MUNDO TEIXEIRINHA - Edição 17

>> 27 de jan. de 2008

Depois de um atraso monumental (e justificado!), finalmente consegui acessar à Internet para atualizar o blog. De pronto, devo dizer que fiquei imensamente feliz com dois fatos: primeiro, as mensagens enviadas por várias pessoas me parabenizando pela formatura; segundo, o recorde de comentários e sugestões em uma única semana. Espero responder a todos!

Teixeirinha e Zico

Semana passada surgiu uma dúvida: o Antônio Cândido queria saber quais eram as gravações realizadas entre Teixeirinha e o cantor Zico. Eu informei que nada sabia sobre tais músicas e a conversa parou por aí. No entanto, rapidamente surgiram dois amigos dispostos a ajudar. O primeiro, Samuel, não apenas explicou quem é Zico, como apresentou as duas músicas que este cantor (integrante da dupla Zico e Zeca, sucesso dos anos 60) gravou com Teixeirinha. As duas canções foram lançadas num 78RPM de 1961, produzido pela Chantecler com o número CH-10.254. As músicas são: o xote “Decisão de quem ama” (autoria de Teixeirinha) e a toada “Surpresa do destino”. Quem quiser ouvi-las, vai o endereço: http://www.divshare.com/download/3544606-f07

Remasterizações

O Humberto Sousa, da Ilha da Madeira (Portugal), deseja saber se os LP’s “Carícias de amor” e “Aliança de ouro”, ambos da Copacabana, já foram lançados em CD. O caso destes discos é o mesmo do álbum “Última tropeada”. Ou seja, eles foram remasterizados pela ES Discos no início dos anos 2000, mas como houve algum problema de ordem autoral, os discos não são oficialmente reconhecidos. A coleção da ES já está fora de catálogo. Só pra lembrar: em breve vou disponibilizar uma listagem detalhada de todos os LP’s já lançados em CD.

MP3

Os amigos Almir e Juliano Cardoso citaram a possibilidade de trocas das músicas em MP3 entre os participantes do blog. Devo avisá-los de que, apesar de entender a vontade de todos em possuir as músicas, não posso incentivá-los a tal prática, pois – além de crime – isso infringe meus direitos e deveres de pesquisador, o que é ruim para todos nós. Evidentemente, não posso proibi-los de trocarem as canções, mas também não posso permitir que o blog sirva como meio para isso. Espero que entendam.

Mary

A Janice pergunta se eu possuo o endereço da Mary. Infelizmente, ainda não tenho, mas sei que ela se encontra muito bem e que continua amando a todos os seus fãs. Espero conseguir em breve algumas entrevistas com ela!

Entrevistas

O Tales deixou uma mensagem pedindo entrevistas de Teixeirinha. Por ora, não posso adiantar muito, mas assim que a pesquisa de mestrado tomar um fôlego, publicarei alguns trechos de entrevistas que possuo. Esta será mais uma das novidades do blog a partir de março!

Há...há...há...

O Juliano Cardoso perguntou onde pode encontrar a música “Há...há...há...”. A vaneira está no LP “Doce amor” (Copacabana, 1970). O disco não é encontrado em CD.

Meu ex- amigo

O Plínio Meganon pergunta a quem foi dedicada a música “Meu ex-amigo” (“Meu ex-amigo lamentas / por não ter minha amizade...”). Ainda não existem certezas quanto a isso, mas especula-se que ela tenha sido escrita por Teixeirinha em resposta a Gildo de Freitas ou a Jorge Camargo. Eis mais um dos mistérios que envolvem estes nomes...

Conversa fiada

O Rafael Luiz pergunta se a canção “Conversa fiada” foi dedicada a Teixeirinha ou ao Gildo de Freitas. Confesso que fiquei na dúvida, pois não conheço tal composição e nem sei a que repertório ela pertence. Se alguém souber, ajudem-nos!

Fã de carteirinha

A edição de março do “Fã de Carteirinha” está já está sendo preparada. Para a próxima matéria, escolhi a Rozélia Baptista (por isso quero que ela mande o e-mail para chicocougo@gmail.com). Quem quiser participar, pode deixar uma mensagem também, pois a matéria de maio ainda não tem o personagem principal!

“Querência Amada” com Mary?

O Luiz Fernando postou por aqui uma dúvida interessante: existe uma versão da música “Querência amada” onde Mary Terezinha aparece cantando? A dúvida tem muito sentido: em várias menções ao disco “Aliança de ouro”, vemos o famoso “participação de Mary Terezinha” logo ao lado do título deste xote. Na canção, Mary não aparece em momento algum no vocal. Contudo, tenho uma teoria: possivelmente, a tal participação refira-se ao acompanhamento da cantora em todo o disco. Por algum motivo, entretanto, a frase ficou próxima ao título da música na capa do LP e acabou sendo relacionada com a composição. Se alguém souber algo que desminta esta tese, anuncie por aqui!

“Nova série” = “Popularidade”

A Fernanda Athayde pergunta se o novíssimo CD de Teixeirinha na coleção “Nova Série” (Warner, 2007) é o mesmo disco “Popularidade” (Warner, 2002). Realmente, não sei, mas suponho que sim, pois as músicas são as mesmas e estão na mesma ordem, até onde me consta.

Dúvidas

O Mário Azevedo pergunta onde se encontra a música “Gaúcho mulherengo”. Este xote está no álbum “Teixeirinha no cinema” (Chantecler, 1966). Em CD, pode ser encontrado no número 15 da Série Gauchíssimo (Orbeat/Warner, 2002).

“Adeus Carmen Miranda”

O Juliano Cardoso pede a letra e informações sobre a música “Adeus Carmen Miranda”, feita por Teixeirinha em homenagem à pequena notável. A composição foi lançada no LP “Saudades de Passo Fundo”, em 1962. Este LP foi remasterizado, transformando-se no 12º da Série Gauchíssimo. É um belíssimo tango cuja letra diz o seguinte:


No dia cinco de agosto
Já faz anos, foi ouvido
Uma notícia chegada
Lá dos Estados Unidos

Meu coração nesta hora
Ficou triste, aborrecido
Por saber que nossa Carmen
Miranda tinha morrido

O Brasil foi abalado
Foi profunda a sua dor
Adeus, rainha do samba
Morena da nossa cor

Morreste longe de nós
Quanto te demos valor
De vez em quando o Brasil
Perde um dos ‘melhor cantor’

Carmen, rainha do samba
Até pros americanos
Foi a procura de glória
Lá ficou dezesseis anos

Quando a morte, traiçoeira
Quis lhe dar os desenganos
Ele veio no Brasil
Despedir dos conterrâneos

Lá pros Estados Unidos
Carmen Miranda voltava
Que nossa Carmen morria
O Brasil desconfiava

Voltou pra buscar a morte
Que tão longe lhe esperava
E no fim de poucos meses
Morta no Brasil chegava

Dia doze de agosto
Chegou, pelo avião
O corpo de nossa Carmen
Deitado sobre um caixão

Nós brasileiros ‘chorava’
Surpreendido de emoção
A baiana brasileira
Só deixou recordação

Foi morar com Chico Alves
No campo São João Batista
São duas ‘cruz’ por lembrança
Que de longe a gente avista

No Brasil e no estrangeiro
Ela foi maior artista
Adeus, ô Carmen Miranda
Adeus, baiana sambista


“Catuaba com Amendoim canta Teixeirinha”

O Mário Azevedo pede informações sobre o CD “Catuaba com Amendoim canta Teixeirinha”. Confesso que há tempos estou devendo uma matéria sobre este disco (que não possuo, aliás). Assim que coletar maiores informações, faço o texto. Por enquanto vou deixar aqui na lista de ótimas sugestões!

“Repente”

O Felipe Negreiros pergunta qual o nome da música em que Teixeirinha pede quatro palavras para a platéia e, em seguida, começa um improviso. Esta composição foi gravada com o nome de “Repente”, no disco “Teixeirinha Show”, de 1963. O LP será analisado no próximo “Discomentando”, ainda neste mês. Por enquanto, te adianto o seguinte: além de sol, cachaça e amor, Teixeirinha teve que rimar também com a palavra aleijado.

Agradecimentos

Por fim (ufa!), os agradecimentos da semana, deixando o meu mais profundo abraço a todos os que aqui escreveram desejando sorte e me parabenizando pela formatura que ocorreu na sexta, 25/01. Nominalmente, deixo meu muito obrigado para: Jaison, Samuel, Almir, Antônio Cândido, Humberto Souza, Gabriel Lopes Pereira, Juliano Cardoso, Keche, Plínio Meganon, Rafael Luiz, Julio Pedro Martins, Rozélia Baptista (me manda o e-mail!), Luiz Fernando Durante, Tiago Sene (em breve, a matéria sobre a Dona Zoraida), Fernanda Athayde, Mário Azevedo, Felipe Negreiros, Arnaldo Guerreiro, Nicole Reis, Betha Teixeira e Cezinho. Tudo de bom a vocês!

O gaúcho Teixeirinha

Há alguns meses os amigos Gabriel Lopes Pereira e Nilton José Tavares pedem uma matéria falando sobre a vida gaúcha de Teixeirinha. Confesso que não escrevi antes por total falta de material sobre o assunto. Contudo, de umas poucas semanas pra cá, começaram a fervilhar fotos e informações sobre o tema. A matéria de hoje é apenas a primeira de algumas que pretendo realizar com o passar do tempo. Por questões de tempo, o texto ficou pequeno e sem o mesmo brilho de alguns outros, mas pouco a pouco vou coletando material e escrevendo mais sobre o tema (em breve um super texto sobre o famoso “Rancho do Capivari”). Mesmo assim, acho que vão gostar!

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O GAÚCHO TEIXEIRINHA


Teixeirinha era um homem nascido na zona rural. Mais do que isso: ele trabalhou em granjas, pequenas fazendas e – mesmo depois de famoso – não abandonou os municípios do interior (principalmente os ligados à agricultura e pecuária), onde se apresentava regularmente.

Erroneamente, muitos não consideram Teixeirinha um homem do campo. Os que assim pensam, geralmente atribuem tal título ao também regionalista Gildo de Freitas. Apesar de Gildo estar mais em contato com o meio rural, não se pode dizer que Victor Mateus Teixeira fosse simplesmente um homem urbano.

A prova cabal de que Teixeirinha ligava-se (e muito) às tradições campeiras está nos próprios hábitos do cantor. Famoso, o “Rei do Disco” construiu, em meados dos anos 1960, sua conhecida casa no bairro da Glória, em Porto Alegre. Naquela década de 60, a capital gaúcha ainda não era tão populosa e a região onde se situa a casa de Teixeirinha mais se ligava à zona rural do que à cidade, propriamente dita. Por conta disso, o cantor dividiu o terreno de sua residência em duas partes: na da frente, construiu a mansão; nos fundos (numa área devidamente cercada, cortada por um riacho), montou um pequeno sítio.

A chácara urbana de Teixeirinha ostentava “todas as espécies de frutas silvestres”, como, exageradamente, descreveu o folclorista Dimas Costa, quando por lá esteve. Além disso, no campo, Teixeirinha criava galinhas, bovinos, faisões, porcos e até um veado chamado de “Bambi”, descrito por Dimas como “a vedete do pequeno zoológico”.

Possivelmente, o “rancho urbano” de Teixeirinha – apesar dos 13.000 m² - tenha ficado pequeno para os planos do cantor. Por isso, com o passar do tempo, ele adquiriu três fazendas (estas sim, em zona rural): em Passo Fundo, Osório e Capivari. Sobre as duas primeiras propriedades não se conhece muito – da fazenda em Osório sabe-se que ela foi cenário do filme “A quadrilha do Perna Dura”. Já das terras em Capivari, conhecemos mais.

O “Rancho do Capivari”, como ficou conhecida a fazenda de Teixeirinha, era uma propriedade de 170 hectares, localizada no município de Capivari do Sul, vizinho à Viamão. Nas terras – que, devido à infinidade de material que tenho, serão tratadas num outro texto – o “Rei do Disco” chegou a possuir um rebanho com mais de 500 cabeças de gado, além de alguns cavalos de raça – outra paixão do artista.

Aliás, falando em cavalos, são os eqüinos uma outra marca registrada do gauchismo de Teixeirinha. Para que se tenha uma idéia, além da emblemática “Tordilho Negro”, o cantor fez várias outras canções falando dos pingos. Ficaram famosos, entre outros, o “lindo pingo do pêlo bordado” (citado em “Vinte de Setembro”), o “cavalo zaino” (de “Amor com uma condição”), o “cavalo preto” (de “A bravura do peão”), o “pingo tubiano” (de uma música homônima), etc.

Nas fazendas e ranchos de sua propriedade, Teixeirinha provava da vida campeira. Praticava a montaria, pescava nos açudes e – a levar como verdade algumas de suas canções – vez por outra se arriscava em gineteadas. Usava com freqüência e até defendia o traje de gaúcho. Sabia detalhes da vida no campo e os descrevia em suas composições. Gostava das histórias que só o interior conta e não se furtava em citá-las em filmes e músicas. Enfim, era, acima de tudo, um gaúcho!

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AVISO

>> 23 de jan. de 2008

Caros amigos, com grande orgulho anuncio a vocês que a matéria desta semana irá atrasar em um ou dois dias. Sim, isso mesmo! O motivo do orgulho? É que o blogueiro aqui estará envolvido nas festividades da outorga de grau na Universidade Federal do Rio Grande. Finalmente receberei o título oficial de historiador!

A matéria desta semana - um pedido do Gabriel Lopes, sobre a vida gaudéria de Teixeirinha - já está quase pronta e, possivelmente, será postada no sábado (a formatura é na sexta e a festa é na madrugada pra sábado). Até lá, juntem suas dúvidas, sugestões e críticas, pois responderei uma a uma!

Um grande abraço a todos e até sábado!

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MUNDO TEIXEIRINHA - Edição 16

>> 18 de jan. de 2008


Vem chegando a terceira semana de janeiro e as férias começam a ir embora. Enquanto elas não deixam o “último adeus”, vamos a mais um “Mundo Teixeirinha” com tudo o que de importante aconteceu nesta semana aqui no blog!

Zico?

O amigo Antonio Candido deixou uma mensagem pedindo informações sobre duas músicas gravadas por Teixeirinha em dupla com “o Zico”. Confesso que desta vez não tenho qualquer resposta e nem mesmo sei de que Zico se trata. Mas prometo que irei à cata destas informações!

Videolar.com

A dica foi dada pela Fernanda Athayde e merece ser repassada. No site http://www.videolar.com/ encontram-se 11 novos CD’s remasterizados de Teixeirinha. Segundo o site, a série é de 2007 e foi lançada pela Warner. Fazem parte da coleção os seguintes títulos: “O canarinho cantador”, “Canta meu povo”, “Saudades de Passo Fundo”, “O gaúcho coração do Rio Grande”, “Assim é nos pampas”, “Um gaúcho canta para o Brasil”, “O gaúcho coração do Rio Grande, vol.4”, “Teixeirinha canta com amigos”, “Teixeirinha no xote, vol.2” e “Nova Série – Teixeirinha”. Os dois últimos são novidades em CD. Além destes, consta ainda o CD “Milonga da Fronteira”, que já está esgotado. Falando francamente, me parece que esta coleção é apenas uma boa e louvável estratégia da Warner para trazer ao seu catálogo títulos que já não se encontram mais à venda desde que a “Série Gauchíssimo” chegou ao fim. Se for, merecem nossos parabéns!

Chegando de longe

O Luiz Fernando Durante perguntou quais são as músicas do LP “Chegando de Longe” (Chantecler, 1983). São elas: (1) “Chegando de longe”; (2) “Granfino nojento”; (3) “Um passo errado”; (4) “Minha vingança”; (5) “O rei do improviso”; (6) “De peão a capataz”; (7) “Apenas uma flor”; (8) “Amantes”; (9) “Fonte de beleza”; (10) “Vontade de te amar”; (11) “Revoltada”; (12) “Um susto na morena”. É um disco pouco conhecido e não foi remasterizado.

Tragédia no circo

Ainda o Luiz Fernando pergunta sobre do que trata a canção “Tragédia no circo” (lançada num 78rpm, em 1963, e no LP “Gaúcho autêntico”, em 1964). Há tempos quero contar melhor a história desta milonga, mas ainda não me detive sobre o assunto. Resumidamente, é uma homenagem de Teixeirinha às vítimas de um grande incêndio criminoso ocorrido em 63, num circo na então capital carioca, a cidade de Niterói. Há cerca de um ano o caso foi remontado no programa “Linha Direta”. Registrei algumas informações e, em outro momento, trago a vocês mais detalhes.

Jornal Agora

O Jornal Agora (diário de Rio Grande/RS) publicou nesta semana (14/01) o texto “No coração do Rio Grande”, de minha autoria. O pequeno artigo ocupou toda a página 8 do diário e veio ilustrado por três imagens. O texto fala da importância de Teixeirinha para a região de Rio Grande, minha cidade natal. Gostaria de agradecer à direção do jornal Agora pela dedicação e carinho com que trataram o material enviado.

Agradecimento especial

Gostaria de manifestar um agradecimento especial ao amigo Sandro Keche, sempre preocupado com minha situação tanto profissional, quanto pessoal. Apesar das mensagens do amigo, insisto que meu trabalho é feito sempre com esforço e boa vontade, e que atitudes como a sua manifestam o quanto ainda existem pessoas preocupadas com o próximo. Valeu pela força de sempre, Keche!

Agradecimentos

Quero agradecer a todos os que passaram pelo blog nesta semana! Nominalmente, aos que deixaram comentários: Luiz Fernando Durante (um abraço!), Fernanda Athayde (sua sugestão de texto já está aí!), Antonio Candido (volte sempre!), Nilton Tavares (grande abraço, amigo!), Sandro Keche, Arnaldo Guerreiro, Gelson Pereira e Rozélia Baptista (respondi suas dúvidas numa edição extra do “Mundo” e preciso falar contigo!).

E fiquem agora com o texto da semana: AS SIGLAS DA CONFUSÃO, uma sugestão da Fernanda Athayde, sobre a remasterização dos discos de Teixeirinha e os “rolos” envolvendo gravadoras e direitos autorais. Grande abraço a todos!


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AS SIGLAS DA CONFUSÃO


O leitor com idade acima de 20 anos ainda deve se lembrar de quando existiam os bolachões, os discos de vinil geralmente contendo doze músicas (seis de cada lado), que eram guardados com todo o cuidado para que não arranhassem. O tempo passou, a tecnologia chegou e o vinil desapareceu. Para substituí-lo, chegou o CD, um pequenino e poderoso disco, capaz de armazenar muitas músicas a mais do que o velho LP. Poucos anos depois, outra novidade: o MP3, formato imensamente menor e mais prático do que todas as mídias anteriores. Com ele, a música pode ser transportada para qualquer lugar sem transtornos. Só ele permite que canções viagem pela Internet e que um único CD armazene a discografia inteira de um grande cantor.

Mas tanta evolução tem seu preço. Repetidamente vitimada pela pirataria e até mesmo pelos descuidos das indústrias fonográficas, a música (em especial a antiga) muitas vezes se perde, se altera e fica sem significado. Somente alguns privilegiados artistas têm sua memória musical plenamente preservada e, geralmente, são aqueles que vendem milhões de cópias no âmbito nacional e, preferencialmente, no internacional. Carmen Miranda, a pequena notável que revolucionou a história do disco no Brasil, é uma destas campeãs de vendagem em qualquer época e local. Roberto Carlos, o rei, também.

E Teixeirinha? A primeira vista, esta pergunta parece fácil. Indiscutível sucesso de vendas, o “Rei do Disco” continua sendo um prato cheio para a indústria fonográfica. Apesar disso, infelizmente, os diretores e executivos das gravadoras parecem não crer plenamente no potencial do cantor.

Em 1993, quando o CD ultrapassou o LP no número de cópias vendidas, Teixeirinha já era morto. Mesmo assim, no ano seguinte, um disco do cantor, intitulado “Os grandes sucessos de Teixeirinha”, conseguiu o histórico feito de receber sucessivamente o Disco de Ouro e o Disco de Platina, prêmios que representavam 100 mil e 250 mil cópias vendidas, respectivamente. O CD, lançado pela Warner Music do Brasil, mostrou aos executivos da gravadora que eles dispunham de uma lucrativa preciosidade: quase 70% dos discos inéditos lançados por Teixeirinha em vida pertenciam ao acervo da empresa.


A Warner se apressou em aquecer suas vendas com um produto cujo lucro era praticamente total (pois a gravadora não despenderia de nenhum centavo na contratação de músicos e arranjadores, já que os discos estavam gravados). Já em 1995, chegavam às lojas os primeiros “Dose Dupla”, discos que reuniam dois LP’s num único CD. Paralelas a estas primeiras remasterizações, a Warner Music lançaria também pequenas coletâneas diversificadas, como “Milonga da Fronteira” e “Popularidade”. Um outro filão da multinacional foi o disco “Teixeirinha canta com Amigos”, um trabalho de montagem utilizando apenas a voz do “Gaúcho Coração do Rio Grande”, que foi digitalmente agregada a novos arranjos e vozes de artistas atuais, como Gaúcho da Fronteira e o grupo Os Serranos.


A Warner Music do Brasil, talvez graças à presença de Braz Baccarin – entusiasta e fã de Teixeirinha, que atua como conselheiro da multinacional – tem por hábito lançar pelo menos uma coletânea com músicas de Teixeirinha por ano. Como já vimos, fonogramas (as gravações originais das músicas) não faltam à empresa. Sua concorrente em potencial, a também internacional EMI (que detém a marca Sony Music), é dona dos aproximadamente 30% restantes da discografia de Teixeirinha. Embora dispute acirradamente a liderança pelo mercado fonográfico brasileiro, a EMI é visivelmente menos engajada na difusão da obra do cantor.

Dona de um poderoso cast, a EMI costuma ser mais seletiva quando o assunto é remasterização. Nos anos 1990, quando a maioria das gravadoras brasileiras ou pediu concordata, ou foi vendida, a empresa alemã não poupou esforços para arrematar os acervos de quem ia saindo do mercado. Aos poucos, seus porões foram se enchendo dos discos de Ângela Maria, Paulo Sérgio, Agnaldo Timóteo, etc. Embora comprando algumas verdadeiras relíquias, a EMI tinha seu interesse debruçado mesmo nos discos que consagraram os artistas da Jovem Guarda. Cuidadosamente remasterizados, no fim da década de 90 os sucessos do “iê-iê-iê” eram novamente disputados nas lojas de discos. Os “bolachões” de menos prestígio (dentro de uma concepção que visa desmerecer os artistas verdadeiramente populares), tiveram seus projetos de digitalização engavetados e, aos poucos, apodrecem em galpões.


Apesar do desleixo, a EMI não pôde ficar quieta ante o sucesso da Warner. Em 1999, a gravadora delegou alguns profissionais para um novo projeto, as séries “Raízes Sertanejas” e “Raízes dos Pampas”. Sistematicamente, foram remasterizadas canções de Tonico e Tinoco, Chitãozinho e Xororó, Cascatinha e Inhana e, para a coleção gaúcha, preciosidades como Alemãozinho da Acordeona, José Mendes, Francisco Vargas, Jorge Camargo, Zezinho & Julieta e, evidentemente, Teixeirinha – que, devido ao vasto repertório, mereceu dois CD’s da série.

“Raízes dos Pampas” foi uma das tentativas mais sérias já empreendidas pela EMI com relação aos fonogramas antigos. O sucesso dos CD’s foi tanto que os de Teixeirinha permanecem em catálogo até hoje. Embora tenham sido remasterizadas cerca de 50 músicas (de um total de mais de 100), foi graças à coleção, que sucessos como “Tropeiro velho” e “Querência amada” voltaram às prateleiras das lojas.

Mas, apesar das coleções, ainda faltava uma remasterização séria, capaz de digitalizar na íntegra LP por LP de Teixeirinha; e isso tanto na Warner, quanto na EMI. Pois em 2001, um projeto com ares quixotescos ousou realizar parte da tarefa. Em Porto Alegre, Adiel Macedo de Carvalho e Eloi Soares da Silva recém haviam fundado a E.S. Discos e Produções Artísticas, mais uma das tantas pequenas gravadoras que existem. Talvez tentando capitalizar o empreendimento, os dois resolveram relançar LP’s de Teixeirinha gravados pela extinta Copacabana, em CD. Vale lembrar que as músicas destes discos pertencem justamente à referida EMI – que comprou todo o acervo da Copacabana.

Em 2002, a partir de um trabalho de qualidade duvidosa (e que hoje gera polêmicas suspeitas), a ES Discos fustigou o mercado com mais de 15 CD’s inéditos de Teixeirinha. A maioria dos discos foi remasterizada de forma intacta, mas alguns (quiçá para que se tornassem mais atrativos) ganharam “faixas bônus”. Nas capas, apesar da manutenção das fotos originais, foram alterados os caracteres e um dos discos teve seu título modificado de “Norte a Sul” para “Flor Gaúcha”. Em suma, apesar de valiosa por ter sido a primeira tentativa real de remasterização completa de LP’s, o empreendimento da ES Discos em não raras vezes despertou desconfianças e, mais do que isso: as cópias atualmente não são reconhecidas como originais nem pela EMI (apesar de que os discos trazem o logotipo da Copacabana), nem pela Editora Internacional Teixeirinha. Ou seja, oficialmente, somente algumas músicas dos 16 LP’s de Teixeirinha na Copacabana foram lançadas em sistema digital.

Quando os discos da ES saíram de catálogo (possivelmente devido a alguma batalha judicial) a Galpão Crioulo Discos, pertencente à gravadora Orbeat, do Grupo RBS, decidiu lançar em CD os LP’s de Teixeirinha gravados pela Chantecler. Estes discos, entretanto, passaram a pertencer à Continental em 1978 e, mais recentemente, à Warner Music. Então, um acordo entre as marcas foi engendrado e, em 2004, chegava às lojas de todo o Brasil a “Série Gauchíssimo”, com discos nunca antes remasterizados tanto de Teixeirinha, quanto de Gildo de Freitas. Trazendo itens mais raros e produzidos com mais qualidade do que os discos da ES, a coleção da Warner fez tanto sucesso que os produtores resolveram amplia-la dos iniciais 15 discos para 26 títulos (incluindo apenas Teixeirinha!). Foi graças à “Série Gauchíssimo” que grande parte do público brasileiro entrou em contato novamente com a obra do “Rei do Disco”.

Não se sabe bem o porquê, mas até hoje a EMI ainda não se dignou a seguir o caminho da Warner. Apesar de lançada pela ES, a discografia de Teixeirinha na Copacabana não é conhecida pela maior parte dos fãs do cantor. Se o acervo da Copacabana pertencesse à Warner, a coleção “Gauchíssimo” certamente seria maior. Como isso não ocorre, só resta aos colecionadores apelar para a compra de discos de vinil ou para a troca de músicas via Internet. E é aí que entra em cena o MP3. Não é segredo (e muitos sabem disso) que cerca de 500 músicas de Teixeirinha podem ser encontradas em programas que compartilham arquivos e servidores que disponibilizam todo tipo de conteúdo. A Fundação Teixeirinha – e sua extensão, a Editora Internacional Teixeirinha – são terminantemente contra a troca de músicas na rede mundial de computadores. Entretanto, para os internautas – que não vêem outra forma de possuírem canções consideradas perdidas – só resta apelar para tal via. Além do mais, alguns LP’s de Teixeirinha – geralmente os mais difíceis de se encontrar, mesmo em vinil – tiveram poucas ou nenhuma de suas músicas lançadas em CD. São os casos, por exemplo, dos discos “Teixeirinha interpreta” (1963), “Novo Som de Teixeirinha” (1977), “Rio Grande de Outrora” (1981), “10 Desafios Inéditos” (1982), “Chegando de Longe” (1983) e de algumas trilhas sonoras dos filmes.


Coletâneas variadas como a série "Bis Sertanejo" (EMI) ainda são as favoritas pelas gravadoras

Muitos aficionados, que não vêem perspectivas de que estes e outros LP’s sejam lançados em breve, têm apelado para soluções próprias: munem-se do equipamento necessário e fazem eles próprios a remasterização dos discos. Daí para a difusão dos fonogramas entre os fãs é um passo.

Ao final, algumas perguntas ficam como moral da história: como obter músicas que não foram oficialmente remasterizadas sem infringir a lei dos direitos autorais? Os fãs que compartilham músicas entre si, sem fins comerciais, devem ser considerados criminosos? E o que fazer, então, para que as gravadoras ouçam os apelos dos fãs e ponham de volta nos catálogos os discos antigos? Será que ainda poderemos adquirir uma coleção verdadeiramente digna do talento e da primorosa história de Teixeirinha? E onde fica, afinal, aquela antiga máxima “Disco é Cultura”?

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MUNDO TEIXEIRINHA - Edição Extra

>> 12 de jan. de 2008

Eu tinha certeza de que, mais dia, menos dia, isso iria acontecer. Pois é, ontem - enquanto fazia o "Mundo Teixeirinha" - deixei escapar um pedido da Rozélia Baptista. Ela quer saber qual é o LP que aparece na imagem abaixo (que foi originalmente publicada na semana passada, na estréia da sessão "Fã de Carteirinha").




Bem, o LP em questão é o "Chegando de Longe", um disco lançado em 1983 pela gravadora Chantecler. Curiosamente, como se pode observar na imagem abaixo, na capa do long-play aparecem o cantor e Mary, só que em fotos separadas (a dela como se estivesse em um porta-retrato). Outro curiosidade: este é um dos poucos LP's em que ao invés do nome "TEIXEIRINHA" aparece escrito "TEIXEIRINHA e Mary Terezinha". Foi o último LP dos dois antes da separação.


Dúvida respondida, Rozélia?

(Rozélia, se puderes, mande um e-mail para chicocougo@gmail.com, pois preciso entrar em contato contigo!)

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MUNDO TEIXEIRINHA - Edição 15

>> 11 de jan. de 2008

Semana movimentada no blog. Vários recados e uma série de pedidos pra atender. Então, vamos lá!

Vontade de amar

O Gabriel Lopes Pereira pediu a letra da música “Vontade de amar”. A canção foi gravada em 1983, no LP “Chegando de longe” (não remasterizado) da Chantecler:


*

Meu bem, me diga onde começa esse mar
Também não sei onde ele vai terminar
Este oceano majestoso, onipotente
Não é maior do que a vontade de te amar

O infinito ninguém sabe onde termina
Não há distância que alguém possa comparar
O que eu digo pode parecer loucura
É bem maior a vontade de te amar

Não,
Nada é maior que todo o meu amor
O próprio sol não tem maior calor
Com que eu possa esse amor comparar

*

Vou apontar os teus defeitos, meu amor
És a diabinha do inferno do meu lar
Tu me provoca, me judia, faz horrores
E mais aumenta a vontade de te amar

Mas, de repente, tu te torna boazinha
Me abraça e beija os meus lábios sem parar
Esqueço tudo o que antes me fizera
E multiplica a vontade de te amar

Não,
Até parece que somos imperfeitos
Te amo mesmo com todos defeitos
Que faz o mundo até me criticar

*

Meu grande amor, amor maior da minha vida
Tu me machuca, mas não quer me abandonar
Também prometo de ir embora, mas não vou
Por que aumenta a vontade de te amar

Já entendemos, o nosso amor não tem fim
Pra crescer mais, comecei a revidar
Já nos chamaram casalzinho sem-vergonha
Aumentou mais a vontade de te amar

Não,
Ninguém conhece esta minha dona
Diabinha linda, fecha esta sanfona
Que nos meus braços tu vai desmaiar

[Falado]
“É só fechar a porta... Há, há, há!”



Milonga

A Taline Cunha perguntou onde se encontra a bonita canção “Milonga”. Seguinte, Taline, a “Milonga” está no LP “Sempre Teixeirinha”, lançado pela Continental em 1973. Recentemente, em 2004, este disco foi remasterizado pela Warner / Galpão Crioulo, na série Gauchíssimo (ele é o número 30 da coleção). Pelo que me consta, estes discos saíram de catálogo no início de 2007, mas algumas lojas ainda os vendem. Vale a pena comprar!

Duas dúvidas

O Fabiano Maccgnanni, fazendo sua estréia aqui no blog, perguntou qual é a música executada no filme “Coração de Luto”, mais exatamente na cena em que o menino Vitor chega à Porto Alegre na carroceria de um caminhão. A música é “Menino órfão”, grande sucesso de Teixeirinha lançado em 1962 no LP “O gaúcho coração do Rio Grande, vol.4”. Bem, mas o Fabiano pediu, também, a letra da música “Foi tu que mexeu comigo”, uma das tantas respostas de Teixeirinha ao “compadre” Gildo de Freitas. A música é do conhecido LP “Última tropeada” (Copacabana, 1968):


*

[Refrão 2x - Coro]
Tem desafio, vamos pra lá minha amiguinha
Vamos rir do Gildo Freitas
Nas unhas do Teixeirinha

Gildo Freita abre os ouvidos
Escute minha resposta
Não sei se gosta ou não gosta
Se não gostar, tanto faz
Tua letra escutei bem
Alguma inverdade tem
Nunca provoquei ninguém
Isto é calúnia, rapaz
Me chamas de teu contrário
Tu pensa que eu sou otário
Não vem bancar o vigário
Na aba do meu cartaz

*

[Refrão 2x - Coro]

Gildo, eu conheço o teu jogo
Queres cortar meu caminho
Eu sempre vivi sozinho
Com aquilo que Deus me deu
Tu diz ser o pai da rima
Também entendo da esgrima
Não queira alcançar lá em cima
Aquilo que não é teu
Tu já no primeiro disco
Pensaste que eu era arisco
Tentou me jogar no cisco
E a resposta recebeu

*

[Refrão 2x - Coro]

Eu te respondo de novo
Lá vai o que tu procura
Petiço da perna dura
Eu boto ferro no casco
Arranco tigre da toca
Jibóia vira em minhoca
Como pirão por paçoca
Amanso qualquer carrasco
Troco baixada por serra
Faço o sol descer na Terra
Trovador macho não berra
E acabo com teu fiasco

*

[Refrão 2x - Coro]

Vou te ensinar, Gildo Freitas
A respeitar um Teixeira
Meus fãs não são brincadeira
Aplaudi tua ladainha
Quem me desafia é louco
Deve ter água no coco
Te faço sentar no toco
Comer cobra por galinha
Quer desafio faça a festa
Marque o dia, é o que me resta
É marcar na tua testa
O nome do Teixeirinha

[Refrão 3x - Coro]


Teixeirinha Show

Gostaria de avisar que, atendendo ao pedido da Rozélia Baptista (e um pedido da Rozélia é uma ordem!), o próximo “Discomentando” será sobre o LP “Teixeirinha Show”. A data do texto já foi definida para o dia 8 de fevereiro.

Fã de Carteirinha

Sempre humilde, o amigão Arnaldo Guerreiro ficou muito contente por ter sido o primeiro personagem do novo quadro “Fã de Carteirinha”. Em um recado no Orkut, Guerreiro expressou sua emoção: “Amigo Chico: Foste brilhante no excelente artigo sobre mim e não tenho palavras para exprimir toda a minha gratidão. Um grande abraço, Arnaldo Guerreiro.” Nós é que agradecemos, Guerreiro!

Agradecimentos I

Hoje tenho dois espaços reservados para os agradecimentos. Este primeiro é aquele já tradicional, onde divulgo os nomes daqueles que visitaram o blog deixando comentários. Um grande abraço para o Gabriel Lopes (a matéria sobre a vida gaúcha sai em 25/01), Cassiano Ferreira (volte sempre!), Antônio Candido (obrigado!), Júlio Pedro Martins (suas dúvidas são grandes colaborações!), Rozélia Baptista (um beijão!), Fabiano Maccgnanni (seja bem-vindo!), Fernanda Athayde (a matéria sobre os CD’s é na semana que vem!) e a todos que apareceram por aqui na semana que passou! Obrigado!

Agradecimentos II

Na sexta-feira (11/01) abro meus e-mails e me deparo com uma mensagem do grande amigo Nilton José Tavares (lá de Dois Irmãos). Pois quando li a correspondência e vi seu conteúdo fiquei arrepiado: Tavares visitou pessoalmente o famoso Rancho do Capivari (que será matéria aqui no blog dentro de duas semanas), tirou uma série de fotos, descobriu várias histórias e ainda mandou a mensagem contando! Nilton Tavares vem dando provas de seu interesse por Teixeirinha, por minhas pesquisas e pelo blog. É por isso que hoje resolvi agradecer a ele pelo tanto que tem feito. Muito obrigado, amigo! Seu material será apreciado por todos, em breve!

E agora, deixo com vocês a sessão “Discomentando”. Este espaço é uma evolução da “Discografia comentada” que começou ainda em 2007. Uma vez por mês um LP será “dissecado” por aqui. O escolhido desta semana foi o “Última tropeada”. Espero que gostem e opinem! Até semana que vem!

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DISCOMENTANDO: Última Tropeada

[clique na imagem para ampliar]

No dia 5 de janeiro de 1968, depois de uma gravidez de risco (interrompida antes do sétimo mês), nascia Alexandre, primeiro filho do mais popular casal de artistas do Rio Grande do Sul: Teixeirinha e Mary Terezinha. O menino nasceu fraco e precisou de cuidados redobrados até adquirir peso e saúde suficientes para escapar da morte. Naturalmente, sua mãe, Mary Terezinha, teve de deixar a carreira de lado para dedicar-se ao rebento.

Até então, desde aproximadamente 1963, era Mary quem cuidava dos arranjos musicais de Teixeirinha. Em comparação ao cantor, ela conhecia melhor os meandros da teoria musical e sabia como conduzir de forma exemplar a produção de um disco. Quando Mary Terezinha precisou afastar-se – pois a saúde do pequeno Alexandre lhe requeria tal situação – a produção do novo LP de Teixeirinha ficou ameaçada.

Provavelmente Teixeirinha já decidira o repertório do segundo disco a ser lançado em 1968 (o primeiro tinha sido “Doce Coração de Mãe”). Se tinha as letras, no entanto, precisava de alguém que as transformasse em música. A solução veio da gravadora Copacabana, com a qual o cantor mantinha um contrato exclusivo desde 1967: ele seria acompanhado por um dos mais respeitados artistas de então, o acordeonista Caçulinha, que mantinha seu próprio conjunto regional.

Caçulinha (ou Rubens Antônio da Silva) atuava profissionalmente desde 1948, já gravara vários discos e era frequentemente convidado para acompanhar os mais diversos artistas – de Caetano Veloso à Tonico e Tinoco. Após passar pelas gravadoras Todamérica e Chantecler, o músico finalmente se estabelecera na Copacabana (de onde sairia, anos depois, para compor o elenco dos programas apresentados por Fausto Silva até hoje). Agora, sua missão era acompanhar um dos maiores nomes da Copacabana.


Caçulinha continua atuando como músico no programa "Domingão do Faustão"


O LP “Última Tropeada”, lançado em 1968, sob o número CLP 11552, pode ser considerado o mais completo da carreira de Teixeirinha. Isto porque suas doze faixas são minuciosamente divididas entre os temas mais recorrentes da carreira musical do cantor: a orfandade, o pampa, as brigas com Gildo de Freitas, os desafios com Mary e as músicas românticas. Uma análise de ritmos também mostra a diversidade encontrada no disco. Na dúzia de músicas contidas no LP, pode-se ouvir tango, milonga, arrasta-pé, toada, etc.

De longe, “Última Tropeada” consiste num dos melhores discos gravados por Teixeirinha. Graças à eficácia de Caçulinha e seu Regional, os arranjos do LP são primorosos. O lado A, começa ao som de um instrumental atípico às músicas do “Rei do Disco”. Em “Papai Noel”, são utilizados instrumentos eletrônicos (possivelmente teclados), mas o violão aparece como base. Na faixa seguinte, “Última tropeada” (música que dá nome ao disco), outra novidade: antes da música, um poderoso ressonar de berrante. Nesta faixa, Mary Terezinha aparece pela primeira vez imprimindo sua voz logo nos primeiros versos e mostrando que, mesmo afastada do acompanhamento musical, atuaria como cantora no LP. Além do berrante, violão, gaita e um interessante acompanhamento de percussão (com triângulo!) executam a melodia, transformando esta numa das melhores músicas do disco.

A grande química do LP “Última Tropeada” são os audíveis improvisos de Caçulinha no acordeom. Para compensar uma perceptível dificuldade de Teixeirinha em acompanhar determinados ritmos, o músico se desdobra e contorna situações difíceis. Na canção “Foi tu que mexeu comigo”, uma das tantas respostas dadas à Gildo de Freitas, mais um show de Teixeirinha, Caçulinha e o Regional. No coro que entoa o refrão da bem-humorada música, está Mary Terezinha novamente.

As três faixas que encerram o lado A do LP talvez pudessem ser consideradas o maior mérito do disco. “Companheiros”, a primeira delas, é um tango inteligentemente executado com o acompanhamento de um tarol e da nervosa e sonora sanfona de Caçulinha. A quinta música é “Os dois lados da vida”, uma daquelas letras com a marca Teixeirinha. Nela, além da composição (uma das melhores!), um contrabaixo e (novamente) um teclado dão o toque de diferença. Para “arrematar” a primeira face do disco, “Quatro anos de ausência”, uma música cujo virtuosismo do sanfoneiro e a boa voz do cantor formam um conjunto perfeito.

Mas eu diria que o melhor ainda está por vir. Virando o disco, o ouvinte é tomado pelo eletrizante “Desafio do martelo” (o meu favorito!). Gaita, violão, triângulo, Teixeirinha, Mary e gargalhadas de uma suposta platéia fazem desta uma das melhores canções do disco – senão a melhor! A faixa 2 não foge à qualidade. Aliás, ela não é apenas a segunda música do lado B, mas sim um dos mais apreciados “clássicos” de Teixeirinha: “Tropeiro velho”. A declamação e a música em si dispensam qualquer comentário...

As três faixas que se seguem não alcançaram sucesso tão grande quanto “Tropeiro velho”, “Desafio do martelo” e “Última tropeada”. Mas, para quem gosta de romantismo, elas são um prato cheio. “Quando a velhice chegar” é um desabafo, uma reflexão do compositor sobre o que ocorreria no futuro quando ele, enfim, se tornasse um velho poeta. “Desiludido”, faixa número 4, descamba para mais uma história romântica (que, aliás, em muito lembra seu próprio caso com Mary Terezinha, que também participa da gravação). A penúltima faixa do LP, “Na paz de Deus”, é um primor em termos de arranjo, embora a letra seja mais modesta. Violão, gaita, percussão e um afinado coro compõem a canção.

Sabidamente as faixas mais importantes de um LP eram as que abriam e fechavam o mesmo (a primeira e última de cada lado). Cientes disso, os responsáveis pelo “Última tropeada” reservaram a derradeira música do lado B para “Fim do baile”, uma das mais incríveis gravações já realizadas por Teixeirinha e Mary Terezinha. Para começo de conversa, na música a dupla canta junto o tempo inteiro, com Mary na primeira voz e Teixeira fazendo a segunda. Entre os versos, arroubos do abundante talento de Caçulinha se misturam com animadas declarações entre os cantores que agem como se de fato estivessem num animado baile.

Dois indícios apontam a ação de Caçulinha e seu Regional executando a música ali mesmo no estúdio onde Teixeirinha e Mary gravavam. O primeiro é uma declaração de Teixeirinha do segundo para o terceiro verso: “Chora o gaiteiro!”. Sim, o gaiteiro Caçulinha e não a gaiteira Mary. O segundo indício comprobatório da presença do músico no estúdio não deixa dúvidas. Prestes a encerrar a gravação, os cantores se despedem e uma voz (que, possivelmente, é a de Caçulinha) diz: “Simbora!”. Neste instante, Teixerinha – atendendo a ordem do suposto maestro – repete, com outras palavras: “Vamo embora, Mary Terezinha!”. Os dois despedem-se e a mesma voz misteriosa, ciente de que o prefixo da música se aproximava do final, grita “Outra vez!”, no que Teixeirinha repete a frase para que parte do arranjo seja dobrado pelo acordeom.

Na capa de “Última tropeada”, Teixeirinha e Mary Terezinha aparecem num cenário campeiro (ele pilchado, ela de vestido vermelho e bolsa). No alto, uma arte traz o título do disco. Abaixo, em letras grandes, vê-se “TEIXEIRINHA”. Nas primeiras edições do LP (nas reedições posteriores a frase seria apagada), observa-se também a seguinte expressão: “Com acompanhamento de CAÇULINHA e seu regional”, comprovando a participação do sanfoneiro neste que é, indiscutivelmente, um dos melhores discos de Teixerinha.



Detalhe: o nome de Caçulinha na capa do LP comprova a participação do músico


“Última tropeada” até hoje não foi oficialmente remasterizado. No início dos anos 2000, a ES Discos (com sede em Porto Alegre), relançou o LP em CD, trazendo alterações na capa e incluindo duas “faixas bônus” para além das já existentes. Devido a problemas com o pagamento dos direitos autorais, a iniciativa não perdurou e, hoje, “Última tropeada” é considerada obra não remasterizada. Os CD’s da ES Discos saíram de catálogo em 2005.

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MUNDO TEIXEIRINHA - Edição 14

>> 5 de jan. de 2008


Com vocês, mais um "Mundo Teixeirinha". E este ficou grande!



Fã de carteirinha [ESTRÉIA]

Ano novo com novidades aqui no Revivendo Teixeirinha. Depois de muito trabalho, trago a vocês uma coluna bimestral em homenagem àqueles que ajudam a construir não apenas este blog, mas também a própria memória de Teixeirinha. Em “Fã de carteirinha”, estaremos conhecendo a história de algum (a) fã do “Rei do Disco”. Para a primeira matéria desta série, escolhi um dos maiores admiradores da obra de Teixeirinha, o português Arnaldo Guerreiro. Nas próximas semanas, quero voluntários para que tenham suas histórias contadas por aqui. Cada novo personagem precisará responder a uma pequena entrevista e não é necessário ter uma grande coleção de material sobre Teixeirinha ou ser um admirador de longa data. Basta gostar da obra do cantor ou ter uma história relacionada a ele. Espero que apareçam voluntários, pois do contrário aviso que irei recrutá-los!

Arrumando a casa...

Na virada do ano fiz um rápido balanço sobre os temas a serem abordados em 2008 e me surpreendi com o tamanho da lista de pautas. Para deixá-los calmos e com a garantia de que atenderei a todos os pedidos de matérias, estou postando uma pequena lista sobre os temas de janeiro. Como vocês já devem saber, as postagens ocorrem quase sempre aos sábados (às vezes aos domingos, pois temos que contar com os problemas técnicos) e continuo completamente aberto a sugestões de novos temas. Por enquanto a pauta de janeiro fica assim:

04/01: Fã de carteirinha: Arnaldo Guerreiro [ESTRÉIA]
11/01: Discomentando: Última Tropeada [ESTRÉIA]
18/01: (matéria sobre os discos de Teixeirinha e sua difusão em CD e MP3)
25/01: (matéria sobre a ‘vida gaúcha’ de Teixeirinha e o Rancho do Capivari)

CD “Última tropeada”

Com tantos comentários sobre o LP “Última tropeada” era de se esperar que surgissem amigos querendo o CD com as músicas. Vou tratar de todos os detalhes deste disco na semana que vem (quando ele finalmente será analisado aqui no blog). Mas, para não deixar a Taline Cunha sem resposta já vou adiantando que o CD “Última tropeada” saiu do catálogo há alguns anos. Portanto, não é mais possível adquiri-lo, infelizmente!

Quantos discos inéditos gravou Teixeirinha?

O Ronan Santos fez esta pergunta durante a semana e, de pronto, revelo: Teixeirinha gravou 49 LPs inéditos, embora existam mais de 70 compilações no estilo “O melhor de...” e mais de uma centena de discos compactos contendo apenas duas ou quatro canções.

Teixeirinha Show

O Luiz Fernando, muito atencioso, percebeu que o disco “Teixeirinha Show” (1963) é completamente picotado, isto é, tem uma edição que muitas vezes acaba cometendo erros absurdos. Bem, este LP (que deverá ser comentado em breve por aqui) é a simulação, repito, simulação de um show de Teixeirinha. Diferente do que muitos pensam, ele não é “ao vivo” e os sons da platéia são meras gravações enxertadas na edição final. Por este motivo, talvez, o disco é assim, todo cortado e muitas vezes mal editado mesmo.

Volte papai

Atendendo ao pedido da Talita Xavier da Silva, estou postando a música “Volte papai”, lançada no LP “Saudades de Passo Fundo”, em 1962.



Quase todas minhas letras
É uma realidade
Pois esta, escute bem
Que é a pura verdade

No Rio Grande, aonde eu moro
Ouvi na minha cidade
Um apelo pelo rádio
De uma menor idade

A carta de uma menina
Pedindo por caridade:
‘Eu choro por uma causa
Meus olhos de água se arrasa
Papai, volte para casa
Pra eu não morrer de saudade’

O locutor leu a carta
Que a menina mandou
Quem estava perto de mim
Junto comigo chorou:

‘Papai do meu coração
Porque me abandonou?
Está fazendo muitos anos
Que se foi e não voltou

Fome, frio, papai amado
Sua filhinha passou
Como é triste o meu caminho
Volte agora, papaizinho
Vem trazer muito carinho
Que esta filha não ganhou’

Eu também faço um apelo
Pra este pai sem coração
Vai ver a tua filhinha
Que chora na solidão

Está ficando mocinha
Precisa de proteção
Leve o carinho de pai
Pra esse anjo estenda a mão

Seja um homem, não um monstro
Deve ter compreensão
É o conselho de um amigo
Faz assim como eu te digo
Que Deus esquece o castigo
Te protege e dá o perdão

Volte, volte, papaizinho
Ela disse: ‘Pai amado
A mamãe está doente
E não tem mais trabalhado

Eu quero ver o senhor
Saudades tem me judiado
Papai, quando estou dormindo
Contigo tenho sonhado’

E voltaste, papaizinho
Depois de anos ‘passado’
‘Aqui encerro a cartinha
Sou Maria Terezinha
Beijos da sua filhinha
Volte, paizinho adorado’




Gauchinha hospitaleira

Bem, e agora vamos com a letra de “Gauchinha hospitaleira”, atendo ao pedido da Juliana Panek. A música foi lançada em LP no disco “Bate, bate coração”, de 1965.



Ô gauchinha, tu me dá licença
Quero um minuto pra falar contigo
Eu venho vindo de outra querência
Não tenhas medo que sou um amigo

Parece que vem um temporal de chuva
Vim no teu rancho te pedir abrigo
Prenda bonita, sei que não se curva
Quando ela vê um gaúcho em perigo

[Declamado - Mary Terezinha]
“Entre gaúcho e se sinta à vontade
Neste ranchinho de beira de estrada
Não vou negar a hospitalidade
Com este tempo ruim, de trovoada
Meu pai também está chegando agora
Tenho certeza que lhe dá pousada
Amanhã cedo a chuva vai embora
E o senhor segue a viagem marcada”

Fiquei de pouso naquele ranchinho
Levantei cedo, no clarear do dia
Fui encilhar o meu pingo sozinho
E alguma coisa o meu peito sentia

Era a paixão pela gauchinha
Que tão alegre me recebia
Também chorava aquela riquezinha
Naquela triste hora em que eu partia

Hoje distante, já faz mais de ano
Que eu não consigo esquecer este amor
Para o meu peito não ter desengano
Eu vou buscar aquela linda flor

Que tomou conta do meu coração
E fez de mim um triste sofredor
Só ela pode matar a paixão
E arrancar do meu peito a dor




Relação ‘completa’ de músicas

Há tempos alguns amigos vêm pedindo para que eu divulgue uma relação completa das músicas gravadas por Teixeirinha. Cheguei mesmo a criar uma listagem, mas desisti de postá-la, pois o tamanho da tal lista atingiu 14 páginas no Word, o que ficaria impraticável para o blog. Diante disso, resolvi pedir a vocês um pouco mais de paciência, pois mudei os planos: ao invés de lançar a lista de músicas, vou compor a discografia com todas as letras conhecidas. Feito este trabalho, prometo disponibilizá-lo em algum servidor para que vocês possam fazer o download.

Visual 2008

Com o novo ano pensei em mudar um pouco o visual do blog. Porém, lembrei que fazem poucos meses que isto aconteceu e, por isso, resolvi deixar o layout como está. Entretanto, em março, quando o Revivendo Teixeirinha completa um ano no ar, quero estrear uma cara nova. Como o blog é de todos, gostaria que vocês sugerissem mudanças (tanto no visual quanto na funcionalidade, no estilo das pautas...) para o nosso novo Revivendo. Vou estudar com carinho todas as idéias!



Mais mudanças à vista!

Depois de quase um mês de espera, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul divulgou nesta sexta-feira (04/12) a lista final dos aprovados para o Mestrado em História 2008. Para minha total alegria, fui classificado em 15º lugar (de um total de 20 aprovados) e irei mesmo cursar a pós-graduação em Porto Alegre nos próximos meses. Meu projeto de pesquisa – que traz por título “Canta meu povo: as concepções sociais populares e a música de Teixeirinha” – deverá consumir boa parte de meu tempo durante os próximos dois anos, mas será uma grande chance para que eu possa estudar ainda mais este impressionante fenômeno que é Teixeirinha. Gostaria muito de agradecer a todos que torceram por mim nesta jornada e também àqueles que colaboraram com material e palavras de incentivo. Como vou mudar de cidade (de Rio Grande para Porto Alegre, um deslocamento de 300km), talvez o blog saia um pouco prejudicado inicialmente, pois ainda não sei onde e como vou manter-me na capital. Prometo, porém, que não os abandonarei e que farei de tudo para que as postagens continuem indo ao ar. Torçam por mim!

Agradecimentos

Nesta semana foram vários acessos e pessoas novas chegando a todo o momento. Gostaria de agradecer a todos e pedir que voltem sempre e que deixem seus recados. Um grande abraço para a Rozélia Baptista (ótimo 2008 pra ti também!), Taline Cunha, Juliana Panek, Talita Xavier da Silva (seja bem-vinda!), Ronan Santos (volte sempre!), Luiz Fernando, Cristina (ótimo 2008!), Nilton Tavares (grande abraço meu amigo!), Cassiano Ferreira (Gildo e Teixeirinha sempre!), Antonio Noe (um abraço para Fortaleza!), Silvano Cavalcanti (grande abraço e muito obrigado!) e Ivanir (volte sempre também!). Tudo de bom a vocês!

E fiquem agora com a primeira matéria da série “Fã de carteirinha”. Espero que gostem e até semana que vem!

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FÃ DE CARTEIRINHA: Arnaldo Guerreiro


Eu, tu, eles... Não são poucos os fãs de Teixeirinha. Aliás, mesmo que quiséssemos contabilizar a legião de admiradores do “Gaúcho Coração do Rio Grande” não conseguiríamos. Na seção que se inaugura hoje vamos conhecer alguns destes ilustres personagens. A idéia é simples: a cada dois meses, um fã. E não precisa ser um grande colecionador ou, enfim, saber tudo sobre o ídolo. O requisito único é curtir a obra de Teixeirinha.

Do outro lado do Atlântico, um dos maiores colecionadores de Teixeirinha

Neste primeiro “Fã de Carteirinha” escolhi um grande amigo e verdadeiro parceiro aqui do blog. Estou falando de Arnaldo José Guerreiro, residente em Albufeira, Portugal. Pra começar, é preciso que se diga: dificilmente encontraremos um fã com acervo maior do que o de Guerreiro. Admirador nato da música gaúcha em geral, nosso amigo possui uma coleção de 1.326 discos diferentes sobre o cancioneiro sulino. Ele, sozinho, é mais um destes casos de “memória viva” sobre a cultura dos pampas. Sua casa, do outro lado do Atlântico, poderia muito bem ser uma espécie de “Museu da Imagem e do Som” do Rio Grande do Sul.
Guerreiro em meio a alguns discos e publicações de Teixeirinha

Em meio a tantos discos – entre outros materiais – Guerreiro guarda com carinho sua imbatível coleção particular relacionada a Teixeirinha. Segundo ele, de todos os artistas gaúchos o maior é mesmo Vitor Mateus Teixeira. Foi Teixeirinha, inclusive, o responsável pelo início da paixão de Guerreiro pela música gaúcha. “Meu primeiro contato com a música de Teixeirinha ocorreu no período de minha adolescência, ao escutar na rádio portuguesa as maravilhosas músicas dele”, afirma Arnaldo. Desde então, revela o português, “passei a acompanhar a carreira de Teixeirinha e freqüentava as lojas de discos em procura dos discos dele, que, na época, eram de quatro canções cada um”.

Guerreiro conta que na adolescência seus amigos preferiam grupos como Os Beatles, The Doors, Supertramp, Os Gênesis, etc., ao passo que ele ouvia compulsivamente Teixeirinha. “Eu continuei com minha preferência diferente deles”, revela, “mas nunca mudei meus gostos musicais e penso que ninguém me discriminou por isso”.

A história de Arnaldo Guerreiro é o maior exemplo das dimensões alcançadas pela carreira de Teixeirinha. Segundo ele, o cantor fez mesmo um grande sucesso em diversos países da Europa. “Portugal”, assegura Guerreiro, “foi aquele onde o sucesso foi maior, com uma grande vendagem de discos. Na França, ele foi conhecido através da comunidade emigrante de portugueses naquele país”. Arnaldo também lembra do sucesso alcançado pelo “Rei do Disco” nos países africanos: “Não podemos esquecer a enorme legião de fãs de Teixeirinha em Angola, Moçambique, Cabo Verde e Timor”.
Mesmo não sendo gaúcho, Guerreiro não dispensa um bom churrasco!

Além de colecionar tudo o que diz respeito a Teixeirinha, Arnaldo Guerreiro guarda na lembrança o privilégio de ter se correspondido com o ídolo. Ele recorda que nos anos 1970 mantinha contato com Eva Durzinski, residente em Canoas. Um dia, Guerreiro pediu que Eva fosse até o escritório da Teixeirinha Produções Artísticas e revelasse ao cantor a existência de um grande fã de além-mar. Emocionado, Guerreiro conta o desenlace desta história: “Ao saber que tinha um grande fã em Portugal, ele ofereceu quatro LPs, onde escreveu dedicatórias, e dois cartões de visita, um dele e outro em nome das Produções Teixeirinha. Depois eu escrevi para o endereço dele e recebi resposta. Senti uma alegria difícil de descrever, eu idolatrava ele e revia-me nas letras de suas canções.”

Tomado de emoção, Guerreiro seguiu sua peregrinação em busca de discos, revistas e tudo mais que dissesse respeito a Teixeirinha. Quando o artista morreu, em 1985, Guerreiro viu com tristeza que não realizaria o sonho de conhecer o ídolo. Ele conta que certa vez ouviu um anúncio de que Teixeirinha cantaria numa casa de shows em Portugal. Só depois é que ele descobriu tratar-se de um outro artista que utilizava o mesmo nome. Em meados dos anos 1970, Teixeirinha chegou mesmo a ser contratado para apresentações nas terras lusitanas. Entretanto, a guerra civil e a instabilidade política que abalou a pátria de Camões obrigaram-no a desistir da turnê.

Mas, se não conheceu Teixeirinha pessoalmente, Guerreiro pôde ter contato direto com os familiares do cantor. Em julho de 1997, quase doze anos depois da morte de Vitor Mateus Teixeira, Arnaldo, acompanhado de sua então esposa Maria Vitória e da filha Dina Patrícia, veio ao Brasil e excursionou por alguns dos principais lugares que marcam a trajetória de Teixeirinha. O português esteve em Passo Fundo e em Porto Alegre (entre outros municípios), onde visitou o túmulo do cantor, a Fundação Teixeirinha e a casa onde o artista morava, no bairro da Glória. Nesta última visita, Guerreiro foi recebido com um churrasco promovido pelos filhos de Teixeirinha. Durante a confraternização, Teixeirinha Filho cantou duas músicas em homenagem ao ilustre visitante. Conta Guerreiro que o tal churrasco foi devidamente registrado numa fita de vídeo que ele guarda até hoje.

Mesmo colecionando material referente a Teixeirinha há tantos anos, Guerreiro segue em busca de novidades. Ele nos conta que sua incrível coleção ainda está incompleta: “Dos discos inéditos só não possuo ‘A trilha sonora do filme Coração de Luto’; os outros tenho todos”, afirma. “No entanto”, complementa, “acredito que haja canções em discos compactos que eu não possuo, por exemplo, ‘Teu retrato’”.

Ao ser questionado sobre qual seria o item mais antigo e o mais raro de sua coleção, Guerreiro é bem especifico: “O primeiro disco que eu comprei foi um Copacabana com quatro canções, sendo uma ‘O tango é macho’ e as outras ‘Maria’, ‘A volta do tropeiro velho’ e ‘O desafio da escopa’. O que considero mais raro é um compacto de 78rpm, com as músicas ‘São Paulo’ e ‘Despedindo-me de ti’. Esta última música não se encontra em nenhum dos LPs gravados por ele, assim como ‘Hino a Soledade’, que possuo noutro compacto, mas de 45rpm.”

Na entrevista que fiz com Guerreiro perguntei-lhe qual das músicas de Teixeirinha era a sua favorita. Ao que parece, não foi uma pergunta fácil. Ele diz que é muito difícil escolher uma entre tantas, mas revela simpatia especial pela canção “Maria”, “porque a letra retrata muito minha própria infância”, completa. Quando perguntado sobre o disco que mais preferia, Guerreiro não teve dúvidas e respondeu “Aliança de Ouro”. Já sobre o filme que mais gostava, ele disse “O pobre João”, unindo-se aos tantos admiradores deste grande sucesso cinematográfico de Teixeirinha.

Mas, fã de carteirinha que se preze tem que usar a imaginação também. Foi aí que pedi a Guerreiro para que nos revelasse o que teria dito a Teixeirinha caso o tivesse conhecido. Sem pestanejar Guerreiro responde: “Se eu tivesse conhecido Teixeirinha pessoalmente, teria comprado um bilhete de avião para ele vir a Portugal para visitar o Santuário de Fátima e também para se apresentar em shows, desde o norte até o sul de Portugal, fazendo vibrar milhares de fãs portugueses”. E revela: “Uma canção dedicada a mim foi sempre o meu grande sonho e não nego que teria sido um privilégio se eu tivesse tido a oportunidade de o ter conhecido pessoalmente e ele conseguisse gravar uma letra em minha homenagem”.

O sempre solícito Guerreiro é humilde e não se considera o maior dos fãs de Teixeirinha, pois, para ele, todos são fãs da mesma forma. Sempre ligado em nosso blog, Arnaldo auxilia a todos os pesquisadores que o procuram e já virou referência entre os fãs de Teixeirinha. Graças às maravilhas da Internet, ele pode comunicar-se com o Brasil, adquirir novos itens para sua coleção e participar das discussões sobre a música gaúcha. Mesmo estando longe, Guerreiro procura ficar por dentro do que ocorre sobre Teixeirinha e deixa um recado para os fãs do “Rei do Disco”: “Não deixem cair no esquecimento este grande cantor e continuem falando dele às gerações mais novas, pois Teixeirinha é eterno!”. Tenha certeza, Guerreiro, de que todos nós concordamos contigo. Parabéns!

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