o que diria a Teixeirinha caso pudesse encontrá-lo, o professor tenta usar a imaginação: "Talvez ficasse extasiando apenas reparando seu talento sendo expressado no palco, seu profissionalismo ligado ao carinho que externava para os fãs. Talvez apenas agradeceria por toda a obra que tinha construído, pois ela foi praticamente completa. Talvez dissesse a ele que nunca esquecesse de agradecer a Deus, diariamente, pelo dom que a ele foi dispensado e que poucos na história da humanidade tiveram igual luz. Quanto a solicitar alguma composição, depende da época que tivéssemos este contato. Se fosse no inicio certamente que independente do tema seria atendido; se a conversa já fosse no final da carreira, acho que não haveria o que sugerir, pois acredito que todos os temas foram abordados com muita propriedade".
Claudiomar de Oliveira , este fã de carteirinha da mais alta envergadura, mostra-se sempre simpático quando o assunto é Teixeirinha. Por isso mesmo, não se furta em ler, participar e colaborar com o Revivendo Teixeirinha. E quando lhe é pedido que deixe uma mensagem final a todos que visitam e participam do blog, ele não poupa palavras: "Inicialmente, Chico, te parabenizo pela iniciativa, persistência e qualidade que tens mantido no Blog e agradeço pelo alimento cultural, saudosista e ao mesmo tempo atual da preservação da identidade artística de Teixeirinha, pois tem sido ponto de referência e reconhecimento a todas as gerações, daqueles que viveram paralelo ao sucesso de Teixeirinha e que com certeza relembram muitos fatos de repente já não tão claros em sua memória, e, ao mesmo tempo, à geração atual que está conhecendo agora Teixeirinha e que está sedenta de toda a informação disponível. O blog está cumprindo ao natural todas estas expectativas e torcemos para que continue assim. Agradeço imensamente o convite para compor este espaço e a oportunidade de compartilhar um pouco deste 'sentimento de fã', pois por mais que sejamos fãs e por mais histórias que tenhamos pra contar, sempre será apenas uma estrelinha, na grande constelação artística que Teixeirinha deixou; mas se cada fã externar um pouco da sua paixão, mais estrelas irão surgindo e com certeza esta constelação estará muito mais iluminada. Sugiro a cada um que já acessou este Blog, que divulgue a todos os seus contatos. Vamos ser multiplicadores deste que considero, conforme já expressei, a maior fonte de informações sobre Teixeirinha".
Com palavras como estas, só nos resta agradecer. Muito obrigado, Claudiomar de Oliveira, nosso fã de carteirinha!
1 comentários:
o professor Claudiomar é o maior admirador de Teixerinha que eu conheço!
E é mais do que merecido a carteirinha de fã número 1 dada a ele!!!!
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