CORAÇÃO DE LUTO: 40 ANOS DEPOIS (PARTE 3)

>> 14 de set. de 2007


Cartaz de lançamento do filme "Coração de Luto" (1966)

Apresento agora a última matéria desta série especial em homenagem aos 40 anos de lançamento do filme “Coração de Luto”. Depois de saber como nasceu a idéia do filme e alguns detalhes sobre a produção, chegou a hora de falarmos sobre o lançamento e o sucesso de “Coração de Luto”. Boa leitura!

O filme Coração de Luto

No dia 19 de setembro de 1967, os jornais gaúchos traziam em destaque o lançamento do primeiro filme de Teixeirinha. Uma grande expectativa cercava “Coração de Luto”, produção da Leopoldis Som que, acreditava-se, abriria as portas da indústria cinematográfica no Estado.
A milionária fita da Leopoldis foi lançada com festa em sete cinemas da capital gaúcha: Imperial, Tália, Avenida, Colombo, Atlas, Rosário e Marrocos. Multidões se enfileiravam na porta das salas de projeção para assistir o ídolo nas telas. Enquanto isso, distribuidores de todo o país brigavam (de soco!) para saber quem teria a felicidade de projetar os filmes do “Rei do Disco”. Não era uma briga à toa: nas primeiras semanas, mais de 40 mil espectadores foram assistir “Coração de Luto”, gerando uma renda de 53 milhões de cruzeiros, conforme notícia do Correio do Povo (27/9/67).
“Coração de Luto” é um filme de 90 minutos (o terceiro no Rio Grande do Sul a ser produzido com mais de uma hora de duração) que tem por base de roteiro o célebre sucesso musical de Teixeirinha. Foi rodado em preto e branco, pois a Leopoldis Som ainda não possuía equipamentos capazes de produzir fitas coloridas.
Basicamente, a fita se divide em duas fases: na primeira, é contada a história do menino Vitor (Miro Soares) que vive feliz com até que, inesperadamente, seu pai morre. Vagando sem destino ao lado da mãe – Dona Ledurina (Amélia Bittencourt) –, eles conseguem instalar-se num pequeno rancho e a felicidade volta à casa dos Teixeira. Um dia, porém, ao chegar da escola, Vitor depara-se com sua mãe ferida por queimaduras graves. Descobre então que ela havia tido mais um de seus ataques epiléticos, vindo a cair sobre uma pequena fogueira no quintal do rancho. Depois de aconselhar Vitor para que ele seja sempre um homem honesto e tenha amor aos pobres e humildes, Dona Ledurina morre, deixando seu filho de nove anos sozinho pelo mundo.


O pequeno Miro Soares vive Teixeirinha na infância

Após morar por alguns dias na casa de conhecidos, o pequeno Vitor decide fugir para Porto Alegre em busca de uma vida feliz. No caminho, encontra-se com Rosa Maria, uma menina que implora para que ele não siga viagem. Os dois acabam firmando um pacto de sangue e prometem reencontrar-se no futuro. Vitor segue viagem, chegando à capital gaúcha onde passa a viver como andarilho. De repente, surge a oportunidade de cantar em rádios e o menino torna-se o artista Teixeirinha (Vitor Mateus Teixeira).
Com sucesso nacional e internacional, Teixeirinha é aclamado por platéias de toda a parte, vende milhares de disco e realiza inúmeros shows. Um dia, no entanto, ele decide regressar ao povoado onde sua mãe foi sepultada a fim de ordenar a construção de uma melhor sepultura para sua genitora. No regresso, Teixeirinha só encontra o sepulcro de Dona Ledurina graças a uma pequena margarida que ele mesmo havia plantado e que sobrevivera às gerações. Ainda no cemitério, o artista depara-se com uma bela moça (Mary Terezinha) sem saber que aquela é Rosa Maria e que está prestes a casar-se com o rico e poderoso meio-irmão do cantor.

Teixeirinha & Mary Terezinha em "Coração de Luto"

Depois de uma série de brigas entre Teixeirinha e seu opositor, o cantor finalmente consegue casar-se com Rosa Maria, partindo da cidade ao som da música feita em homenagem à moça (“Rosa Maria”) e que foi composta especialmente para o filme. É o final feliz de “Coração de Luto”...
Existem alguns pontos curiosos no filme (aliás, não são poucos). Num primeiro momento, por exemplo, merece atenção a trilha sonora, composta por Sandino Hohagen e executada ao som de violas. A maioria das músicas é baseada na obra de Teixeirinha, ou então em passagens folclóricas, como o célebre “Boi Barroso”.
Outro ponto interessante é a seqüência de cenas mostrando Porto Alegre e São Paulo. Também chama atenção a reconstituição do dia em que Teixeirinha gravou “Coração de Luto” e, ainda, alguns anúncios publicitários de praxe (como o da companhia aérea VARIG).
Alguns momentos marcantes estão relacionados a diálogos que mostram um pouco do pensamento vigente no período. Um exemplo é a frase “Há cousa muito mais importante que o dinheiro”, dita pelo próprio Teixeirinha num dado momento. Outra que causa sensação é a declaração do delegado da cidade em relação ao meio-irmão de Teixeirinha: “No Brasil não há mais lugar para coronelismo!”. Enfim, frases que nos mostram um pouco do momento em que a produção foi rodada...
Indubitavelmente, “Coração de Luto” foi o mais importante dos 12 filmes em que Teixeirinha esteve envolvido. Por quê? Fácil! Foi o primeiro; foi o mais aguardado pelo público e crítica; abriu caminho para inúmeras outras produções e; rendeu, rendeu muito! Em apenas 45 dias de exibição já haviam sido arrecadados os valores gastos nos 19 meses de produção.
Distribuído por todo o Brasil, “Coração de Luto” rompeu as fronteiras nacionais e chegou a ser cotada sua exibição em Portugal. Mais tarde, cópias falsificadas começaram a ser exibidas em países europeus, sul-americanos e até nos Estados Unidos. Em todos estes locais alcançou êxito absoluto.

Milhares de espectadores assistem a estréia de "Coração de Luto" em Porto Alegre


O sucesso de “Coração de Luto” incentivou Teixeirinha a rodar outros 11 filmes. Contudo, sua primeira aparição no cinema jamais seria completamente de sua propriedade. De início, o cantor possuía 25% do filme, percentual do qual se desfez anos depois. A Leopoldis Som tornou-se, então, proprietária de “Coração de Luto”. Por conta disso, em meados dos anos 1990 o filme foi lançado pela primeira vez em VHS. Milhares de fitas foram vendidas e as locadoras conheceram o já consagrado sucesso de Teixeirinha. Alguns anos depois, o Grupo RBS adquiriu o acervo da Leopoldis Som e mandou restaurar a fita original de “Coração de Luto” em São Paulo, exibindo-a pela primeira vez na televisão em dezembro de 2005.

Capa do VHS "Coração de Luto", lançado nos anos 1990

Ficha técnica de “Coração de Luto”:

DIREÇÃO: Eduardo Llorente
PRODUÇÃO: Leopoldis Som e Vitor Mateus Teixeira
PRODUTORES: Derly Martinez e Clóvis Mezzomo
FINANCIAMENTO: Banco Frederico Mentz
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Américo Pini
ARGUMENTO: Vitor Mateus Teixeira
ADAPTAÇÃO E ROTEIRO: Eduardo Llorente
FOTOGRAFIA: Américo Pini
CÂMERAS: Edgar Rodrigues e Ivo Czamanski
MONTAGEM: Eduardo Llorente
ASSISTENTES DE DIREÇÃO: Gilberto Lessa e Lorivaldo Garcia
MAQUIAGEM: Dorival Cabreira
DIÁLOGOS: Ernani Ruschel
ASSISTENTE DE MONTAGEM: Cláudio Lazzaroto
DESENHOS DE PRODUÇÃO: Edison Acri
CONTINUIDADE: Milton Bittencourt
GUARDA-ROUPA: Pedro Alexandre
ELETRICISTAS: Luiz Carlos Correa, Carlos Bica e Elbio Ortocherena
MAQUINISTAS: Jaime Neves
RODADO COM FILME: AGFA-Gevaert
LABORATÓRIO DE IMAGEM: Arte Indústria Cinematográfica Sistema Wextrex
ENGENHEIRO DE SOM: Carlos Foscola
LABORATÓRIO DE SOM: Líder Laboratório Cinematográfico
MÚSICA: Sandino Hohagen
TEMAS: Sandino Hohagem e Eduardo Llorente
ELENCO: Teixeirinha, Mary Terezinha, Miro Soares, César Magno, Branca Regina Muniz, Dorival Cabreira, Nelson Lima, Cláudio Lazzaroto, Domingo Terra, Paulo H. Taylor, Osvaldo Ávila, Maria de Lurdes Gonçalves, Américo Pini, Portinho Jonson Natel, Roberto Nazaré, Odilon Lopes, Télio Lewis, Jorge Alberto, Vitor Mello Ferreira, João Netto. Atriz convidada Amélia Bittencourt.

ANO DE PRODUÇÃO: 1966
LANÇAMENTO: 19 de setembro de 1967

TEXTO: Chico Cougo

2 comentários:

Anônimo 14 de setembro de 2007 às 20:39  

gostei

Anônimo 12 de dezembro de 2007 às 08:40  

hoje aos 42 e, sempre com muita emoção, lembro da música que antes dos meus nove anos, apesar e linda música me deixava com medo de perder minha amada mãezinha. nota, ela está aqui até hoje, lúcida e guerreira. Graças a Deus!

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