"ATÉ LOGO..."

>> 9 de dez. de 2007

A célebre piscina em formato de cuia

Foram mais de 400 km de viagem para chegar em Porto Alegre. Era domingo, dia em que a cidade parou para ver o “timão” rumar desastrosamente para a série B do campeonato nacional de futebol, liquidado pelo tricolor gaúcho com a ajuda do colorado da capital. Porto Alegre não pára.
Entre domingo (02/12) e quinta-feira (06/12), estive na cidade que serviu de cenário para a maior parte da “saga” de Teixeirinha. Para mim era impossível não lembrar de suas músicas e filmes a cada minuto. É bem verdade que a viagem não foi por motivos de turismo e lazer – afinal, eu estava por lá para realizar duas das principais etapas do mestrado em História da UFRGS. Mas tive vários momentos livres e aproveitei cada um deles ao máximo.
Caminhar pelas ruas da capital é surpreender-se. É descobrir que Teixeirinha continua sendo o campeão de vendas nas lojas de vinis usados. É ver que seus discos, tão procurados, são também os mais inflacionados (LPs de outros cantores custam, em média, 8 reais, enquanto os de Teixeirinha variam entre 15 e 35!). Andar pelas ruas do Centro é rememorar aquilo que já foi lido ou falado. É passar pelo Viaduto da Avenida Borges de Medeiros e surpreender-se com um sonolento menino de pés descalços e maltrapilho, lembrando o pequeno Vitor que também passou algumas de suas noites de órfão por ali. É visitar o calçadão da rua dos Andradas e parar em frente à Galeria Di Primo Beck, onde Teixeirinha manteve seu escritório artístico durante vários anos.
Não há outra cidade em que o “Rei do disco” esteja tão presente. É como se ele ainda estivesse por lá. A sensação de visitar o Edifício Edith, na Rua General Andrade Neves, é sempre boa. Lá, as salas 301-302, abrigam atualmente a Fundação Vitor Mateus Teixeira. No passado, aqueles metros quadrados foram o endereço profissional de Teixeirinha. As visitas à Fundação são sempre motivo de surpresas. É como se houvessem novos troféus, fotos e documentos a cada dia. Estar cara a cara com o célebre violão “sete-bocas” e admirá-lo por alguns minutos também é parte indispensável do roteiro.
Na Fundação, lembrei de vocês, meus leitores semanais. Busquei o maior número de informações e assuntos possíveis. Escrevi algumas páginas de anotações e tirei várias fotos que serão, aos poucos, expostas por aqui. E como é bom revirar aqueles arquivos! Eles guardam preciosidades: fotos, lembranças, cartazes, telegramas, recortes de jornal... Até a carteirinha de sócio do Grêmio que pertencia a Teixeirinha (e que eu havia prometido mostrar aqui no blog) foi localizada. Para o historiador (e fã) como eu, aquele momento não tem preço.
No dia 04 de dezembro, quando se completaram exatos 22 anos desde a morte de Teixeirinha, minha amiga Nicole e eu estivemos no Cemitério da Santa Casa. Talvez soe como macabro ou estranho, mas poucos lugares guardam tantas belezas quanto aquele. Mesmo não sendo um admirador assíduo da arte cemiterial, devo admitir que alguns daqueles túmulos são diferentes de tudo o que já vi. No corredor central, um desfile de grandes nomes que marcaram a política e sociedade gaúcha: Júlio de Castilhos, Pinheiro Machado, Conde de Porto Alegre, Plácido de Castro e... Teixeirinha! Sua lápide até desaparece no meio de tantos túmulos suntuosos. Mas ele está lá e é o mais bem cuidado. A estátua de bronze – pilchado e empunhando o pinho – estava mais brilhosa do que de costume, fruto dos cuidados da família. Flores, velas e um cartaz em reverência ao artista completavam o bonito cenário.
Dia 4/12: o túmulo de Teixeirinha continua sendo o mais lembrado

Por ser terça-feira (dia útil, de trabalho), os fãs foram diminutos e as homenagens também. Por lá, apenas a “Gauchinha de Bagé”, que há 22 anos visita o túmulo do artista nos dias de Finados e também no aniversário de morte. Enfim, frente à silenciosa lápide de Teixeirinha imaginei a loucura que não terá sido o dia 5 de dezembro de 1985, quando milhares de pessoas deram adeus ao ídolo. Olho para o lado e vejo a sepultura vizinha à de Vitor Mateus Teixeira. No topo, uma cruz visivelmente remendada. Teria sido quebrada durante o tumulto daquele 5 de dezembro, há 22 anos?
Sincera homenagem da fã "Gauchinha de Bagé"

A quarta-feira (05/12) foi o dia mais especial de todos. Entre 9h40 e 15h30 compareci ao Museu da Comunicação José Hipólito da Costa, onde se encontram vários jornais que falam de Teixeirinha. Em ao menos quinze vezes ele foi capa de “Zero Hora”. Em pelo menos quarenta edições ele foi citado em grandes reportagens. Entrevistas são inúmeras. Até uma descontraída reportagem em um periódico intitulado “Pato Macho” (uma espécie de “Pasquim” dos pampas) traz Teixeirinha como assunto principal. Na entrevista, os jornalistas fazem todo o tipo de perguntas e Teixeirinha responde ou com ironia, ou com bom humor.
Mas o dia 5 não foi importante apenas pela visita ao arquivo. O melhor mesmo aconteceu a partir da 4h da tarde. Depois de alguns minutos subindo e descendo os desoladores morros da capital, Nicole e eu chegamos num endereço célebre: Avenida Professor Oscar Pereira, nº 5260, Bairro da Glória. Enfim, alguns anos depois de iniciar a trajetória que me levaria a esta pesquisa já infinitamente grande, conheci a casa de Teixeirinha.
Eu e Nicole na frente da residência de Teixeirinha, em Porto Alegre

Não é a toa que a residência da Oscar Pereira é parada obrigatória para os fãs do cantor. A propriedade é enorme, lembrando uma chácara urbana. A casa, no mais alto estilo dos anos 1970, é bonita. Não tem muros altos (mas tem cães para protegê-la) e é repleta de belas árvores. Na chegada, somos recebidos pelo simpático Flávio, sobrinho da dona da casa. Fomos à sala de estar da residência e, depois de alguns minutos, surgiu dona Zoraida de Lima Teixeira. Dona Zoca – como é chamada por alguns – é só simpatia. Sorri, fala de seu cotidiano, conversa amigavelmente com todos e, vez por outra, relembra o passado. Seus lindos olhos azuis deixam entrever o carinho com que fala do marido, o Teixeira. Há 43 anos morando no mesmo endereço, dona Zoraida conta que o bairro era uma espécie de zona rural da Porto Alegre dos anos 1960. Não havia tantas casas e o mato cobria boa parte da região. Saudosa, ela lembra que de manhã sentava-se na varanda com Teixeirinha e que, ali, o cantor lia a “Zero Hora” diária. Certo dia, quando o asfalto ainda não chegara na Oscar Pereira e quando as carroças eram mais freqüentes do que os automóveis, ele teria dito: “Daqui há alguns anos não vamos poder sentar mais aqui.” Dito e feito. Hoje a rua é uma movimentada avenida, onde passam ônibus e carros a todo instante. A tranqüilidade ficou no passado...
Parte do quintal e dos fundos da casa de Teixeirinha

A sala de estar da residência de Teixeirinha é repleta de lembranças. Fotos dos filhos, netos e outros parentes, dividem espaço com retratos do próprio Teixeirinha. Numa das paredes da casa, um pôster muito grande (com a foto que foi capa do LP “Menina Margarethe”) decora o local. Tudo faz lembrar que aquele endereço é célebre. Depois da conversa, o simpático caseiro Emílio Frese (que trabalha por lá há dois anos e já é um apaixonado pelo lar dos Teixeira), mostra-nos as dependências da casa. Pela primeira vez, visito pessoalmente a piscina em formato de cuia, cartão-postal da residência. O pátio é extenso. Algumas construções da época já não existem mais. No meio da propriedade, um pequeno riacho canalizado. Próximo a casa, uma pequena construção colorida que – no passado – serviu de cenário para a capa do LP “Última gineteada”. No centro do quintal, uma casinha pequena. Era ali que Teixeirinha compunha. Em meio às árvores, no silêncio e tranqüilidade de seu lar, saíram algumas das melodias mais belas de seu cancioneiro.
Em meio a tranquilidade do quintal, a casinhola onde o "Rei do Disco" compunha suas canções

O caseiro Emílio quer mostrar-nos tudo. Ele tem cuidado de apresentar a propriedade aos fãs desde algum tempo. Visitamos o quintal e conhecemos a varanda que circunda toda a parte de trás da casa. Seu Emílio, num determinado momento, aponta para o segundo andar da residência e diz: “A dona Zoraida disse que foi ali que ele morreu.”. É o resgate de um passado que não pára de nos dar sustos e de apresentar surpresas. Volta e meia vem o choque com alguma descoberta inesperada. Certamente, uma tarde é muito pouco para desvendar as surpresas guardadas em cada canto daquele endereço.
As árvores enfeitam o belo quintal da residência dos Teixeira

Depois de muitas fotos, começa uma fina garoa. É hora de partir. Dona Zoraida tem um compromisso na Câmara de Vereadores da capital. À tardinha, já está pronta para sair. Bem vestida, ela ostenta no peito um broche com o rosto de Teixeirinha. Na despedida, conheço mais uma filha do cantor – Márcia, chamada intimamente de Preta. No início da visita já havia conhecido também a filha Margarethe, que chegara do trabalho. Além delas, conheço mais duas netas, Cássia e Fernanda. São todas simpáticas e receptivas. Mas, enfim, é hora de ir embora. Depois de mais algumas fotos, deixamos aquele endereço. Foi um dia e tanto!
Ao fundo o avarandado que serviu de cenário para a capa do LP "Última Gineteada" (1974)

Após a visita à residência de Teixeirinha, encerrei minhas aventuras em Porto Alegre. No outro dia (06/12), às 14 horas, tomei o ônibus que me levaria de volta para Rio Grande. Impossível não pensar em tudo o que vi e senti nestes dias. Na saída da rodoviária, pela primeira vez, não tive a sensação do adeus. Desta vez o pensamento esteve muito mais voltado para um “até logo”. Que assim seja!

1 comentários:

Anônimo 11 de dezembro de 2007 às 04:12  

QUE MATÉRIA LINDA CHICO!
MAIS UMA VEZ RECEBA OS MEUS PARABÉNS POR ESTE BLOG! CONTINUE SEMPRE A NOS MOSTRAR A VIDA E A OBRA DE TEIXEIRINHA DESTA FORMA BONITA E ALEGRE. BEIJOS A VOCÊ! TENHA UM FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO E ATÉ 2008 SE DEUS QUISER!

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