NO CORAÇÃO DO RIO GRANDE
>> 1 de abr. de 2008
O texto a seguir foi publicado originalmente na edição de 7 de janeiro de 2008 do Jornal Agora de Rio Grande, RS. Ele fala de forma breve e descontraída sobre a relação envolvendo Teixeirinha e Rio Grande (minha cidade natal). Atendendo a pedidos, estou reeditando o material aqui no blog.
NO CORAÇÃO DO RIO GRANDE
Qual o cantor mais lembrado pelos gaúchos? Para a maioria absoluta dos entrevistados pela pesquisa “Top of Mind 2006” (promovida pela revista Amanhã), não há dúvidas. O maior nome da música no Rio Grande do Sul é Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha.
Realmente, é difícil encontrar alguém que não conheça Teixeirinha. Nascido em 1927 e alçado para o sucesso no início dos anos 60 – quando gravou a autobiográfica “Coração de Luto” – ele foi (e continua sendo) um dos nomes mais admirados da vida cultural gaúcha. É bem verdade que o cantor não era um artista sofisticado. Autodidata, aprendeu a ler e escrever por conta própria, não era um grande instrumentista e suas músicas só ganharam maior diversidade melódica depois que Mary Terezinha, sua parceira dentro e fora dos palcos, assumiu a produção musical do cantor. Mesmo assim, Teixeirinha arrebatou uma incontável legião de fãs, a maioria pessoas simples que se identificavam com suas canções. Era o “seu povo”.
Em 26 anos de carreira artística, cantando em teatros luxuosos ou em circos de chão batido, Teixeirinha alcançou fama, fortuna e prestígio (mesmo que a crítica o combatesse ferozmente). Suas músicas renderam-lhe êxitos inesperados. Em poucos anos, além de casas, automóveis e propriedades espalhadas pelo interior do Estado, o cantor comprou horários nas principais rádios do Rio Grande do Sul e inaugurou sua própria produtora de filmes, responsável por rodar dez longas-metragens em pouco mais de dez anos. Tanto sucesso fez com que as pessoas mais simples, que acompanhavam sua carreira, o tomassem como um símbolo, a imagem de que os pobres também vencem (afinal, antes da fama, Teixeirinha havia sido até mendigo).
Para a gente humilde, desprovida de altos níveis de escolaridade e de bons salários, Teixeirinha era um exemplo. Em Rio Grande, nos anos 1960, lotava qualquer lugar em que se apresentasse. Reza a lenda que ele era presença confirmada no pouco conhecido Circo do Biduca, lugar extremamente simples no qual o cantor fazia shows com o intento de ajudar os artistas locais. Diz-se também que Teixeirinha gostava de vir a Rio Grande, pois tinha amigos na Vila da Quinta e no Povo Novo, lugares de onde saía para incontáveis tardes de pescaria.
O público papareia, ao mesmo tempo, retribuía o carinho do cantor pela cidade. Em meados da década de 1960, quando Teixeirinha fazia sucesso com a “Milonga da fronteira”, as rádios locais tocavam a música sem parar. Nos bairros mais pobres os poucos aparelhos de rádio transmitiam a canção que embalava a árdua rotina dos trabalhadores. Aos poucos, o próprio Teixeirinha foi chegando a Rio Grande através das ondas da extinta Rádio Cultura Riograndina, que em 1973 transmitia o programa “Teixeirinha canta para o povo do Rio Grande” de segunda a sábado, das 07h30 às 08h.
Se a voz do cantor cruzava os ares para chegar pelas ondas do rádio, sua imagem cortava as estradas para instalar-se nas salas de cinema da cidade. Produtor e ator de vários filmes, Teixeirinha era um dos poucos artistas brasileiros a lotar qualquer sessão de cinema. Em Rio Grande não era diferente e, em 1969, cartazes anunciavam “um caminhão de gargalhadas” com a estréia do filme “Motorista sem limites” nos cinemas 7 de Setembro, Carlos Gomes e Avenida.
Os espectadores lotavam as salas e, não sem dificuldades, escreviam para Teixeirinha dizendo o que tinham achado dos filmes. Estas cartas, que chegavam a 10 mil por mês, eram recebidas, lidas e respondidas pelas secretárias da Teixeirinha Produções. Muito desta correspondência sobreviveu ao tempo e mostra que Rio Grande era reduto de milhares de fãs do cantor. Em 5/7/1977, por exemplo, o filme “Motorista sem limites” era descrito por um fã como “nota 10” e “jóia 3 vezes”! Ao final da correspondência o remetente dizia: “Qualquer dia irei aí para conhecê-los [Teixeirinha e Mary] pessoalmente.”
No mesmo 1977, agora em 6/12, um outro apaixonado admirador da dupla em Rio Grande declarava: “Teixeirinha e Mary Terezinha, estamos aguardando ansiosos o seu novo filme ‘Na trilha da justiça’”. Anos antes, em 1974, uma fã tratava os artistas como grandes amigos de sempre. A mesma remetente dizia ter conversado com uma parenta de Mary, afirmando que não gostaria de morrer sem conhecer os cantores. Porém, para ela, ir a Porto Alegre era um sonho difícil de ser realizado, pois as passagens custavam caro. No fim da carta, a correspondente dizia ter comprado – com muito esforço – um rádio no valor de 400 cruzeiros para ouvir os programas de Teixeirinha.
Pesquisas sempre serão importantes para medir o quanto Teixeirinha foi e é um dos maiores nomes da vida artística do Rio Grande do Sul. Todavia, as demonstrações de afeto dos fãs – como as que podemos atestar nas cartas enviadas por riograndinos para o artista – serão sempre mais significativas do que qualquer estudo.
Realmente, é difícil encontrar alguém que não conheça Teixeirinha. Nascido em 1927 e alçado para o sucesso no início dos anos 60 – quando gravou a autobiográfica “Coração de Luto” – ele foi (e continua sendo) um dos nomes mais admirados da vida cultural gaúcha. É bem verdade que o cantor não era um artista sofisticado. Autodidata, aprendeu a ler e escrever por conta própria, não era um grande instrumentista e suas músicas só ganharam maior diversidade melódica depois que Mary Terezinha, sua parceira dentro e fora dos palcos, assumiu a produção musical do cantor. Mesmo assim, Teixeirinha arrebatou uma incontável legião de fãs, a maioria pessoas simples que se identificavam com suas canções. Era o “seu povo”.
Em 26 anos de carreira artística, cantando em teatros luxuosos ou em circos de chão batido, Teixeirinha alcançou fama, fortuna e prestígio (mesmo que a crítica o combatesse ferozmente). Suas músicas renderam-lhe êxitos inesperados. Em poucos anos, além de casas, automóveis e propriedades espalhadas pelo interior do Estado, o cantor comprou horários nas principais rádios do Rio Grande do Sul e inaugurou sua própria produtora de filmes, responsável por rodar dez longas-metragens em pouco mais de dez anos. Tanto sucesso fez com que as pessoas mais simples, que acompanhavam sua carreira, o tomassem como um símbolo, a imagem de que os pobres também vencem (afinal, antes da fama, Teixeirinha havia sido até mendigo).
Para a gente humilde, desprovida de altos níveis de escolaridade e de bons salários, Teixeirinha era um exemplo. Em Rio Grande, nos anos 1960, lotava qualquer lugar em que se apresentasse. Reza a lenda que ele era presença confirmada no pouco conhecido Circo do Biduca, lugar extremamente simples no qual o cantor fazia shows com o intento de ajudar os artistas locais. Diz-se também que Teixeirinha gostava de vir a Rio Grande, pois tinha amigos na Vila da Quinta e no Povo Novo, lugares de onde saía para incontáveis tardes de pescaria.
O público papareia, ao mesmo tempo, retribuía o carinho do cantor pela cidade. Em meados da década de 1960, quando Teixeirinha fazia sucesso com a “Milonga da fronteira”, as rádios locais tocavam a música sem parar. Nos bairros mais pobres os poucos aparelhos de rádio transmitiam a canção que embalava a árdua rotina dos trabalhadores. Aos poucos, o próprio Teixeirinha foi chegando a Rio Grande através das ondas da extinta Rádio Cultura Riograndina, que em 1973 transmitia o programa “Teixeirinha canta para o povo do Rio Grande” de segunda a sábado, das 07h30 às 08h.
Se a voz do cantor cruzava os ares para chegar pelas ondas do rádio, sua imagem cortava as estradas para instalar-se nas salas de cinema da cidade. Produtor e ator de vários filmes, Teixeirinha era um dos poucos artistas brasileiros a lotar qualquer sessão de cinema. Em Rio Grande não era diferente e, em 1969, cartazes anunciavam “um caminhão de gargalhadas” com a estréia do filme “Motorista sem limites” nos cinemas 7 de Setembro, Carlos Gomes e Avenida.
Os espectadores lotavam as salas e, não sem dificuldades, escreviam para Teixeirinha dizendo o que tinham achado dos filmes. Estas cartas, que chegavam a 10 mil por mês, eram recebidas, lidas e respondidas pelas secretárias da Teixeirinha Produções. Muito desta correspondência sobreviveu ao tempo e mostra que Rio Grande era reduto de milhares de fãs do cantor. Em 5/7/1977, por exemplo, o filme “Motorista sem limites” era descrito por um fã como “nota 10” e “jóia 3 vezes”! Ao final da correspondência o remetente dizia: “Qualquer dia irei aí para conhecê-los [Teixeirinha e Mary] pessoalmente.”
No mesmo 1977, agora em 6/12, um outro apaixonado admirador da dupla em Rio Grande declarava: “Teixeirinha e Mary Terezinha, estamos aguardando ansiosos o seu novo filme ‘Na trilha da justiça’”. Anos antes, em 1974, uma fã tratava os artistas como grandes amigos de sempre. A mesma remetente dizia ter conversado com uma parenta de Mary, afirmando que não gostaria de morrer sem conhecer os cantores. Porém, para ela, ir a Porto Alegre era um sonho difícil de ser realizado, pois as passagens custavam caro. No fim da carta, a correspondente dizia ter comprado – com muito esforço – um rádio no valor de 400 cruzeiros para ouvir os programas de Teixeirinha.
Pesquisas sempre serão importantes para medir o quanto Teixeirinha foi e é um dos maiores nomes da vida artística do Rio Grande do Sul. Todavia, as demonstrações de afeto dos fãs – como as que podemos atestar nas cartas enviadas por riograndinos para o artista – serão sempre mais significativas do que qualquer estudo.
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