MUNDO TEIXEIRINHA - Edição 4

>> 26 de out. de 2007


Nesta semana, tive algumas surpresas muito agradáveis e gostaria de compartilhar com todos. Vamos lá!

XVI Congresso de Iniciação Científica

Como muitos já sabem, o blogueiro aqui é historiador novo na praça e está tentando seu lugar ao sol. Para isso não bastam horas de estudo; é preciso também expor os resultados de pesquisa. Por esta razão, na última quinta-feira (25/10) apresentei uma rápida comunicação no XVI Congresso de Iniciação Científica da VI Mostra da Produção Universitária, promovida pela Fundação Universidade Federal do Rio Grande. Na palestra, intitulada “‘Teixeirinha, o Rei do Disco’: um estudo das concepções sociais populares através da produção musical de Vitor Mateus Teixeira”, falei de algumas músicas do “Gaúcho coração do Rio Grande” dentro do contexto histórico brasileiro. O resultado foi animador!

Tem cada história...

Na véspera da apresentação no Congresso de Iniciação Científica recebi um telefonema no mínimo inusitado. Já era noite, quando o até então desconhecido Nilton José Tavares, da Brigada Militar de Dois Irmãos, me surpreendeu dizendo-se fã de Teixeirinha e querendo me parabenizar pelo blog e pela pesquisa desenvolvida. Depois da surpresa conversamos por quase meia hora e Nilton me falou de sua paixão pela vida e obra do “Rei do Disco”. Foi um papo emocionante e, para mim, estimulante, pois mostra – mais uma vez – que tem gente valorizando nosso trabalho. Obrigado Nilton!

Língua de trapo

A Rozélia Baptista perguntou na semana passada se a música “Língua de trapo”, lançada em 1966 foi feita para o cantor Gildo de Freitas. Respondendo: até onde sei, a canção foi escrita como uma resposta sutil ao apresentador Flávio Cavalcanti (eterno crítico de Teixeirinha) e estendida aos demais críticos do cantor.

Teixeirinha na Rádio UCS

Essa aconteceu na semana retrasada, mas não pode ficar sem registro. A estudante de jornalismo Simone Bignoli da Universidade de Caxias do Sul entrou em contato comigo para que eu concedesse uma entrevista à Rádio UCS. Ela e a equipe da rádio estão preparando um programa especial sobre a influência de Teixeirinha na cultura gaúcha. Ainda não há data certa para a reprodução do especial.

Guerreiro direto de Portugal

Quem tem informantes não fica desamparado. O sempre prestativo amigo Arnaldo Guerreiro, instigado pelo artigo sobre a vida do cantor Jorge Camargo, fez um levantamento sobre todas as músicas compostas por Teixeirinha e gravadas por outros cantores. A listagem abrange 113 títulos e uma infinidade de artistas. Assim que houver oportunidade apresento a vocês.

Falando em Jorge Camargo...

Já estou em débito com vocês. Depois de conseguir inúmeras informações sobre o cantor (inclusive fotos) está na hora de preparar uma matéria especial falando dele. Provavelmente virá em breve.

Próximos temas

Atendendo a pedidos, na semana que vem trago a prometida matéria sobre a vida atual de Mary Terezinha. Depois desta, a intenção é inaugurar a sessão “Discografia comentada”, que consiste no seguinte: uma vez por mês irei escolher um LP que será comentado aqui no blog (com direito a ficha técnica e imagem da capa). Finalmente, lá por novembro teremos mais uma matéria sobre Jorge Camargo (em resposta à primeira). E lembrando: estou mais aberto do que nunca às sugestões para textos!

Dicas – Sites de Vendas

O amigo Luiz Fernando pediu informações e links sobre sites onde os fãs de Teixeirinha podem adquirir produtos. Na semana passada informei dois bons lugares: o site AlfaMusic (http://www.alfamusic.com.br/) e o próprio site oficial da Fundação Teixeirinha (www.teixeirinha.com.br/loja). Aí vão mais algumas dicas: UOL Megastore (www.megastore.uol.com.br/acervo/sertanejo/t/teixeirinha), Revivendo Músicas (http://www.revivendomusicas.com.br/) e Submarino (http://www.submarino.com.br/). Espero que ajude!

Agradecimentos:

Nunca é demais lembrar dos nomes que só tem ajudado este blog a crescer: Nilton José Tavares, Arnaldo Guerreiro, Rozélia Baptista (seja bem vinda!) e Cassiano Ferreira. Abraços a todos!

E já sabem, abaixo a matéria desta semana aqui no Revivendo Teixeirinha. Esta semana trago a vocês o ESTILO TEIXEIRINHA!

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ESTILO TEIXEIRINHA

Em algum momento da vida, todo mundo já se deparou observando velhas fotografias. Geralmente, nos achamos melhores no presente do que no passado. Quase sempre nossa reação é de espanto com as roupas, penteados e por aí vai. O importante é que todos mudam, e muito!
Como não seria diferente, o astro Teixeirinha também passou por enormes transformações ao longo de seus 59 anos de vida. Arrisco a dizer mais: ele foi um verdadeiro camaleão! Mudou de estilo várias vezes e foi um gaúcho pra lá de vaidoso. A maioria destas mudanças pode ser percebida nas capas de seus LPs, nas milhares de fotografias que lhe foram tiradas e, principalmente, nos 12 filmes em que ele foi o ator principal.
Como ele era até os dezoito anos pouco se sabe. Infelizmente, não restaram fotos deste período e a imagem de Miro Soares, que viveu o menino Vitor em Coração de Luto (1966), não parece ser a mais certa para que possamos imaginar Teixeirinha; principalmente por que Miro ostenta cabelos muito lisos na época das filmagens, ao passo que Teixeira parece sempre ter tido uma vasta cabeleira cacheada.
Teixeirinha antes da fama: sorriso maroto...

Depois dos dezoito anos já sabemos como era Teixeirinha. Fotografias mostram um jovem magro de cabelos rebeldes e dentes mal-cuidados. Nesta época, quando ainda construía estradas como empregado do DAER, Teixeirinha vestia-se humildemente como os trabalhadores de seu tempo. As mudanças só viriam nos anos 1950. Já famoso pelo interior do Rio Grande do Sul, Teixeirinha passara a ostentar um fino bigode (no mais alto estilo Clark Gable). Era um homem maduro, quase sempre pilchado, apresentando-se em programas de rádio. Em 1957, quando se casou com Zoraida Lima Teixeira, vestiu – talvez pela primeira vez – um smoking.
Casamento de Teixeirinha e Zoraida Lima Teixeira, 1957

Dois anos depois do matrimônio, apareceu pela primeira vez no mercado fonográfico brasileiro. No início da década de 1960, seus cabelos cacheados castanho-claro eram meticulosamente glostorados e penteados para trás. O bigodinho também era mantido bem aparado, sendo uma marca daquele período. Nos primeiros LPs, quando não estava trajado à gaúcho, Teixeirinha aparecia em ternos quase sempre discretos. As gravatas eram daquelas fininhas. No mais, anéis não muito pequenos, belos relógios e uma indiscreta (nos termos de hoje) sobre-saliência nas unhas dos dedos mínimos nas duas mãos completavam o estilo do Teixeirinha daqueles tempos.
LP "O rei do disco" (1965)

Mas, mesmo vaidoso, faltava a ele o conhecimento sobre o que era ou não “moda”. O ato de tingir os cabelos e o bigode não compensava a falta de talento na hora de escolher as roupas e, também, de vesti-las. Com pilchas ficava melhor caracterizado. Porém, as apresentações na TV ocorridas no centro do país muitas vezes exigiam roupas mais formais. Entre os anos de 1967 e 1970, finalmente começaram as primeiras grandes mudanças na aparência do cantor. Em 1969, pela primeira vez desde que se lançara no disco, Teixeirinha aparecia sem o famoso bigode. Tudo indica que o “bigodinho preto” tenha sido raspado na intenção de rejuvenescer o artista, então com mais de quarenta anos.
Teixeirinha e Mary Terezinha: novo visual para os anos 70

As mudanças não pararam por aí. No início daqueles anos 70 Teixeirinha substituiria os convencionais ternos por calças boca-de-sino e camisas com estampas espalhafatosas. Nos discos deste período (a maioria lançados pela gravadora Copacabana), Teixeirinha varia entre blusas, camisetas e até uma elegante jaqueta de couro. Foi por esta época que o cabelo começou a crescer sendo acompanhado por costeletas cada vez maiores, típicas daquela época.
Por trás de tantas mudanças estava o novo conselheiro profissional de Teixeirinha, Clóvis Mezzomo. Pessoas ligadas ao “Rei do Disco” afirmam que a aproximação de Mezzomo foi importante, pois o cantor passou a valorizar mais sua aparência e até o comportamento junto ao público. Clóvis foi o responsável pela renovação do guarda-roupa do cantor e, como tudo indica, aconselhou Teixeirinha a utilizar as nada discretas plataformas de até dez centímetros nos sapatos. A medida visava compensar a baixa estatura de Teixeira (que era mais baixo do que Mary Terezinha, inclusive!) e foi adotada em todos os seus sapatos e botas, sem exceção.
Mais velho e de cabelos longos nos fim da década de 1970

De cabelos compridos e desalinhados, Teixeirinha submeteu-se a duas cirurgias plásticas nos anos 1970. Numa delas retirou as bolsas dos olhos com o renomado Ivo Pitanguy do Rio de Janeiro. Em outra ocasião, operou o nariz, deixando-o mais fino. No final daquela década, seus trajes eram nada discretos, num misto de ternos chamativos e pilchas acrescidas de bombachas listradas e camisas nem sempre convencionais (principalmente pelas cores). No mesmo período, o velho bigode regressou à face do cantor e desta vez para ficar. Não era mais o “bigodinho preto”, fininho e típico dos anos 1960. Agora era um bigode mais espesso, bem aparado e pintado.
Mas não era apenas o “bigodinho preto” que deixara de existir. O “rosto bem alinhado”, cantado no samba “Mocinho bonito”, também ficara para trás. As marcas dos tempos difíceis na orfandade e do sacrifício das viagens para divulgar suas músicas estavam estampadas em seus tentos. As rugas eram visíveis e o excesso de peso – uma característica da qual Teixeirinha nunca conseguira de desvencilhar – também. Quando ele e Mary Terezinha separaram-se em 1983, o cantor (debilitado por um câncer desde 1979) finalmente emagreceu, admitindo uma dieta que talvez nunca tenha ocorrido de fato. Com menos nove quilos na pesagem, Teixeirinha ficou mais exposto aos caprichos da velhice.
Em 1984, meses antes de falecer

Nos cinco anos anteriores a morte, Teixeirinha se parecia bastante com a atual imagem do conhecido cantor Reginaldo Rossi (considerado o “Rei do Brega”). Utilizava óculos escuros boa parte do tempo e tinha cabelos volumosos e muito crespos. O bigode e as mãos pequeninas davam-lhe um toque particular. Certa vez, ele mesmo declarou à revista “O Cruzeiro” que não se considerava um homem bonito. Não era “um pão”, na gíria da época – mas não teve dificuldades com as mulheres por conta disso. Foi um homem em transformação, adequando-se ao estilo de seu tempo, mas – indiscutivelmente – dono de sua própria moda: o estilo Teixeirinha.

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MUNDO TEIXEIRINHA - Edição 3

>> 19 de out. de 2007


Nesta semana recebi várias mensagens, li atentamente e chegou a hora de responde-las. Vamos lá então.
Teixeirinha Raridades
Depois da matéria sobre as raridades de Teixerinha (ver Arquivos), o Alécio respondeu afirmando ter pelo duas revistas sobre o "Rei do disco". Além da revistinha "20 anos de glória" (1979) ele tem também a cobiçadíssima "Coração de Luto em quadrinhos". Parabéns!
Produtos e compras
Excelente dica do amigo Luiz Fernando para que eu liste alguns bons sites onde se pode comprar produtos sobre Teixeirinha. Vou providenciar isso na próxima semana, mas - por hora - posso indicar dois bons sites: o site da Fundação Teixeirinha (http://www.teixeirinha.com.br/) e o excelente AlfaMusic (http://www.alfamusic.com.br/). Semana que vem trago outros sites!
Mary Terezinha
Em breve vem chegando a matéria sobre Mary Terezinha e também sobre seu livro "A gaita nua". O Julio Pedro Martins pediu para que eu postasse uma foto da capa do livro, pois nem todos o conhecem. Já estou avisando que farei isso assim que for possível. Obrigado pela dica!
Agradecimentos
Muita gente interessante passou por aqui nesta semana e deixou seu recadinho. Além dos que já citei anteriormente, quero agradecer aos amigos Cristiano Aresi, Plínio Menegon, Fernanda Athayde e Rozélia Baptista. Meu abraço a todos!
E agora, atendendo ao pedido do Cassiano Ferreira, trago a matéria especialíssima sobre as brigas entre Teixeirinha e Gildo de Freitas. Confira logo abaixo COMPADRE GILDO!

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COMPADRE GILDO

Teixeirinha e Gildo de Freitas em 3/03/1967 (Aniversário de 40 anos de Teixeirinha)


O menino Victor Mateus Teixeira tinha apenas 10 anos de idade quando Leovegildo José de Freitas (então com 18 anos) foi preso pela primeira vez. Este rapazote, mais conhecido como Gildo de Freitas, nascera em 1919, no interior rural de Porto Alegre. Ele seria preso mais de quarenta vezes, mas não se tornou conhecido por sua ficha policial. Ao contrário: Gildo seria para sempre o “Trovador dos Pampas”.
Até os anos 1950, Gildo de Freitas era um amador. Entre uma confusão e outra, apresentava-se em pequenos bailes por todo o Rio Grande do Sul. Já era conhecido como um trovador de respeito. Mais do que isso, era visto como imbatível, como o melhor repentista do Estado. Por volta de 1953, começou a cantar ao vivo nas rádios da capital, passando a ser um dos artistas mais populares do Estado. Nesta época, ele conheceu o jovem Teixeirinha, um outro amador que buscava seu espaço. A amizade foi natural e, em 1955, os dois saíram pelos pampas animando bailes e festas. Neste período, a dupla Gildo de Freitas e Teixeirinha (que não era o mais conhecido) viveu intensas aventuras. Certa feita, estavam há horas trovando. Cansado e querendo liquidar a história, Gildo lançou um verso onde denunciava a “imoralidade” de um casalzinho que dançava mais apertado no fundo do salão. Logo se formou a confusão e os dois trovadores, satisfeitos, já foram guardando os instrumentos. De repente, um tiro silenciou o entrevero. Um sujeito forte e bigodudo aproximou-se dos cantores de arma na mão e falou de forma ordeira: “Eu sou o delegado e garanto que não vai haver mais briga. Os moços podem tocar tranqüilos até de manhã!”
Mas a vida desordenada de Gildo não combinava com o espírito visionário de Teixeirinha e a dupla não perdurou. Continuaram amigos, mas cada um seguiu seu caminho. Em 1959, como conseqüência natural de seu talento, Teixeirinha foi gravar em São Paulo. Gildo, indeciso sobre sua própria carreira, hesitava entre a música e a vida no interior. Em 1963, já consagrado, o “Rei do Disco” gravou seu primeiro LP com músicas de outros autores. No disco “Teixeirinha interpreta músicas de amigos”, o cantor lançou logo na segunda faixa a música “Cobra sucuri”, de Gildo de Freitas. Pereira, então diretor da gravadora Chantecler, agradou-se do arrasta-pé e quis conhecer o autor da música. No mesmo ano, Gildo de Freitas realizaria suas primeiras gravações.
Apesar de ter sido gravada por Teixeirinha, “Cobra sucuri” era uma provocação ao “Rei do disco”. Ela fazia parte de um acordo prévio, entre ele e Gildo. No trato (proposto pelo trovador) eles iniciariam uma guerra de rimas, uma espécie de trova pelos discos. Um faria o golpe e o outro o contragolpe. Gildo queria vender discos e tornar-se conhecido. Teixeirinha precisava manter-se na parada de sucessos. A fórmula era perfeita.
No mesmo ano de 1963, Teixeirinha lançou a música “Cobra jibóia”. O nome de Gildo não figura em momento algum, mas a resposta à “Cobra sucuri” está explícita em versos como este:



Conseguiu matar a cobra
Lá de cima eu não desci
Meu compadre estava brabo
E eu quase morto de rir

Ele perguntou porque
Eu então lhe respondi
Cobra comprida demais
O senhor não pode engolir



Gildo não perdeu tempo em responder. Gravou “Abre o olho rapaz”, iniciando oficialmente aquela que seria, talvez, a maior guerra musical entre dois cantores na história do Rio Grande do Sul. Diante do público, Teixeirinha e Gildo de Freitas tornaram-se inimigos mortais, embora – como o próprio Teixeira afirmou – saíssem para tomar uma cerveja juntos quando todos pensavam que iam se matar. Na primeira resposta a Teixeirinha, Gildo preferiu um ataque ameno:



Essa história de jibóia
Que o Teixeira tem contado
Que a jibóia me engoliu
Mas não foi por descuidado

Ela abriu-se eu saltei dentro
Depois cheguei lá no centro
Pra descansar um bocado...
Mas naquela mesma hora
Ela abriu-se eu saltei fora
Mas, porém, do mesmo lado



Mas a briga esquentaria... e muito! Começou a ficar boa mesmo quando Gildo lascou uma absurda infinidade de bons versos na célebre “Baile de respeito”:



Eu fui num baile
Donde tava o Teixeirinha
Já criando ladainha
Cheguei arrastando a espora
Preguei-lhe o grito
Hoje o baile tem respeito
Olhei firme pro sujeito
E já se mandou porta afora



Foi o estopim. Dali para frente a guerra estava definitivamente declarada. Em 1965, Teixeirinha dispara “Baile de mais respeito”, a resposta a Gildo. Antes mesmo dos primeiros versos, ele craveja: “Te prepara, Gildo Freitas, que esta vai pra ti! Petiço por petiço, tu também é!” Era a “resposta à caráter” para a declaração feita por Gildo num dos intervalos do “Baile de respeito”: “E vai te mandando nanico! Petiço da perna curta tem que largar primeiro!”.
Nos versos, “Baile de mais respeito” detona Gildo:



Dei um grito: - Pára gaita!
Teixeirinha está chegando
Perguntei pro Chico Torto:
- Quem é que aqui está mandando?

Me diz que é o Gildo de ‘Freita’
Que o povo está respeitando
Eu disse: - Não manda mais!
Trunfo é pau e o meu é ás
Disparou, gritei detrás:
- Te arranca, que tão pegando!



E não parou por aí. Em 1966, Teixeirinha mexeu no assunto das cobras novamente. Desta vez ele gravou “A cobra cascavel”, uma das jóias da briga:



Compadre Gildo de ‘Freita’ me disse
Pra eu me virar numa cobra comprida
Pra engolir ele com espora e tudo
Perca a esperança, a parada é perdida

Eu vou ficar no mundo pra semente
Comigo ‘fica’ dez ‘mulher querida’
Fazendo letra de todas as ‘cobra’
Que por ti todas já foram ‘engolida’
Não adianta mudar teu destino
Tu vai comer cobra toda tua vida



Mesmo com as dificuldades de saúde – e também sofrendo com as indecisões da gravadora – Gildo de Freitas continuou alfinetando Teixeirinha. Na realidade, a briga discorreu pelos anos 1970, e chegou a momentos mais tensos. Depois dos bailes e das cobras, eles descambaram para as armas. Teixeirinha gravou “Relho trançado”, “Facão de três listas”, “Adaga de esse” e “Dois quarenta e cinco” (embora esta pareça não ser para Gildo). O “Trovador dos pampas”, por sua vez, respondeu com “Resposta do relho trançado”, “Resposta do facão três listas” e “Resposta da adaga de esse”. Ainda nas respostas, se atreveu a provocar Teixeirinha em um de seus maiores sucessos. Em “Resposta da milonga”, Gildo alfineta a “Milonga da Fronteira” e seu autor:



Ô Teixeirinha, um dia destes
Eu andei lá na fronteira
Lá adonde tu perdestes
Pra gaúcha milongueira

Um lugar muito bonito
A china bonita e bela
Só achei muito esquisito
Tu ter perdido pra ela



Conforme os anos foram passando, a briga foi se acentuando. Surgiram outras canções: “Não enjeito proposta” e “Não mexe com quem está quieto” (Gildo de Fretas) e “Foi tu que mexeu comigo” (Teixeirinha). No fim dos anos 1970, Gildo fuzilava Teixeirinha com versos onde chamava o cantor de “nanico”, “gaúcho fingido”, “guaipeca” e por aí vai. As fofocas sobre o rompimento entre os dois começaram a circular por toda a parte. Um dia, depois de tanto falatório, acabaram brigando de fato. Foi aí que Teixeirinha compôs o “Cachorro velho”, música de letra forte que diz no refrão:



Te desrecalca cachorro
Cachorro velho, recalcado
Anda rosnando o meu nome
Parece que está com fome
Pedindo o relho trançado



Desta feita, Gildo não pôde responder. A “Resposta do cachorro velho” era tão forte que a Censura (alguns dizem que foi a própria gravadora) proibiu que fosse lançada. A fita com a canção existe, mas ninguém sabe onde está (é mais uma raridade!). Tempos depois, Gildo voltou à carga com “Baile dos cabeludos”, uma canção bem-humorada e mais amena onde ele considerava Teixeirinha novamente como compadre (esta relação, até onde se sabe, só existiu nas gravações, pois um não registrou nenhum filho do outro). Na letra, um toque de bom humor:



E o meu compadre Teixeira, quando terminou a rinha
Se agarrou num cabeludo dizendo assim – “Esta é minha!”
Que menina parecida com a Mary Terezinha
Fui obrigado a gritar – “Larga o homem, Teixeirinha!”



Mas o “cessar-fogo” durou pouco. Em seguida Gildo resolveu provocar novamente com “Que negrinha boa” (infelizmente não tenho esta letra), onde ele debochava de Mary Terezinha. A resposta de Teixeirinha estava pronta para ser gravada em 1983, mas Gildo estava internado no hospital Nossa Senhora da Conceição e o “Rei do disco” preferiu guardá-la. O passar dos dias começou a apontar para o fim definitivo da briga com Gildo de Freitas. O “Trovador dos pampas” estava em fase terminal, vítima de efisema pulmonar, cirrose, problemas cardíacos, cerebrais, hemorragias e etc. Já passava os dias sentado, abraçado ao violão e “conversando com Deus”. Na madrugada de 4 de dezembro, faleceu em casa.
Depois da morte de Gildo de Freitas, Teixeirinha compôs “Compadre Gildo”, uma última e especial homenagem ao amigo. Nos primeiros versos, Teixeira mostra que aquela briga não era tão séria assim...



Compadre Gildo de Freitas
Encerrastes a carreira
Acabou a nossa guerra
Que era pura brincadeira



Em 1984 a história de Gildo de Freitas virou livro e Teixeirinha falou pela primeira vez sobre a briga dos dois. Na entrevista que deu ao autor do livro, o jornalista Juarez Fonseca, “O gaúcho coração do Rio Grande” revelou: “Já nos últimos anos, ele me deu de presente de aniversário um relógio de prata antigo, que até hoje guardo. A gente sempre olhou um pelo outro. Para ajudar ele, o quê que eu não fazia? As fofocas e besteiras que inventaram a nosso respeito não foi culpa nossa.” Dois anos depois, numa mesma madrugada de 4 de dezembro (agora de 1985), era a vez de Teixeirinha partir. Onde quer que estejam desde esta data, devem estar trovando...

Com a colaboração dos amigos Moisés Simões Moreira e Arnaldo Guerreiro

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MUNDO TEIXEIRINHA II

>> 13 de out. de 2007

Semana com poucas novidades no "Mundo Teixeirinha". É hora de aproveitar e responder alguns dos pedidos que me foram feitos por fãs e internautas que estão acessando o blog em várias partes do Brasil!
Jorge Camargo, Xará e Timbaúva e outros

O internauta Mauro Trindade deixou um recado na CBox lembrando que, além de Jorge Camargo, a dupla Xará e Timbaúva também gravou músicas de Teixeirinha. Quero avisar a todos que estarei desde já procurando por informações sobres estes cantores. Quem puder ajudar, sinta-se à vontade!

Gildo de Freitas

Boas notícias para o Cassiano Ferreira e também para todos aqueles que aguardam matérias sobre Teixeirinha e Gildo de Freitas. Já estou com boa parte das músicas selecionadas e o texto deverá sair - se tudo correr bem - na próxima semana! "Te prepara Gildo de Freitas..."

Mary Terezinha

A Fernanda Athayde pediu e eu vou atender. Depois da matéria sobre Gildo de Freitas, vamos ter mais um texto especial dedicado a Mary Terezinha. Pretendo falar da carreira atual da acordeonista mais querida do Brasil. Aguardem!

You Tube

Alguns amigos tem pedido imagens de Teixeirinha no You Tube. O problema está em conseguir estas imagens. Pessoalmente, não conheço ninguém que possua vídeos do cantor e que possa postá-los no site. Quando conseguir, certamente irei avisar por aqui.

Agradecimentos:

Nesta semana o Revivendo Teixeirinha contou com a visita de muitos internautas. Aos que passaram por aqui deixo o meu muito obrigado. Aos que se identificaram, também. Ao Juliano Cardoso, Fernanda Athayde, Cassiano Ferreira, Mauro Trindade, Nilton José Tavares, Antonio Cândido e ao Leandro da Costa deixo meu agradecimento. Valeu pela força!

Semana que vem tem mais. Convido a todos para que acompanhem a seguir a matéria AS RARIDADES DE TEIXEIRINHA, o texto especial desta semana aqui no blog. Tudo de bom para vocês!

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AS RARIDADES DE TEIXEIRINHA

Não adianta: quem é fã de verdade sempre quer saber e ter mais informações sobre seu ídolo. Aliás, informações geralmente não são o suficiente. Na maioria das vezes, o admirador é também um ávido colecionador, daqueles que anda sempre à procura de novidades.
Aos poucos, estes colecionadores começam a conviver entre si. Quando se encontram, a disputa é inevitável: um quer ter mais raridades do que o outro. Se o assunto é Teixeirinha então... Três dos maiores colecionadores de que se tem notícia ilustram bem o que estamos falando. O amigo Arnaldo Guerreiro, por exemplo, é dono de uma das maiores coleções sobre Teixeirinha em todo o planeta – mesmo morando do outro lado do Atlântico, em Portugal. Aqui no Estado gaúcho, temos outros dois grandes acervos: o do professor e também amigo Claudiomar de Oliveira (em Canguçu) e o do passo-fundense João do Prado. Juntos, estas três figuras ilustres do “mundo Teixeirinha” formam uma coleção que inclui quase toda a obra do “Rei do Disco”.


Em Canguçu, Claudiomar de Oliveira mantém um dos maiores acervos sobre Teixeirinha

Mas, não devemos nos iludir: estes casos são uma exceção. A maioria dos fãs possuem pequenas coleções de LP’s ou CD’s. Em alguns poucos casos, encontramos um ou outro que guarda – muitas vezes no fundo de um baú ou debaixo do colchão – alguma peça menos conhecida. Contudo, todos - donos de pequenas ou grandes coleções - são unânimes: todo mundo sonha em ter certas raridades. Quem não imaginou ter, por exemplo, um chapéu ou violão utilizado por Teixeirinha? E um autógrafo então?
Pensando nestes ítens raros e cobiçados, vou apresentar hoje alguns dos mais difíceis de serem encontrados nas coleções sobre Teixeirinha. São peças geralmente esgotadas, das quais sobraram poucos exemplares. Verdadeiras raridades que enchem de orgulho os poucos sortudos que – de uma forma ou outra – tem o prazer de as possuírem.


“Coração de Luto em Quadrinhos”

Começamos com um item cobiçadíssimo e raro: a revista em quadrinhos feita com base na música “Coração de Luto”! Editada em 1974, pela Person Publicidade, a publicação teve tiragem de 20.000 exemplares e foi vendida no Brasil e em Portugal. Poucos números sobreviveram até os dias de hoje. Pesquisando entre meus “informantes”, pude apurar que apenas os grandes fãs possuem este item. Isso porque, “Coração de Luto em quadrinhos” não é mais encontrada à venda (mesmo em sites de relíquias) e quem tem não se desfaz.

“Teixeirinha interpreta músicas de amigos”

Também conhecido como “Teixeirinha interpreta”. Trata-se de um LP especial de 1963 onde – pela primeira vez em sua carreira – Teixeirinha dedicou-se a cantar apenas músicas de outros compositores. Algumas destas canções já foram digitalizadas (“Cobra sucuri”, de Gildo de Freitas e “Quando sopra o minuano”, de Elyo Theodoro). Porém, a maioria delas é desconhecida pelo grande público e, mesmo entre os grandes colecionadores, este é um LP raro. Quem encontrá-lo à venda em sebos ou casas especializadas deve ser esperto e comprar esta relíquia. Mais uma curiosidade: este é o único disco em que Teixeirinha não aparece na capa. Em seu lugar está uma fotografia da estátua do Laçador de Porto Alegre.


“Coração de Luto” – 78RPM

Muita gente pode ter a música “Coração de Luto”, mas o disco original lançado em julho de 1960 é raríssimo. LP’s e compactos são encontrados com facilidade. Contudo, o 78RPM contendo as músicas “Gaúcho de Passo Fundo” e “Coração de Luto” tem sido objeto de disputa entre os colecionadores. Isso porque, apesar de não ser o primeiro disco do cantor, este vinil foi o responsável por sua projeção nacional. Reedições do 78RPM podem ser encontradas em sites especializados. O preço é que não agrada muito...

“Novo som de Teixeirinha”

É um LP relativamente jovem (foi lançado em 1977), mas praticamente impossível de ser encontrado. Não consta à venda em nenhum site e a maior parte de suas canções não foi remasterizada. Contudo, é um disco cobiçado e interessante. Nele, Teixeirinha canta alguns de seus maiores sucessos, só que com arranjos completamente renovados. É outro item de que nem todos os colecionadores dispõem.


“Modinhas Sertanejas – Teixeirinha”

Sabe-se que pelo menos seis números da Revista Modinhas Sertanejasa – Teixeirinha foram lançados. A maioria deles chegou ao público no início dos anos 1960. São pequenas publicações que lembram o cordel. Nelas, publicaram-se composições que já eram sucesso na voz de Teixeirinha, mas também letras que jamais foram gravadas (pelo menos até onde se tem notícia). Estas composições “inéditas” são os maiores motivos de supervalorização desta revista. Poucos colecionadores a possuem. Além disso, encontra-las às venda é praticamente impossível.

“Compadre Gildo / Vamos dançar a vaneira”

Um dos últimos compactos lançados por Teixeirinha. Segundo dados colhidos na Fundação Teixeirinha, ele teria sido produzido pela Warner Music do Brasil em 1984, sendo registrado com o número 211.101.008. Merece destaque a canção principal, feita por Teixeirinha em homenagem ao amigo Gildo de Freitas que acabara de falecer. É um disco sumido, do qual ninguém dispõe de muitas informações. Apesar disso, suas músicas se difundiram até nossos dias, estando no formato digital, graças ao câmbio negro e à pirataria.

Autógrafo de Teixeirinha

Esse é talvez o mais cobiçado e, ao mesmo tempo, o mais difícil item de Teixeirinha. Seu autógrafo, com direito à dedicatória, é um item que a imensa maioria de seus fãs não possui e nem irá possuir. Poucos, muito poucos, tem a assinatura do cantor com a dedicatória. Alguns, a possuem, mas destinada a outros (o que já é de grande valor). No geral, é um item quase impossível de ser encontrado.

Vejam, portanto, que existem itens cobiçados e pouco conhecidos. Quem os tem não vende, não troca e não dá. Quem não tem, sonha em consegui-los...

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MUNDO TEIXEIRINHA

>> 5 de out. de 2007


Devido ao sucesso do blog Revivendo Teixeirinha e atendendo a pedidos, estou lançando nesta semana uma novidade: agora, além das já tradicionais matérias, teremos uma postagem sobre o que é notícia no Mundo Teixeirinha. Espero que gostem!

Qual é a música?

O dia 16 de setembro foi marcado pelo reencontro da música de Teixeirinha com o Programa Silvio Santos. O momento ocorreu durante o quadro “Vitrine Musical”, do programa Qual é a música?, exibido pelo SBT. Primeiro, a música “Coração de luto” foi executada durante 30 segundos. Depois do trecho, a pergunta: de quem é esta voz? A cantora gaúcha Luka bem que hesitou, mas acabou acertando. Não teve a mesma sorte quando Silvio perguntou, afinal, qual era a música. O auditório acertou de primeira...

20 de setembro

A Fundação Teixeirinha esteve presente no Acampamento Farroupilha em Porto Alegre. Segundo informações, o piquete das farmácias Agafarma recebeu painéis ilustrando o sucesso do projeto “Teixeirinha Memória Nacional”. No domingo, 23 de setembro, Betha Teixeira comandou o Estúdio Betha da Rádio Rural diretamente do Acampamento.

Maria Celoí

A trabalho no Acampamento Farroupilha, minha colega e amiga Nicole Reis encontrou Maria Celoí, gaiteira que trabalhou durante alguns anos ao lado de Teixeirinha e Mary Terezinha. Segundo Nicole, Celoí está muito bem, morando na região metropolitana de Porto Alegre. Pra quem não se lembra, Maria Celoí participou do filme “Ela tornou-se freira” (1972), fazendo o papel de substituta de Mary Terezinha.

Jorge Camargo

Depois da matéria “Ele gravou Teixeirinha, mas foi esquecido”, choveram informações sobre o cantor Jorge Camargo. Ainda estou procurando novos dados, mas já posso adiantar que consegui dados surpreendentes. Em breve, uma nova matéria sobre o cantor.

Gildo de Freitas

Não falta muito: a tão aguardada matéria sobre as brigas de versos envolvendo Teixeirinha e Gildo de Freitas já está a caminho. Em breve, vamos nos divertir muito relembrando estes momentos épicos da música do Rio Grande do Sul. “E agora é a vez da adaga de S, tchê!”

Obrigado a todos pelos acessos e espero que tenham gostado desta Edição 1 do Mundo Teixeirinha. Confiram agora A PRIMEIRA SESSÃO DE FOTOS DE TEIXEIRINHA?, mais uma matéria do Revivendo Teixeirinha.

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A PRIMEIRA SESSÃO DE FOTOS DE TEIXEIRINHA?

A interminável obra de Teixeirinha mais parece uma caixa de surpresas de onde não param de sair novidades. Na semana passada, apareceu mais uma! Numa conversa com o colecionador e amigo Claudiomar de Oliveira – lá de Canguçu – ele enviou a foto da capa de um compacto que acabara de adquirir. Até aí, tudo normal. Mas, reparando na imagem, senti algo de familiar, como se já tivesse visto aquela fotografia antes.
Pois bem, descobri que não havia visto exatamente aquela capa. No entanto, vasculhando meus arquivos, encontrei duas imagens muito, mas muito semelhantes. Imediatamente, Claudiomar e eu começamos a especular sobre elas.
A primeira imagem – encontrada em 29 de abril deste ano, ao acaso, na Internet – é da capa do disco 78RPM “Coração de Luto”, lançado em 1960. Reparem que nela Teixeirinha está completamente pilchado, de botas, esporas, bombacha azul-escuro, camisa branca e lenço encarnado. Para completar, o cantor saboreia o chimarrão ao lado do lendário violão “sete-bocas”, tendo como cenário uma bela paisagem campeira. O disco traz estampado no canto superior esquerdo o selo Sertanejo, com a marca do galinho, símbolo da gravadora Chantecler.

78RPM "Coração de Luto" (1960)

A segunda capa – de um compacto sem data, enviada pelo amigo Claudiomar – traz exatamente o mesmo cenário (basta ver a paisagem com o enorme tronco de árvore que aparece ao fundo). Teixeirinha está numa posição diferente. Ao invés do chimarrão, o violão. Mas não é só isso: em comparação à imagem anterior, o lenço do “Rei do Disco” já não parece tão encarnado. As bombachas também não estão mais azuis, mas sim pretas. O selo do galinho cantor continua ali, embora tenha sido transferido para o canto direito.

Compacto "O Gaúcho Coração do Rio Grande"

Finalmente, a terceira fotografia – a mais popular, já impressa até em CD’s. É a capa do primeiro LP de Teixeirinha (“O Gaúcho Coração do Rio Grande”), lançado pela Chantecler em 1961. O cenário se repete mais uma vez. O cantor, no entanto, está servindo a cuia do mate com a água da chaleira. Ele segura entre os dedos da mão esquerda um cigarro. O violão está no chão mais uma vez. Mas, reparem: a bombacha é azul novamente (e desta vez não tão escura)! O lenço está longe de ser vermelho. Até o selo Sertanejo já não aparece mais. Em seu lugar, está outro, o Alvorada.

LP "Teixeirinha - O Gaúcho Coração do Rio Grande" (1961)

Três imagens e algumas possibilidades. Primeiro: provavelmente elas foram produzidas no ano de 1959 – mais tardar 1960. Todas elas serviram de capa nos primeiros discos de Teixeirinha. A primeira em 1960, no lançamento do 78RPM contendo “Gaúcho de Passo Fundo” e “Coração de Luto”. A segunda talvez no mesmo ano, num compacto que trouxe “Linda Terezinha”, “Rio Itapé”, “Sonhei contigo” (esta desconhecida) e “Flor do pago”. Finalmente, a terceira, em 1961, servindo de capa para o LP “O gaúcho coração do Rio Grande”.
Certamente as três fotografias foram tiradas no mesmo dia. O que explicaria, então, as mudanças nas cores do vestuário de Teixeirinha? Aí cabe uma teoria. Se observarmos atentamente a capa do LP “O gaúcho coração do Rio Grande”, veremos que as cores daquela imagem não parecem naturais. A bombacha utilizada pelo cantor mais parece um enorme borrão de tinta sobre o papel. O lenço – que naquela foto aparece lilás – também não dá a impressão de ser realmente daquele tom. Olhando para as três imagens, podemos perceber que em cada uma delas as cores aparecem modificadas. Com atenção, percebemos alterações até na cor do cabelo de Teixeirinha.
Outro motivo de dúvida: sabemos que o violão “sete-bocas” utilizado por Teixeirinha no início da carreira é da cor da madeira, diferindo-se apenas nos tons – mais claro no centro e mais escuro nas bordas do bojo. Nestas três imagens, entretanto, o mesmo violão aparece nas cores lilás e amarelo! A partir disso, só me resta supor que estas imagens tenham sido coloridas artificialmente. Não sei como, mas talvez elas tenham passado por algum processo semelhante às antigas litogravuras (desenhos muito semelhantes às fotografias de verdade), tendo suas cores reforçadas – se é que não foram forjadas.
Coloridas artificialmente ou não, estes retratos (originalmente tirados por Oswaldo Micheloni) podem ser considerados históricos e valiosos, pois marcam a fase inicial da carreira do “Rei do Disco”, além de se constituírem na única sessão de fotos de Teixeirinha das quais uma parte considerável chegou ao público. Teria sido esta a primeira sessão de fotografias da qual participou Vitor Mateus Teixeira? Curiosidade intrigante...

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