DISCOMENTANDO: "Amos aos passarinhos" (1985)

>> 29 de set. de 2008


O LP registrado na gravadora Chantecler sob o número 2.74.405.160 não é um disco comum. “Amor aos passarinhos”, como foi batizado o long-play, é o 49º contendo músicas inéditas de Teixeirinha. Infelizmente, é também o último.

Falar no último disco de Vitor Mateus Teixeira é viajar até o ano de 1985 e encarar o final de um importante ciclo na música regional gaúcha. “Amor aos passarinhos” foi gestado durante aquele sombrio 85, quando Teixeirinha ainda estampava as manchetes dos jornais, ora envolvido no polêmico desmanche da dupla com Mary, ora recebendo mais um disco de ouro. O LP anterior (“Quem é você agora...”) havia alcançado grande êxito, ultrapassando as 100 mil cópias vendidas. Superá-lo era a missão para aquele meio de década.

Mas algo não estava bem na vida de Teixeirinha. Numa entrevista em fins de 1984, ele revelava estar 9 quilos mais magro. De fato, sua aparência denotava certo cansaço. O ritmo de shows, outrora frenético, se reduzira. Teixeirinha dava sinais de abatimento. Era hipertenso, sobrevivera a um enfarto e abusava do fumo. Perto dos 60 anos, era um homem fragilizado, mas não abandonava o trabalho. Mesmo que se sentisse exaurido, continuava produzindo.

Supõe-se que pelos idos de abril de 1985, Teixeirinha visitou os estúdios da Gravações Elétricas S/A (detentora do agora selo Chantecler) e realizou aquelas que seriam suas últimas gravações profissionais. Dali, sairia o long-play “Último capítulo”, cuja música homônima ocuparia faixa de destaque. “Último capítulo” era um fox, uma canção que – possivelmente – não foi gravada. É curioso pensar que o título do disco se adequaria absolutamente ao momento em que ele seria lançado, caso tivesse sido levado adiante. Aquele LP seria, de fato, o último capítulo da brilhante trajetória fonográfica de Teixeirinha.

Ainda não se sabe por que “Último capítulo” passou a se chamar “Amor aos passarinhos”. O que se sabe é que Teixeirinha tinha pretensões de lançar o long-play em fins de novembro, numa nítida estratégia para abarcar as vendas do Natal (semelhante atitude já havia sido tomada um ano antes, com “Quem é você agora...”). No entanto, a saúde do cantor ameaçou seus planos. Depois das gravações, ele começou a perceber que algo de grave estava por vir. Uma pequena mancha no lábio inferior de sua boca, o incomodava há alguns anos. Quando surgiram os primeiros diagnósticos sobre o caso, as notícias foram as piores possíveis: Teixeirinha estava com câncer.

Quando o tumor foi detectado, várias outras áreas do corpo de Teixeirinha já estavam contaminadas. O pulmão, um dos pontos mais afetados, o impedia de prosseguir a carreira. Durante estes meses, o cantor procurou todos os recursos possíveis, mas nada poderia lhe trazer esperanças. Em agosto, ele fez sua última apresentação na TV. Em outubro, cantou para 5 mil pessoas em Santa Maria e, intimamente, se despediu dos palcos. Recolheu-se nos altos da Glória e esperou o desenrolar de sua história.

Enquanto Teixeirinha morria lentamente, a Chantecler trabalhava em “Amor aos passarinhos”. O disco ficou pronto durante uma das internações do cantor, no Hospital Lazzarotto, em Porto Alegre. A gravadora enviou uma cópia do material para que ele ouvisse. Atento, escutou e aprovou o resultado final. Quando sua filha Betha chegou ao hospital para visitá-lo, ele teria dito: “Tu gostou da música dos teus irmãos?”. O cantor referia-se aos passarinhos homenageados na primeira faixa.

“Amor aos passarinhos”, a canção, é uma vaneira à base de gaita, violão, percussão e contrabaixo, instrumentos que unidos aos violinos e ao saxofone, compõem o bonito arranjo instrumental de todo o disco. A faixa 1 é uma mensagem ecológica, uma homenagem aos pássaros que tanto encantaram Teixeirinha em seus anos de morador do bairro da Glória. É uma composição que expressa os últimos grandes momentos do cancioneiro de Vitor Mateus Teixeira.

As quatro faixas seguintes são românticas. O bolero “Com pena de mim”, além de extremamente bem orquestrado, tem letra impecável. “Seis e dez da tarde” é outra composição de peso, pois traz à baila um dos maiores dons do compositor Teixeirinha: o talento para montar cenários e descrever momentos com perfeição através da música. “Querendo chorar”, música que ganhou atenção da cantora Adriana Deffenti em 2003, ganha um caráter emocional e pessoal grande no contexto do disco, pois traça um desabafo. “Mulher fingida”, um rasqueado, remonta as canções que fizeram parte de toda a carreira do cantor: românticas, de ritmo acelerado e de variação nas tonalidades muito bem definida. A última composição do lado A, “De peão a fazendeiro”, conta uma história com início, meio e fim (ou pé, barriga e cabeça, como diria o próprio rei do disco), a saga de um peão que ascende na hierarquia do campo e se torna fazendeiro (depois de ter casado com a filha do patrão).

O lado B de “Amor aos passarinhos” começa com “Já me cansei”, uma bonita canção romântica cuja parte alta denota toda a carga dramática alcançada pelo intérprete. “Querência e cidade”, a composição seguinte, é um xote, no mais alto estilo de Teixeirinha. Na minha opinião, é a última grande gravação alinhada ao gauchismo na carreira do cantor. “Momentos de nossa vida” e “Menina de trança” apontam em suas letras a questão da reflexibilidade sobre o passado mais distante. Mesmo assim, são belas canções.

No arremate do disco, duas composições chamam atenção. A primeira, “Gaita e violão”, foi plenamente tomada pelos ouvintes como um desabafo de Teixeirinha que estaria, nesta canção, lamentando a separação de Mary Terezinha. A letra de “Gaita e violão” bem que se encaixa na visão daqueles fãs e admiradores que acreditam na “morte por amor” de Teixeirinha. O problema é que a composição não foi composta com base no rompimento do casal. Uma prova disso está no fato de que a canção já havia sido gravada nos anos 70 pelo regionalista Jorge Camargo e até mesmo pela própria Mary. Teixeirinha apenas resgatou “Gaita e violão” de seus acervos.

Pelo menos até o momento não se pode afirmar o mesmo de “Respondendo aos amigos”, composição que fecha “Amor aos passarinhos”. Parece clara a referência a Mary nos versos “Os amigos me perguntam / Todo instante, a cada hora / Pela mulher que foi minha / Aonde foi, onde mora?...”. Entretanto, afirmar que esta composição é uma referência ao fim da relação entre o rei do disco e a “princesinha do acordeão” é precipitado.

“Amor aos passarinhos” traz na capa e contracapa um Teixeirinha envelhecido e abatido. Trajado à gaúcho, ele aparece cercado por alguns símbolos do Rio Grande do Sul, como o chimarrão e o pala nas cores da bandeira farroupilha. É, sem dúvidas, um arroubo de gauchismo numa carreira que não foi tão alinhada ao tradicionalismo puro quanto se faz entender hoje.

O último LP de Teixeirinha, segundo relatos, chegou às lojas no dia 5 de dezembro de 1985. O “gaúcho coração do Rio Grande”, no entanto, não viu o sucesso do disco. Na noite anterior ao início das vendagens, Vitor Mateus Teixeira se despediu deste mundo em seu quarto, na casa da Glória, em Porto Alegre. “Amor aos passarinhos” acabou sendo um disco inédito e póstumo de Teixeirinha, alcançando muito sucesso e sendo lembrado até hoje por fãs e ouvintes assíduos.

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PASMEM: “CORAÇÃO DE LUTO” É PLAGIADA EM PORTUGAL

>> 13 de set. de 2008


A canção “Coração de Luto”, grande sucesso de Teixeirinha, já foi gravada em diversos países, nas mais diferentes e esquisitas versões que se possa imaginar (prometo um texto sobre isso em breve, pois já tenho algum material). Tudo bem, a adaptação da letra e música são livres, desde que respeitados os princípios de originalidade.

Mas parece que não foi isso o que aconteceu lá em terras lusitanas. Eleito a “Jovem Revelação 2006” da música portuguesa, o cantor Leandro surgiu neste mesmo ano com seu primeiro álbum de “músicas originais”, compostas por um renomado produtor da música popular lusitana, chamado Nel Monteiro. Segundo o blog DiscoDouro, Leandro apareceu pela primeira vez no programa “Você na TV” (ITV) - se bem me lembro, a propósito, esta é a atração do polêmico João Kleber (ex-RedeTV!) em além-mar. Pois bem: Leandro teria figurado na televisão com o intuito de prestar uma homenagem a sua mãe (Ana Paula) e à avó (Zélia). Foi lá que ele cantou a composição “Meu coração está de luto”, que passou a fazer enorme sucesso a partir de então, constando como o “carro-chefe” de seu primeiro CD.

Não há a menor dúvida de que “Meu coração está de luto” é um plágio de “Coração de luto”. Os acordes iniciais são idênticos (apesar da tentativa não muito bem sucedida de se alterarem ritmo e instrumentação básica) e a letra não pode nem mesmo ser caracterizada como “adaptação”, pois versos foram suprimidos e remontados de forma a “disfarçar” a composição. Expressões como “dos desgostos que há no mundo” e “terra santa” substituíram de forma grotesca “o maior golpe do mundo” e “campo santo”, isso só para dar alguns pequenos exemplos. Como forma de despiste, o “compositor” Nel Monteiro pôs nos últimos versos a morte da avó do intérprete, uma nítida tentativa de dramatizar ainda mais a história.

Nem as adaptações em língua espanhola (muito boas, a propósito) tornaram “Coração de Luto” tão díspar. E o pior é que, segundo sites portugueses consultados, Leandro divulga “Meu coração está de luto” como uma história verdadeira e sua, uma homenagem às duas figuras mais importantes de sua vida. Bem que ele podia ter gravado a canção original... Ficava menos feio e não se carecia de adaptações que beiram o ridículo. Lembremos que ambas são composições de língua portuguesa.

Ah, antes do arremate, deixo a vocês o encargo de assistirem ao videoclip de “Meu coração está de luto”. Vejam e comparem!

Esta matéria é uma dica do amigo e colaborador Arnaldo Guerreiro, direto de Portugal.

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ERRATA: "Meu nome é Corisco"


Muito bem levantado pelo Celso um ato falho que cometi na última edição do "Discomentando", referente ao LP "Canta meu povo". A canção "Meu nome é Corisco" que saiu reeditada no LP "Teixeirinha canta com amigos" (Continental, 1994) não é cantava por Leonardo, conforme foi dito. Quem divide o dueto com Teixeirinha na versão mixada pela Continental é a dupla Zezinho e Julieta.


Leonardo divide a canção "Triste madrugada".


Obrigado ao Celso pela lembrança!

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REVIVENDO DE VOLTA!

>> 11 de set. de 2008

Depois de muitas semanas sem regularidade nas atividades do blog estou voltando. O motivo da minha ausência? Mudanças, afazeres do mestrado, dedicação à vida afetiva e péssimo gerenciamento de tempo.

Mas agora estou voltando à boa forma. Pra recuperar o tempo perdido, nesta semana e na próxima postarei os dois “Discomentando” que prometi. Hoje, já publiquei a análise sobre o LP “Canta meu povo”. Na próxima semana, é a vez de “Amor aos passarinhos”.

Junto à postagem desta semana, publico também uma série de emails que me chegaram sobre a composição “Maçambique de Branco”. Gostaria muito que todos lessem estas mensagens, pois elas são de caráter informativo e ajudam a esclarecer um equívoco que está ocorrendo com tal canção.

No mais, um grande abraço a todos os que apareceram por aqui nestes dias, desculpem pela demora e continuem acessando, pois pretendo seguir postando alguns “drops” aqui sempre que possível.

Chico

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ESCLARECIMENTO IMPORTANTE (sobre "Maçambique de Branco")

Em março de 2007, logo nas primeiras postagens do blog, publiquei uma matéria intitulada “Moçambique de Branco”, uma dúvida sobre a canção de mesmo título que aparece em várias páginas de letras e cifras sendo de autoria do compositor Teixeirinha. Pois bem, mais de um ano depois, recebi três e-mails que vieram de forma muito satisfatória a esclarecer o mistério. Vou reproduzir dois deles na íntegra, pois os considerei de muito profissionalismo e seriedade.

Primeira mensagem – recebida em 8 de setembro de 2008:

A Música Moçambique de Branco é de Cássio Ricardo e letra de Juarez Weber. Composta em 1998 ou 99 e participante da Tafona da Canção de Osório/RS no ano de 1999 e foi interpretada por Renato Júnior. Está registrada no CD do festival gravado pela ACIT. Tendo obtido o segundo lugar. Não sabemos por que, de repente aparece como de Teixeirinha ou como interpretada por ele. Não há justificativa para isso.

Fica claro que estão sendo feridos os direitos autorais, morais e conexos.

Estão sendo solicitados esclarecimentos junto à Sociedade Arrecadadora.

Maestro Paulo de Campos
Produtor artístico

Segunda mensagem – recebida em 9 de setembro de 2008:

Boa noite
Texto publicado na coluna minha Staccatos no dia 09.09 e a ser, no Jornal Revisão de Osório do dia 11.09.

http://www.cantadoresdolitoral.com.br/p/s/index.htm

Há que se ter cuidado

Constatamos com surpresa, que no Google.com, é mostrada por muitas e muitas vezes a música Moçambique de Branco (de Joarez Weber e Cássio Ricardo, interpretada por Renato Júnior e gravada pela ACIT no CD da Tafona de 1999) como se fosse de Teixeirinha. A música consta em vários sites de cifras sinalizando como artista o Teixeirinha. Não se sabe de onde surgiu esse equivoco. Repara-se, porém, que alguns integrantes dos grupos de danças do CTG Estância da Serra e de outros CTGs (inocentemente é claro, por desinformação) têm colocado imagens de suas danças no YouTube, não só de Moçambique de Branco, mas de várias outras músicas dos compositores daqui do Litoral Norte sem citar a autoria. Ora, isso dá margem para que os “mais espertos” facilmente desvirtuem as informações e desviem Direitos Autorais e Conexos para outrem. Há que se ter cuidado, muito cuidado! Nunca deve ser citada uma música ou outra obra artística na Internet ou em qualquer outro veiculo de comunicação ou mesmo outro lugar qualquer sem que sejam colocados os nomes dos autores e intérpretes. Alguém sempre sai “ganhando um bom dinheiro” com isso. Além de estar ferindo os Diretos Autorais e Conexos, são lesados também os Direitos Morais dos verdadeiros donos da obra.

Conseqüências e erros que podem se perpetuar

Além dos prejuízos morais e financeiros, esses equívocos podem dar margem a divagações e a erros, às vezes, irreparáveis. Ainda bem que não foi o caso do Historiador, mestrando do PPG-História da UFRGS, Chico Cougo, que desde 2004 realiza pesquisas sobre a obra de Teixeirinha, e apresenta em 17 de março de 2007, no seu blog Revivendo Teixeirinha, um texto de análise a respeito da música Moçambique de Branco ser do Teixeirinha, justamente por ter ela características diferentes de todas as outras obras do autor. Em nenhum momento ele afirma ser de Teixeirinha, pelo contrário, coloca em dúvida o que se supõe claro nos sites de cifras. Diz ele: “O Site indica o título da canção e sinaliza Teixeirinha como o artista (friso esta palavra, porque ela não especifica a autoria da letra, mas apenas quem a interpreta). Em meus arquivos e junto às pessoas consultadas, não há qualquer menção a esta música. Não sabemos em que disco ela foi gravada (se é que foi!), quando foi interpretada e até mesmo por quem ela foi cantada. Para completar o mistério, a música nos dá pouca margem de interpretação. Sua temática parece descrever algum ritual característico da cultura negra (que fique claro, estou apenas tentando interpretar a letra!). Não se sabe que ritual seria este e como Teixeirinha teria chegado até ele.”. Depois de mais algumas palavras, ele apresenta a letra original de Moçambique de Branco na integra.

Outros enganos da Internet

Muita coisa na Internet difunde erros grotescos. Isso aconteceu também com as crônicas Tipo Assim e Pai Invisível de Kledir Ramil, que em apresentações PowerPoint, rodaram o mundo inteiro pela Internet como se fossem de Luiz Fernando Veríssimo.

Sendo assim, finda-se o mistério sobre a canção que, na verdade, tem como título “Maçambique de Branco”. Gostaria muito de agradecer ao Paulo de Campos pela gentileza de apontar o equívoco que está ocorrendo com a letra da composição e pelo profissionalismo com o qual analisou a postagem do blog. Sendo assim, vamos frisar mais uma vez: “Maçambique de Branco” é de autoria de Cássio Ricardo e Juarez Weber e NUNCA foi gravada ou cantada por Teixeirinha, já que foi composta mais de dez anos depois da morte do cantor.

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DISCOMENTANDO: "Canta meu povo" (1977)


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A julgar pela discografia de Teixeirinha, o cantor estava um tanto quanto “sem paradeiro” em relação à sua permanência nas gravadoras, no final dos anos 1970. Em 1975, ele gravara o LP “Pobre João – Trilha Sonora do Filme” pela Continental. No ano seguinte, pela primeira vez desde 1961, o cantor acabou não lançando um disco com composições inéditas (o mercado fonográfico ainda respirava com a ajuda de aparelhos, em função da crise do petróleo que fez escassear a resina com a qual se produzia o vinil). Em 77, um caso raro: o Rei do Disco terminou o ano com três LPs inéditos, cada um gravado numa companhia diferente!

Um destes três discos, o de registro nº 1.07.405.111, foi produzido pela Continental e recebeu o título de “Canta meu povo” (o lado B foi intitulado “Fronteira Gaúcha”). É sobre ele que falarei hoje.

“Canta meu povo” é um daqueles LPs dos quais se sabe pouco. Ele não figura entre os mais fáceis de se encontrar nos sebos e talvez nem tenha alcançado uma expressiva vendagem, pois suas canções não são as mais conhecidas pelo público em geral. A meu ver, este disco se insere num momento de instabilidade na carreira de Teixeirinha, quando ele parece estar querendo se afastar um pouco do modelo romântico que marcou sua discografia na primeira metade da década de 70. Os arranjos, a variação instrumental e as próprias temáticas de “Canta meu povo” parecem denotar isso.

A primeira faixa do disco – que, aliás, dá nome ao long-play – é uma marcha. Nela, são utilizados os elementos da marchinha, com destaque para os instrumentos de sopro e o coro. A letra da canção, animada por um refrão (“Canta meu povo, canta / Não torne a vida em tristeza / Canta meu povo, canta / Canta meu povo que a vida é uma beleza...”) parece uma tentativa do cantor em passar uma mensagem de otimismo à população, num período em que o Brasil mergulhava numa grave crise econômica, espécie de enxaqueca do “Milagre Econômico”. Como mostrarei mais adiante, esta não foi a única marchinha deste disco.

A canção seguinte (“Meu nome é Corisco”) remonta as paisagens do campo e evoca a figura do gaúcho livre e “sem rumo certo”. É uma bonita canção de ritmo valseado e de instrumentalização marcada por gaita, violão e guitarra. Possivelmente seja uma das músicas mais conhecidas deste LP, já que foi reeditada em 1994 num disco em que Teixeirinha aparece acompanhado por outros cantores (uma montagem, onde a faixa contendo “Meu nome é Corisco” é cantada por Leonardo).

As quatro composições seguintes são de cunho praticamente auto-biográfico. A marcha “A ordem é essa” expressa boa parte do pensamento de Teixeirinha e das proezas das quais ele tanto gostava de se vangloriar (em especial a valentia e o dom de cantar em improviso). Já as duas canções seguintes (“Sou quem sou” e “Nossa árdua carreira”) falam da vida do cantor e dos trabalhos passados para que ele e sua companheira, Mary Terezinha, alcançassem o sucesso. Por fim, “Vinte de Setembro” traz uma homenagem ao “Dia do Gaúcho” e, ao mesmo tempo, conta a história de um desfile que teria acontecido em Passo Fundo. Curioso é notar que nos versos deste xote, Teixeirinha fala que “a prova do desfile / ta na capa do disco”. De fato, tanto na capa como na contracapa do LP, o cantor aparece trajado à gaúcho e à cavalo, numa paisagem campeira. Se aquela é uma imagem do tal desfile ou não, é informação que desconheço.

Virando o disco, temos um lado B representativo. Para cada canção de estilo mais “gauchesco”, temos uma composição ou romântica ou voltada ao humorismo. A instrumentalização continua como no lado A: guitarra elétrica em quase todas as composições, instrumentos de sopro em determinadas faixas e o eterno dueto gaita/violão, acompanhado de perto pela eficácia do contrabaixo e da percussão. As temáticas é que variam um pouco: “Marcelita”, a primeira faixa desta lado, é uma marchinha quase infantil sobre uma vaca que se apaixona pelo touro da vizinha; “Quem planta o bem, colhe o bem” é o único dueto deste LP e reflete sobre a carreira de Teixeirinha e Mary, mostrando que, no meio de tantas alegrias, muitos obstáculos se projetaram; “Fronteira gaúcha” (na minha opinião a melhor música desta obra) é mais uma homenagem de Teixeirinha à fronteira do Rio Grande do Sul com os países platinos; “Eu quisera” remonta o tema romântico, seguindo a linha de exaltação à mulher amada; “No braço do meu pinho”, composição de extremo talento, é mais uma tacada genial do compositor Teixeirinha na qual ele homenageia o violão, grande “canteiro” onde ele plantou tudo, da Mary ao “pé de imposto de renda”; por fim, “Conselho aos ébrios”, como o próprio nome já revela traz uma série de aconselhamentos àqueles que vivem em função do alcoolismo, na tentativa de fazê-los abandonar o vício.

“Canta meu povo” é um dos LPs nos quais as composições aparecem assinadas (não se sabe porquê) por Victor M. Teixeira, e não por Teixeirinha como na maioria dos discos. A meu ver, é apenas um detalhe. O disco de 1977 foi lançado em CD em 1995, sendo o terceiro volume da série “Dose Dupla” (Warner). No entanto, nesta reedição, as faixas “Vinte de Setembro” e “Conselho aos Ébrios” foram excluídas por problemas de cronometragem. A íntegra do LP só chegou às lojas em 2003, sendo o volume 27 da série “Gauchíssimo” (Warner/Orbeat). Atualmente, é um disco esgotado.

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MORREU WALDICK SORIANO (1933-2008)

>> 6 de set. de 2008


Morreu na última quinta-feira (04/09/2008) o compositor e cantor baiano Eurípedes Waldick Soriano, mais conhecido por Waldick Soriano. Nascido em 13 de maio de 1933, Waldick teve infância humilde e, quando adulto, trabalhou como lavrador e garimpeiro (entre outros ofícios). No início dos anos 1960 chegou a São Paulo, onde conseguiu chances no meio artístico, até alcançar o sucesso com o bolero "Eu não sou cachorro, não".


Waldick e Teixeirinha mantiveram contato durante os anos 1970. O gaúcho gravou "Paixão de um homem" (autoria de Soriano) em 1972. Antes disso, ambos protagonizaram uma ardorosa polêmica com o apresentador Flávio Cavalcanti. Em 1970, os dois foram até o programa de Flávio na Tupi do Rio. Lá, eles cantaram e defenderam sua produção artística, muito criticada pelo animador.


Waldick sofria de câncer de próstata e faleceu no Hospital do Câncer, na Zona Norte do Rio.

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VOLTANDO...

>> 1 de set. de 2008

Depois de quase meio mês de ausência (e vários problemas de ordem pessoal), estou retomando as atividades do blog. Em breve, novos textos e o Discomentando do mês!

Abraços a todos!

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