DISCOMENTANDO: "Canta meu povo" (1977)
>> 11 de set. de 2008
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A julgar pela discografia de Teixeirinha, o cantor estava um tanto quanto “sem paradeiro” em relação à sua permanência nas gravadoras, no final dos anos 1970. Em 1975, ele gravara o LP “Pobre João – Trilha Sonora do Filme” pela Continental. No ano seguinte, pela primeira vez desde 1961, o cantor acabou não lançando um disco com composições inéditas (o mercado fonográfico ainda respirava com a ajuda de aparelhos, em função da crise do petróleo que fez escassear a resina com a qual se produzia o vinil). Em 77, um caso raro: o Rei do Disco terminou o ano com três LPs inéditos, cada um gravado numa companhia diferente!
Um destes três discos, o de registro nº 1.07.405.111, foi produzido pela Continental e recebeu o título de “Canta meu povo” (o lado B foi intitulado “Fronteira Gaúcha”). É sobre ele que falarei hoje.
“Canta meu povo” é um daqueles LPs dos quais se sabe pouco. Ele não figura entre os mais fáceis de se encontrar nos sebos e talvez nem tenha alcançado uma expressiva vendagem, pois suas canções não são as mais conhecidas pelo público em geral. A meu ver, este disco se insere num momento de instabilidade na carreira de Teixeirinha, quando ele parece estar querendo se afastar um pouco do modelo romântico que marcou sua discografia na primeira metade da década de 70. Os arranjos, a variação instrumental e as próprias temáticas de “Canta meu povo” parecem denotar isso.
A primeira faixa do disco – que, aliás, dá nome ao long-play – é uma marcha. Nela, são utilizados os elementos da marchinha, com destaque para os instrumentos de sopro e o coro. A letra da canção, animada por um refrão (“Canta meu povo, canta / Não torne a vida em tristeza / Canta meu povo, canta / Canta meu povo que a vida é uma beleza...”) parece uma tentativa do cantor em passar uma mensagem de otimismo à população, num período em que o Brasil mergulhava numa grave crise econômica, espécie de enxaqueca do “Milagre Econômico”. Como mostrarei mais adiante, esta não foi a única marchinha deste disco.
A canção seguinte (“Meu nome é Corisco”) remonta as paisagens do campo e evoca a figura do gaúcho livre e “sem rumo certo”. É uma bonita canção de ritmo valseado e de instrumentalização marcada por gaita, violão e guitarra. Possivelmente seja uma das músicas mais conhecidas deste LP, já que foi reeditada em 1994 num disco em que Teixeirinha aparece acompanhado por outros cantores (uma montagem, onde a faixa contendo “Meu nome é Corisco” é cantada por Leonardo).
As quatro composições seguintes são de cunho praticamente auto-biográfico. A marcha “A ordem é essa” expressa boa parte do pensamento de Teixeirinha e das proezas das quais ele tanto gostava de se vangloriar (em especial a valentia e o dom de cantar em improviso). Já as duas canções seguintes (“Sou quem sou” e “Nossa árdua carreira”) falam da vida do cantor e dos trabalhos passados para que ele e sua companheira, Mary Terezinha, alcançassem o sucesso. Por fim, “Vinte de Setembro” traz uma homenagem ao “Dia do Gaúcho” e, ao mesmo tempo, conta a história de um desfile que teria acontecido em Passo Fundo. Curioso é notar que nos versos deste xote, Teixeirinha fala que “a prova do desfile / ta na capa do disco”. De fato, tanto na capa como na contracapa do LP, o cantor aparece trajado à gaúcho e à cavalo, numa paisagem campeira. Se aquela é uma imagem do tal desfile ou não, é informação que desconheço.
Virando o disco, temos um lado B representativo. Para cada canção de estilo mais “gauchesco”, temos uma composição ou romântica ou voltada ao humorismo. A instrumentalização continua como no lado A: guitarra elétrica em quase todas as composições, instrumentos de sopro em determinadas faixas e o eterno dueto gaita/violão, acompanhado de perto pela eficácia do contrabaixo e da percussão. As temáticas é que variam um pouco: “Marcelita”, a primeira faixa desta lado, é uma marchinha quase infantil sobre uma vaca que se apaixona pelo touro da vizinha; “Quem planta o bem, colhe o bem” é o único dueto deste LP e reflete sobre a carreira de Teixeirinha e Mary, mostrando que, no meio de tantas alegrias, muitos obstáculos se projetaram; “Fronteira gaúcha” (na minha opinião a melhor música desta obra) é mais uma homenagem de Teixeirinha à fronteira do Rio Grande do Sul com os países platinos; “Eu quisera” remonta o tema romântico, seguindo a linha de exaltação à mulher amada; “No braço do meu pinho”, composição de extremo talento, é mais uma tacada genial do compositor Teixeirinha na qual ele homenageia o violão, grande “canteiro” onde ele plantou tudo, da Mary ao “pé de imposto de renda”; por fim, “Conselho aos ébrios”, como o próprio nome já revela traz uma série de aconselhamentos àqueles que vivem em função do alcoolismo, na tentativa de fazê-los abandonar o vício.
“Canta meu povo” é um dos LPs nos quais as composições aparecem assinadas (não se sabe porquê) por Victor M. Teixeira, e não por Teixeirinha como na maioria dos discos. A meu ver, é apenas um detalhe. O disco de 1977 foi lançado em CD em 1995, sendo o terceiro volume da série “Dose Dupla” (Warner). No entanto, nesta reedição, as faixas “Vinte de Setembro” e “Conselho aos Ébrios” foram excluídas por problemas de cronometragem. A íntegra do LP só chegou às lojas em 2003, sendo o volume 27 da série “Gauchíssimo” (Warner/Orbeat). Atualmente, é um disco esgotado.
Um destes três discos, o de registro nº 1.07.405.111, foi produzido pela Continental e recebeu o título de “Canta meu povo” (o lado B foi intitulado “Fronteira Gaúcha”). É sobre ele que falarei hoje.
“Canta meu povo” é um daqueles LPs dos quais se sabe pouco. Ele não figura entre os mais fáceis de se encontrar nos sebos e talvez nem tenha alcançado uma expressiva vendagem, pois suas canções não são as mais conhecidas pelo público em geral. A meu ver, este disco se insere num momento de instabilidade na carreira de Teixeirinha, quando ele parece estar querendo se afastar um pouco do modelo romântico que marcou sua discografia na primeira metade da década de 70. Os arranjos, a variação instrumental e as próprias temáticas de “Canta meu povo” parecem denotar isso.
A primeira faixa do disco – que, aliás, dá nome ao long-play – é uma marcha. Nela, são utilizados os elementos da marchinha, com destaque para os instrumentos de sopro e o coro. A letra da canção, animada por um refrão (“Canta meu povo, canta / Não torne a vida em tristeza / Canta meu povo, canta / Canta meu povo que a vida é uma beleza...”) parece uma tentativa do cantor em passar uma mensagem de otimismo à população, num período em que o Brasil mergulhava numa grave crise econômica, espécie de enxaqueca do “Milagre Econômico”. Como mostrarei mais adiante, esta não foi a única marchinha deste disco.
A canção seguinte (“Meu nome é Corisco”) remonta as paisagens do campo e evoca a figura do gaúcho livre e “sem rumo certo”. É uma bonita canção de ritmo valseado e de instrumentalização marcada por gaita, violão e guitarra. Possivelmente seja uma das músicas mais conhecidas deste LP, já que foi reeditada em 1994 num disco em que Teixeirinha aparece acompanhado por outros cantores (uma montagem, onde a faixa contendo “Meu nome é Corisco” é cantada por Leonardo).
As quatro composições seguintes são de cunho praticamente auto-biográfico. A marcha “A ordem é essa” expressa boa parte do pensamento de Teixeirinha e das proezas das quais ele tanto gostava de se vangloriar (em especial a valentia e o dom de cantar em improviso). Já as duas canções seguintes (“Sou quem sou” e “Nossa árdua carreira”) falam da vida do cantor e dos trabalhos passados para que ele e sua companheira, Mary Terezinha, alcançassem o sucesso. Por fim, “Vinte de Setembro” traz uma homenagem ao “Dia do Gaúcho” e, ao mesmo tempo, conta a história de um desfile que teria acontecido em Passo Fundo. Curioso é notar que nos versos deste xote, Teixeirinha fala que “a prova do desfile / ta na capa do disco”. De fato, tanto na capa como na contracapa do LP, o cantor aparece trajado à gaúcho e à cavalo, numa paisagem campeira. Se aquela é uma imagem do tal desfile ou não, é informação que desconheço.
Virando o disco, temos um lado B representativo. Para cada canção de estilo mais “gauchesco”, temos uma composição ou romântica ou voltada ao humorismo. A instrumentalização continua como no lado A: guitarra elétrica em quase todas as composições, instrumentos de sopro em determinadas faixas e o eterno dueto gaita/violão, acompanhado de perto pela eficácia do contrabaixo e da percussão. As temáticas é que variam um pouco: “Marcelita”, a primeira faixa desta lado, é uma marchinha quase infantil sobre uma vaca que se apaixona pelo touro da vizinha; “Quem planta o bem, colhe o bem” é o único dueto deste LP e reflete sobre a carreira de Teixeirinha e Mary, mostrando que, no meio de tantas alegrias, muitos obstáculos se projetaram; “Fronteira gaúcha” (na minha opinião a melhor música desta obra) é mais uma homenagem de Teixeirinha à fronteira do Rio Grande do Sul com os países platinos; “Eu quisera” remonta o tema romântico, seguindo a linha de exaltação à mulher amada; “No braço do meu pinho”, composição de extremo talento, é mais uma tacada genial do compositor Teixeirinha na qual ele homenageia o violão, grande “canteiro” onde ele plantou tudo, da Mary ao “pé de imposto de renda”; por fim, “Conselho aos ébrios”, como o próprio nome já revela traz uma série de aconselhamentos àqueles que vivem em função do alcoolismo, na tentativa de fazê-los abandonar o vício.
“Canta meu povo” é um dos LPs nos quais as composições aparecem assinadas (não se sabe porquê) por Victor M. Teixeira, e não por Teixeirinha como na maioria dos discos. A meu ver, é apenas um detalhe. O disco de 1977 foi lançado em CD em 1995, sendo o terceiro volume da série “Dose Dupla” (Warner). No entanto, nesta reedição, as faixas “Vinte de Setembro” e “Conselho aos Ébrios” foram excluídas por problemas de cronometragem. A íntegra do LP só chegou às lojas em 2003, sendo o volume 27 da série “Gauchíssimo” (Warner/Orbeat). Atualmente, é um disco esgotado.
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