QUALQUER SEMELHANÇA...

>> 29 de set. de 2007

"O Ébrio" (1936)


Por mais que se esforce, nenhum cantor é completamente original. Que o diga o “Rei do Baião”, Luiz Gonzaga, que declarou publicamente ter-se inspirado no gaúcho Pedro Raymundo para compor seu personagem meio sanfoneiro, meio cangaceiro. No campo internacional o inacreditável Carlos Gardel não pestanejou em revelar que imitava o cantor Enrico Caruso – um dos marcos da música no século XX.
Aqui no Rio Grande do Sul, Teixeirinha inspirou muita gente. O Gaúcho da Fronteira, hoje dono de um estilo próprio, iniciou sua carreira cantando músicas do “Rei do Disco”. Ele diz que Teixeirinha era o “homem a ser seguido”, um exemplo de sucesso nacional alcançado através da música regional. Não é a toa que o autor de “Vaquinha preta” foi chamado por muitos de Teixeirinha da Fronteira.
Mas, diante de tudo isso, lanço um desafio: em quem Teixeirinha se inspirou? Com certeza a pergunta não é fácil. Dono de uma carreira impecavelmente própria, Vitor Mateus Teixeira admirava os artistas do rádio, principalmente aqueles da chamada “Era de Ouro”. Suas canções mostram um artista impregnado pelo gênero musical regionalista, mas dividido entre as composições de Francisco Alves, Noel Rosa, Herivelto Martins, etc.
Contudo, traçando paralelos aqui e ali, acabei descobrindo que há um artista que inspirou (e muito!) a obra de Teixeirinha: Vicente Celestino. Cantor e compositor de “outras eras”, Vicente Celestino (1894-1968) nasceu no Rio de Janeiro. No começo da carreira trabalhou em musicais e em 1919 gravou seu primeiro disco. Até os anos 1930, Celestino foi um dos cantores mais vendidos do Brasil. Por esta época, mais precisamente em setembro de 1933, casou-se com Gilda de Abreu (1904-1979) após um namoro de apenas cinco meses.

Vicente Celestino no início da carreira: operetas e milhares de discos vendidos

Celestino tinha voz operística e jeito de galã. Suas músicas ficaram marcadas pela alta carga de drama e romantismo. Seu maior clássico, “O Ébrio” (1936), tornou-se uma marca. Na maioria das vezes, as histórias cantadas por ele terminam com o amante que morre exatamente por amar demais...
Teixeirinha tinha considerável apreço pela obra de Vicente Celestino. Não há registros de que tenham se conhecido pessoalmente e Celestino nunca falou publicamente sobre Teixeirinha. Mesmo assim, tudo indica que o “Rei do Disco” era um fã inveterado do cantor carioca e que se baseou em músicas dele para compor alguns de seus sucessos.
Já em 1961, no primeiro LP, Teixeirinha resgata o tema de “O Ébrio”. Em “Ébrio de amor”, ele mostra que só a bebida o fará esquecer a mulher amada. Assim como no ébrio de Vicente Celestino, este viverá aos porres, bebendo e chorando pelos bares da vida:

Bebo como um louco
No inferno do amor
A vida é um horror
Pra ela e pra mim
Somente o orgulho
Nos traz separado
Um pra cada lado
Este é o nosso fim

Em 1977, com “Conselho aos ébrios”, Teixeirinha trouxe de volta, mais uma vez, o tema:

Eu andei bebendo
Sofrendo e chorando
Curtindo, amargando
A ‘saudades’ de alguém

Eu não me acalmava
Me desencontrava
Às vezes chorava
Por não ter ninguém

Duas músicas, o mesmo tema. Beber, chorar e beber mais um pouco. Já era esta a sina do sofredor cantado por Vicente Celestino em 1936:

Tornei-me um ébrio, na bebida busco esquecer
Aquela ingrata que eu amava e que me abandonou
Apedrejado pelas ruas, vivo a sofrer
Não tenho lar e nem parentes, tudo terminou

É impressionante, mas Vicente Celestino e Teixeirinha têm muito mais em comum do que as músicas sobre ébrios mal-amados. Em 1936, Celestino e sua esposa Gilda de Abreu levaram para as telas o filme “O ébrio”. Mais do que filmar a historia de Gilberto, um médico de sucesso que transforma-se num tremendo beberrão, o casal investiu numa fórmula muito utilizada até hoje: uma música de sucesso servindo de roteiro-base para um filme. Coincidência ou não, Teixeirinha era um grande fã desta fita. Por conta disso, o “Rei do Disco” teria assistido a produção inúmeras vezes, tendo a idéia de transformar o seu próprio sucesso (“Coração de Luto”) em filme.

Cena de "O Ébrio", produzido em 1936

Da coleção de “acasos”, podemos citar ainda o segundo e último filme no qual Celestino atuou. Chamou-se “Coração materno”, foi lançado em 1937 e também dirigido por Gilda de Abreu. O leitor já deve ter ligado o nome à pessoa, mas cabe completar a história. Supondo que Teixeirinha fosse fã de Vicente Celestino, não seria loucura imaginar que “Coração materno” (que também foi uma canção de sucesso gravada por Celestino) foi uma longínqua inspiração para outro coração: o de luto!
Até aí suposições, coincidências talvez. Acasos de um destino que fez também com que os dois cantores fossem rapidamente assimilados às figuras de suas companheiras de trabalho (e de vida afetiva). Para o público, Vicente Celestino e Gilda de Abreu eram admirados assim como Teixeirinha e Mary Terezinha.
Coincidências e acasos que poderiam passar desapercebidos não fossem duas canções que não deixam dúvidas: Teixeirinha inspirou-se em Vicente Celestino ao menos uma vez. A prova contundente surge da comparação entre as músicas “Noite cheia de estrelas” – composta por Cândido das Neves e gravada por Celestino em 1932 – e “Lua cheia” – escrita e gravada por Teixeirinha em 1978.
Em “Noite cheia de estrelas”, conta-se a história de alguém que está perdidamente apaixonado e apela para a lua, pedindo-lhe que ela desperte a amada para que os dois possam viver felizes. Na primeira versão, a letra foi gravada por Vicente Celestino no ritmo de cancioneta. Tempos depois, a letra ganhou uma nova gravação, agora no formato de tango. No refrão, a bela composição mostra toda sua carga sentimental:
Lua, manda tua luz prateada despertar a minha amada Quero matar meus desejos Sufocá-la com meus beijos Canto e a mulher que eu amo tanto não me escuta, está dormindo Canto e por fim nem a lua tem pena de mim Pois ao ver que quem te chama sou eu entre a neblina se escondeu
Quarenta e seis anos depois (pasmem!), Teixeirinha gravou o tango “Lua cheia”, a história de um homem que morre de amor por sua amada. Na letra, fica evidente que o “Gaúcho Coração do Rio Grande” está contando a história daquele mesmo rapaz cantado por Celestino. O detalhe é que na composição de Teixeirinha, o amante – perdidamente apaixonado – acaba morrendo. Lançada dez anos depois da morte de Celestino, a composição até desperta um certo mistério: teria sido composta em homenagem ao cantor morto? Seria o seresteiro apaixonado de “Lua cheia” o próprio Celestino, ao passo que o amigo – que na canção herda o violão do falecido – seria Teixeirinha? Não sabemos o que se passa pela mente dos compositores. O que impressiona é o fato de Teixeirinha citar literalmente um trecho da música “Noite cheia de estrelas” como refrão de “Lua cheia”. Enfim, tirem suas próprias conclusões. A seguir, a letra de “Lua Cheia”:

Lua cheia apareceu por trás do monte
Era ontem, quando tudo aconteceu
Eu voltava do sepulcro de um amigo
Que de amor, por uma mulher morreu

Foi comigo, exatamente, certa vez
Ele era assim esgueiro como eu
Na janela da amada em serenata
Cantou algo que muito me comoveu

Lua,
Manda tua luz prateada
Despertar a minha amada

Esta canção ele cantou
Pra mulher que tanto amou
Na sua vida passada

Essa lua, era mesma aquela lua
Que pra sua idolatrada ele exclamou
Ela veio pratear a campa fria
Do eterno apaixonado que tombou

O violão que era dele ia comigo
Que um dia, antes da morte, me entregou
Afinei, cantei ontem para a lua
Toda a mágoa que consigo ele levou

*

Lua cheia, dos eternos namorados
Inspirados no teu sublime luar
Eu também busco em ti a poesia
Para agora o meu amigo homenagear

Companheiro, por ti estou vendo a lua
Lá no alto provocando o meu cantar
Esta lua que te uniu àquela ingrata
Fará hoje o pranto dela derramar

Lua,
Manda tua luz prateada
Despertar a minha amada

Esta canção ele cantou
Pra mulher que tanto amou
Na sua vida passada

Velho amigo, lá no céu, já entre tantos
Desencantos de uma mulher que erra
Estão todos lá bem acima do lua
Essa lua, que mil versos ela encerra

Também vai encerrar minha canção
Para o amigo que ontem deixou a terra
No amor, quando um ama e outro não
É mais triste do que a sina de uma guerra

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ELE GRAVOU TEIXEIRINHA, MAS FOI ESQUECIDO

>> 21 de set. de 2007

CD dedicado a Teixeirinha na coleção Raízes dos Pampas:
Jorge Camargo também foi homenageado


Mais do que uma honra, o ato de gravar músicas compostas por Teixeirinha sempre foi certeza de retorno junto ao público. Cientes disso, não foram poucos os que investiram na obra do gaúcho. A dupla Milionário e José Rico resgatou “Coração de Luto”; o grupo Os Serranos produziu a releitura de “Tordilho Negro”; a dupla Osvaldir e Carlos Magrão foi projetada a partir da regravação de “Querência amada” (num arranjo que se tornou ainda mais conhecido que o original); já Os Fagundes tem até hoje “Tropeiro Velho” como um de seus grandes sucessos.
Outra infinidade de artistas regravou sucessos de Teixeirinha nos últimos anos, mas poucos – aliás, raros – tiveram a oportunidade de gravar músicas inéditas do “Rei do Disco”. Entre os sortudos, Teixeirinha Filho lançou recentemente “Saudades do Paraná”, uma das tantas letras inéditas de Teixeirinha encontradas em fitas cassete gravadas pessoalmente pelo compositor. Outra que teve a honra de pôr sua voz numa canção do “Gaúcho Coração do Rio Grande” foi Berenice Azambuja. Esta, aliás, foi mais além: a música que gravou (“Fandango da Berenice”) foi composta por Teixeirinha exclusivamente para a cantora, que a gravou em 1985.
Mas entre todos estes cantores, um deles foi talvez o que mais tenha gravado músicas inéditas de Teixeirinha. Ironicamente, ele é, hoje, um dos menos conhecidos e raramente é citado. Chama-se Jorge Camargo e não se sabe muito sobre sua carreira. Aliás, confesso que fui motivado a escrever este texto quando descobri que praticamente não há registros sobre a trajetória deste artista.
No site de buscas Google (famoso por encontrar tudo o que se procura) nem um registro. No mundialmente famoso Wikipedia a mesma situação. Até entre as milhões de comunidades no Orkut, nada consta sobre Jorge Camargo. Onde e quando teria nascido? Quantos e quais discos teria gravado? Em que ano teria atingido o sucesso? Nada, absolutamente nada disso é conhecido. Não fosse o amigo Arnaldo Guerreiro – português que mantém um verdadeiro museu da música gaúcha do outro lado do Atlântico – e esta matéria nem estaria sendo escrita.
Investigando aqui e ali, descobri algumas poucas informações. Tudo indica que Camargo gravou seus discos em meados dos anos 1970 em alguma subsidiária (ou talvez na própria) gravadora Copacabana, por onde Teixeirinha também passou. Analisando as canções gravadas por ele, posso supor que era bastante jovem quando se lançou em disco. Seu timbre de voz assemelha-se ao de José Mendes. Sua forma de cantar já é mais contida, próxima mesmo a de Teixeirinha.
Ao todo, Jorge Camargo gravou com exclusividade cinco canções que nunca foram gravadas por Teixeirinha – sendo, portanto, o recordista em gravações de músicas inéditas do “Rei do Disco”. O que me despertou maior curiosidade (e inquietação) foi o boato de que ele e Teixeirinha não mantinham boas relações. Quem primeiro levantou o assunto foi Mary Terezinha em seu livro “A gaita nua”. Mary afirma que Teixeirinha teria boicotado Camargo, exercendo sua influência para impedi-lo de gravar. Uma outra versão diz que os dois não se davam bem porque Jorge Camargo tinha tendências homossexuais, no que Teixeirinha não concordava.
Verdade ou não, o fato é que Jorge Camargo lançou músicas inegavelmente caracterizadas pelo estilo de Teixeirinha. Ao todo, foram cinco canções: “Surpresas da vida” (xote), “Moça de trança” (tango), “De tudo um pouco” (arrasta-pé), “Coração egoísta” (vaneira) e “Cama vazia” (valsa). A maior parte delas tem como tema o amor, a paixão e as desilusões por conta do abandono da mulher amada. Um trecho de “Cama vazia” diz:


Esta noite eu procurei na cama
Os teus braços para me envolver
Os teus lábios para me beijar
O teu corpo para me aquecer


Já este trecho da bonita letra de “Moça de trança” nos mostra elementos do chamado “romance campeiro”, mesclando o amor com os temas gauchescos:



Sentindo a saudade e curtindo a lembrança
Da moça de trança e da pele morena
Do olhar caborteiro e, porém matador
Me mata de dor e de mim não tem pena

Um dia no pago, no romper da aurora
Partiu, foi embora pra outro rincão
Seguido ela volta rever sua gente
Provoca o doente do meu coração



Até a imagem de Jorge Camargo segue uma incógnita na história da música do Rio Grande do Sul (não encontramos sequer uma foto do cantor). Teria morrido? Gravou mais músicas de Teixeirinha? Continuamos sem saber. Seus discos não estão à venda em lugar algum. Sua música está desaparecendo pouco a pouco. Para que se tenha uma idéia, sua provável última menção ocorreu em 1999, quando um dos 25 discos da coleção “Raízes dos Pampas” (EMI Brasil) lhe foi dedicado. A propósito, é deste disco (já esgotado) que saíram as cinco músicas citadas nesta matéria, o que nos faz entender que – sendo esta coleção um agrupamento do que há de melhor na produção de cada artista – podem haver outras canções de Teixeirinha gravadas em outros discos de Jorge Camargo. Onde estão estes discos? Espero que alguém os tenha guardado...

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OBRIGADO, MAIS UMA VEZ!

>> 14 de set. de 2007

Quero agradecer mais uma vez a todos aqueles que têm feito deste blog um sucesso absoluto. Na última semana batemos mais um recorde de acessos e já estamos próximos das 2.500 visitas! Com o novo visual, recebi alguns comentários e não posso deixar de agradecer a cada um deles, reiterando meu compromisso de trazer sempre novos textos.

Devo fazer, ainda, um agradecimento especial à Betha Teixeira, que se referiu a mim e ao Revivendo Teixeirinha de forma muito carinhosa no site da Fundação Teixeirinha (www.teixeirinha.com.br). Deste humilde site irmão, só posso agradecer pelas bonitas palavras. Valeu Betha!

E aguardem: nas próximas semanas apresentarei uma matéria sobre um tema inédito, com colaboração direta do amigo Arnaldo Guerreiro de Portugal!

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CORAÇÃO DE LUTO: 40 ANOS DEPOIS (PARTE 3)


Cartaz de lançamento do filme "Coração de Luto" (1966)

Apresento agora a última matéria desta série especial em homenagem aos 40 anos de lançamento do filme “Coração de Luto”. Depois de saber como nasceu a idéia do filme e alguns detalhes sobre a produção, chegou a hora de falarmos sobre o lançamento e o sucesso de “Coração de Luto”. Boa leitura!

O filme Coração de Luto

No dia 19 de setembro de 1967, os jornais gaúchos traziam em destaque o lançamento do primeiro filme de Teixeirinha. Uma grande expectativa cercava “Coração de Luto”, produção da Leopoldis Som que, acreditava-se, abriria as portas da indústria cinematográfica no Estado.
A milionária fita da Leopoldis foi lançada com festa em sete cinemas da capital gaúcha: Imperial, Tália, Avenida, Colombo, Atlas, Rosário e Marrocos. Multidões se enfileiravam na porta das salas de projeção para assistir o ídolo nas telas. Enquanto isso, distribuidores de todo o país brigavam (de soco!) para saber quem teria a felicidade de projetar os filmes do “Rei do Disco”. Não era uma briga à toa: nas primeiras semanas, mais de 40 mil espectadores foram assistir “Coração de Luto”, gerando uma renda de 53 milhões de cruzeiros, conforme notícia do Correio do Povo (27/9/67).
“Coração de Luto” é um filme de 90 minutos (o terceiro no Rio Grande do Sul a ser produzido com mais de uma hora de duração) que tem por base de roteiro o célebre sucesso musical de Teixeirinha. Foi rodado em preto e branco, pois a Leopoldis Som ainda não possuía equipamentos capazes de produzir fitas coloridas.
Basicamente, a fita se divide em duas fases: na primeira, é contada a história do menino Vitor (Miro Soares) que vive feliz com até que, inesperadamente, seu pai morre. Vagando sem destino ao lado da mãe – Dona Ledurina (Amélia Bittencourt) –, eles conseguem instalar-se num pequeno rancho e a felicidade volta à casa dos Teixeira. Um dia, porém, ao chegar da escola, Vitor depara-se com sua mãe ferida por queimaduras graves. Descobre então que ela havia tido mais um de seus ataques epiléticos, vindo a cair sobre uma pequena fogueira no quintal do rancho. Depois de aconselhar Vitor para que ele seja sempre um homem honesto e tenha amor aos pobres e humildes, Dona Ledurina morre, deixando seu filho de nove anos sozinho pelo mundo.


O pequeno Miro Soares vive Teixeirinha na infância

Após morar por alguns dias na casa de conhecidos, o pequeno Vitor decide fugir para Porto Alegre em busca de uma vida feliz. No caminho, encontra-se com Rosa Maria, uma menina que implora para que ele não siga viagem. Os dois acabam firmando um pacto de sangue e prometem reencontrar-se no futuro. Vitor segue viagem, chegando à capital gaúcha onde passa a viver como andarilho. De repente, surge a oportunidade de cantar em rádios e o menino torna-se o artista Teixeirinha (Vitor Mateus Teixeira).
Com sucesso nacional e internacional, Teixeirinha é aclamado por platéias de toda a parte, vende milhares de disco e realiza inúmeros shows. Um dia, no entanto, ele decide regressar ao povoado onde sua mãe foi sepultada a fim de ordenar a construção de uma melhor sepultura para sua genitora. No regresso, Teixeirinha só encontra o sepulcro de Dona Ledurina graças a uma pequena margarida que ele mesmo havia plantado e que sobrevivera às gerações. Ainda no cemitério, o artista depara-se com uma bela moça (Mary Terezinha) sem saber que aquela é Rosa Maria e que está prestes a casar-se com o rico e poderoso meio-irmão do cantor.

Teixeirinha & Mary Terezinha em "Coração de Luto"

Depois de uma série de brigas entre Teixeirinha e seu opositor, o cantor finalmente consegue casar-se com Rosa Maria, partindo da cidade ao som da música feita em homenagem à moça (“Rosa Maria”) e que foi composta especialmente para o filme. É o final feliz de “Coração de Luto”...
Existem alguns pontos curiosos no filme (aliás, não são poucos). Num primeiro momento, por exemplo, merece atenção a trilha sonora, composta por Sandino Hohagen e executada ao som de violas. A maioria das músicas é baseada na obra de Teixeirinha, ou então em passagens folclóricas, como o célebre “Boi Barroso”.
Outro ponto interessante é a seqüência de cenas mostrando Porto Alegre e São Paulo. Também chama atenção a reconstituição do dia em que Teixeirinha gravou “Coração de Luto” e, ainda, alguns anúncios publicitários de praxe (como o da companhia aérea VARIG).
Alguns momentos marcantes estão relacionados a diálogos que mostram um pouco do pensamento vigente no período. Um exemplo é a frase “Há cousa muito mais importante que o dinheiro”, dita pelo próprio Teixeirinha num dado momento. Outra que causa sensação é a declaração do delegado da cidade em relação ao meio-irmão de Teixeirinha: “No Brasil não há mais lugar para coronelismo!”. Enfim, frases que nos mostram um pouco do momento em que a produção foi rodada...
Indubitavelmente, “Coração de Luto” foi o mais importante dos 12 filmes em que Teixeirinha esteve envolvido. Por quê? Fácil! Foi o primeiro; foi o mais aguardado pelo público e crítica; abriu caminho para inúmeras outras produções e; rendeu, rendeu muito! Em apenas 45 dias de exibição já haviam sido arrecadados os valores gastos nos 19 meses de produção.
Distribuído por todo o Brasil, “Coração de Luto” rompeu as fronteiras nacionais e chegou a ser cotada sua exibição em Portugal. Mais tarde, cópias falsificadas começaram a ser exibidas em países europeus, sul-americanos e até nos Estados Unidos. Em todos estes locais alcançou êxito absoluto.

Milhares de espectadores assistem a estréia de "Coração de Luto" em Porto Alegre


O sucesso de “Coração de Luto” incentivou Teixeirinha a rodar outros 11 filmes. Contudo, sua primeira aparição no cinema jamais seria completamente de sua propriedade. De início, o cantor possuía 25% do filme, percentual do qual se desfez anos depois. A Leopoldis Som tornou-se, então, proprietária de “Coração de Luto”. Por conta disso, em meados dos anos 1990 o filme foi lançado pela primeira vez em VHS. Milhares de fitas foram vendidas e as locadoras conheceram o já consagrado sucesso de Teixeirinha. Alguns anos depois, o Grupo RBS adquiriu o acervo da Leopoldis Som e mandou restaurar a fita original de “Coração de Luto” em São Paulo, exibindo-a pela primeira vez na televisão em dezembro de 2005.

Capa do VHS "Coração de Luto", lançado nos anos 1990

Ficha técnica de “Coração de Luto”:

DIREÇÃO: Eduardo Llorente
PRODUÇÃO: Leopoldis Som e Vitor Mateus Teixeira
PRODUTORES: Derly Martinez e Clóvis Mezzomo
FINANCIAMENTO: Banco Frederico Mentz
DIREÇÃO DE PRODUÇÃO: Américo Pini
ARGUMENTO: Vitor Mateus Teixeira
ADAPTAÇÃO E ROTEIRO: Eduardo Llorente
FOTOGRAFIA: Américo Pini
CÂMERAS: Edgar Rodrigues e Ivo Czamanski
MONTAGEM: Eduardo Llorente
ASSISTENTES DE DIREÇÃO: Gilberto Lessa e Lorivaldo Garcia
MAQUIAGEM: Dorival Cabreira
DIÁLOGOS: Ernani Ruschel
ASSISTENTE DE MONTAGEM: Cláudio Lazzaroto
DESENHOS DE PRODUÇÃO: Edison Acri
CONTINUIDADE: Milton Bittencourt
GUARDA-ROUPA: Pedro Alexandre
ELETRICISTAS: Luiz Carlos Correa, Carlos Bica e Elbio Ortocherena
MAQUINISTAS: Jaime Neves
RODADO COM FILME: AGFA-Gevaert
LABORATÓRIO DE IMAGEM: Arte Indústria Cinematográfica Sistema Wextrex
ENGENHEIRO DE SOM: Carlos Foscola
LABORATÓRIO DE SOM: Líder Laboratório Cinematográfico
MÚSICA: Sandino Hohagen
TEMAS: Sandino Hohagem e Eduardo Llorente
ELENCO: Teixeirinha, Mary Terezinha, Miro Soares, César Magno, Branca Regina Muniz, Dorival Cabreira, Nelson Lima, Cláudio Lazzaroto, Domingo Terra, Paulo H. Taylor, Osvaldo Ávila, Maria de Lurdes Gonçalves, Américo Pini, Portinho Jonson Natel, Roberto Nazaré, Odilon Lopes, Télio Lewis, Jorge Alberto, Vitor Mello Ferreira, João Netto. Atriz convidada Amélia Bittencourt.

ANO DE PRODUÇÃO: 1966
LANÇAMENTO: 19 de setembro de 1967

TEXTO: Chico Cougo

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CORAÇÃO DE LUTO: 40 ANOS DEPOIS (PARTE 2)

>> 7 de set. de 2007

Teixeirinha nas filmagens de "Coração de Luto"

Acompanhe a seguir a segunda matéria em comemoração ao aniversário dos 40 anos do lançamento do filme “Coração de Luto”, primeiro sucesso cinematográfico de Teixeirinha. Hoje, saberemos como foram os meses de produção e ainda: como o filme tornou-se um sucesso antes mesmo de ser lançado.

Luz, câmera, ação!

Em 1966, depois de algumas conversas, a Leopoldis Som e Teixeirinha acertaram o contrato para filmar a história de “Coração de Luto”. O produtor Derly Martinez (que seria o responsável pela idéia do filme) queria uma produção capaz de fazer frente às películas estrangeiras e, desde o início, teve como principal meta produzir um filme de qualidade.
Martinez buscou profissionais experientes em São Paulo. As direções geral e de fotografia foram ocupadas pelo espanhol Eduardo Llorente e pelo uruguaio Américo Pini, respectivamente. A letra de “Coração de Luto” foi tomada como a base do roteiro. O interessante é que, dentro deste mesmo roteiro, deveria transparecer uma linguagem de fácil assimilação e, preferencialmente, marcada por alguns termos típicos gaúchos.
Como já foi dito em outra ocasião, produzir um filme custava caro. Por isso mesmo, Teixeirinha e a Leopoldis buscaram parcerias capazes de investir na idéia. O resultado foi a participação do Banco Frederico Mentz como um dos financiadores do filme, fato inédito no Rio Grande do Sul até então.
No início de 1966 a equipe técnica e artística da Leopoldis Som já estava pronta para dar início às filmagens de “Coração de Luto”. No cast do filme foram escalados diversos artistas, a maioria deles ligados ao teatro gaúcho. A atriz Amélia Bittencourt foi contratada para viver Ledorina Matheus Teixeira – a mãe de Teixeirinha. Já o ator mirim Miro Soares fez a primeira parte do filme, vivendo o menino Vitor. Aliás, este papel deveria ser do próprio Vitor Teixeira Filho (na época com 10 anos). Porém, Teixeirinha Filho intimidou-se ante as câmeras, sendo então substituído por Miro.

Miro Soares e Amélia Bittencourt vivem Vitor e Ledorina

“Coração de Luto” começou a ser rodado em março de 1966 num sítio em Belém Velho, interior de Porto Alegre. As filmagens duraram seis meses, mas teriam sido encerradas antes, não fosse um acidente envolvendo um dos atores. Segundo dados da época, o primeiro filme de Teixeirinha custou 120 mil cruzeiros, uma verdadeira fortuna! Para que se tenha uma idéia, dos 15 mil metros de filme utilizado, foram aproveitados apenas 3 mil...
A imprensa gaúcha deu ampla cobertura às filmagens, criando um clima de expectativa generalizada no público e na crítica. Em setembro de 1966, a Leopoldis anunciou o encerramento oficial das filmagens. Então, Eduardo Llorente partiu para São Paulo, onde efetuou a edição, sonorização e dublagem do filme. Mesmo inacabado, “Coração de Luto” já despertava o interesse dos produtores, sendo comum a disputa entre eles para comprá-lo.

Teixeirinha e Mary Terezinha rodando "Coração de Luto" em Belém Velho

Com tudo isso, o leitor talvez se pergunte: como Teixeirinha estaria se sentindo as vésperas de se tornar um astro no cinema? O que ele pensava sobre tudo isso? Sabemos que o Rei do Disco via a idéia de gravar “Coração de Luto” como mais uma forma de mostrar ao povo sua história, a verdadeira saga do menino Vitor que se tornaria o famoso Teixeirinha. Porém, Teixeirinha sabia que entrevistas ou meras declarações não bastariam para que ele contasse o que sentia. Por isso mesmo, em 1966, ele fez o que melhor sabia: lançou a milonga “O filme Coração de Luto”, contando tudo sobre mais esta aventura de sua vida. Mais do que um documento, esta canção permite notar que, mesmo antes de ser lançado, “Coração de Luto” já era um sucesso. Com vocês, “O filme Coração de Luto”:

O maior golpe do mundo
Que eu tive meninozinho
Já falei foi minha mãe
Minha vida, meu carinho

Que o fogo um dia queimou
Me deixando tão sozinho
Resolvi fazer um filme
Fui visitar o ranchinho

Quando cheguei no local
Meus olhos ‘triste chorou’
Não tinha mais o ranchinho
Onde mamãe se velou

Só existe as ‘laranjeira’
Que a fome às ‘vez’ me matou
E a cerca das taquareiras
Onde mamãe se queimou

Mostrei aos homens do filme
E ao padre que foi comigo
Aqui minha mãe morreu
Foi seu derradeiro abrigo

As folhas das taquareiras
Deixou um filho mendigo
Levando mamãe pro céu
Deus que esteja contigo

Aqui perto, traz as câmeras
E filme a história assim
Quero que este filme passe
Por este mundo sem fim

Mostrar ao querido povo
Contar tim-tim por tim-tim
E lavar a língua daqueles
Que criticaram de mim

Brasileiro e estrangeiros
‘Aplaudiu’ minha história
E este filme, mamãe
Eu fiz em tua memória

Diga a Deus que não castigue
Estes críticos sem glória
Que seu filho aqui na Terra
Foi que ficou com a vitória

Filme Coração de Luto
Será toda a minha vida
Tenho um filho com dez anos
Que é neto da falecida

Ele fará o papel
Da minha infância sofrida
E eu faço a continuação
Benção, mãezinha querida

E não esqueça: na semana que vem a última matéria da série CORAÇÃO DE LUTO: 40 ANOS DEPOIS!
TEXTO: Chico Cougo

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NOVO REVIVENDO TEIXEIRINHA!

>> 1 de set. de 2007













Revivendo Teixeirinha: antes e depois

Demorou mas chegou! Finalmente está no ar o novo e esperado layout do blog Revivendo Teixeirinha. Além de um novo visual em tons de azul, a página ganhou uma novidade: é a ChatBox, um sistema que permite o envio rápido de mensagens. Agora, ao invés de enviar comentários, você pode mandar a sua crítica, sugestão e opinião através deste caixinha que aparece à esquerda, bem abaixo do título do blog (que, aliás, também foi todo estilizado!).






Em breve também serão adicionados novos Links além, é claro, de novos textos a cada semana. E tudo isso é pra você, que acompanha o Revivendo Teixeirinha e que fez dele um campeão de acesso em apenas cinco meses de vida!

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