A ALMA DO NEGÓCIO

>> 4 de jul. de 2008

A serviço das Pilhas Everady, Teixeirinha aparece nos cartazes promocionais durante o filme "Ela tornou-se freira" (1972)

Antes de ser cantor de sucesso, Teixeirinha foi engraxate, feirante e até dono de uma barraca de tiro ao alvo, em Passo Fundo. Em todas estas ocasiões, o futuro “Rei do Disco” estava envolvido com o comércio, atividade da qual – de certa maneira – jamais se desligou.

Quando os louros da fama cobriram Teixeirinha, o dinheiro foi uma conseqüência natural. Milhões de discos vendidos, shows, programas no rádio e na televisão e outra infinidade de atividades engordaram rapidamente as contas bancárias do fenômeno gaúcho. Como comerciante que era, Vitor Mateus Teixeira logo entendeu que aquela fortuna poderia ser ainda maior se bem gerida e aplicada. E foi assim que ele adquiriu fazendas (não muitas, mas algumas), imóveis (os quais mantinha alugados) e, a partir de 1971, fundou sua própria companhia cinematográfica, a Teixeirinha Produções Artísticas.

De todos os investimentos do “Gaúcho Coração do Rio Grande”, o cinema é o que mais impressiona, mas deve ter sido, também, o que trouxe menos lucros. Como se sabe, os filmes de Teixeirinha tinham como intuito difundir a imagem do cantor pelo interior do Brasil, fazendo com que seu público – que não podia comprar discos, ou que não tinha condições de assistir o ídolo ao vivo – estivesse mais próximo do astro.

Para levar adiante a empreitada do cinema – que, ao final, não trazia grandes lucros financeiros, mas sim prestígio e contato ante o público – Teixeirinha recorreu aos seus dons de mercador desde cedo. A partir de sua segunda película – “Motorista sem limites”, produzido em 1969 em acordo com a Interfilms – a inserção do que hoje chamamos de merchandising tomaria conta das produções. Este era um recurso convencional no cinema brasileiro desde muitos anos e seria muito bem explorado pelo comerciante Teixeirinha.

Em “Motorista sem limites”, aparecem diversos “reclames” (assim eram chamados os comerciais naquela época). Por exemplo: postos de gasolina, apenas os Ipiranga; refrigerantes, só mesmo os Minuano. E os comerciais apareciam das mais esdrúxulas maneiras. Bastava um bar para que surgisse uma imensa placa mencionando o refresco Minuano. Era só ter algum carro no filme (e sempre haviam muitos!) e pronto: lá estavam os postos Ipiranga (no início) e, mais tarde, Shell (o próprio Teixeirinha teria um posto de gasolina da rede).

A cada filme, as propagandas eram mais freqüentes. Em “Ela tornou-se freira” (1972), surgiam as pilhas Everady, das quais Teixeirinha era garoto-propaganda ao lado de ninguém menos do que Luiz Gonzaga, o “Rei do Baião”. No caso das “pilhas do gato”, o curioso era perceber os slogans utilizados na campanha publicitária. Quando Teixeirinha se referia às baterias, sempre recorria a ditos gaúchos. Assim, as pilhas Everady duravam mais do que “praga de madrinha” ou do que “bronca de gago”. Ah, elas também falavam mais do que “papagaio com insônia”!

Com o tempo, os comerciais do rádio foram trazidos para o cinema. Em “Tropeiro Velho”, o Pó Pelotense (tradicional anunciante dos programas de Teixeirinha, que até hoje segue “na família”, patrocinando o “Querência Amada”, da Rádio Rural) roubou a cena sendo amplamente anunciado por Jimmy Pipiolo. Em “Teixeirinha a 7 Provas”, foi a vez da Infalivina (do mesmo laboratório Saúde, fabricante do Pó Pelotense) enfeitar um imenso balão que aparece nas tomadas finais do longa. Já em “A quadrilha do Perna Dura”, quem se sobressaiu foi o fortificante Kiotônico e a erva-mate Cultivada (“A erva-mate do Teixeirinha!”.

Nos filmes, a fórmula dos merchandisings era simples e incomodava a crítica especializada. Quando, por exemplo, o menino Teixeirinha se afasta do cemitério em que acabara de sepultar a mãe (no filme “Meu pobre coração de luto”), a tristeza da cena não impede que um outdoor imenso ocupe quase toda a tela com a mensagem “Manah, se plantando dá!”. Isso sem falar nas incontáveis “conversas de galpão” onde sempre sobram sacos com adubo Trevo e engradados de refrigerantes Minuano.

Se a crítica gostava ou não, ou mesmo se estas “incursões comerciais” eram cabíveis ou ridículas, o importante mesmo é que elas foram responsáveis por boa parte da continuidade do cinema de Teixeirinha. E é bom lembrar: apesar da aparente despretensão artística, a Teixeirinha Produções foi a única companhia cinematográfica ativa e com produções consecutivas fora do eixo Rio-São Paulo durante os anos 1970. Talvez tenhamos que agradecer aos refrigerantes Minuanos, às pilhas Everady e até à Infalivina por isso!


1 comentários:

Anônimo 5 de julho de 2008 às 08:29  

Isso mesmo Chico! Tanto que no filme: "Carmem, a Cigana", quando o irmão de Teixeirinha vai socorrê-lo na praia, aparece uma enorma placa: "Com Manah plantando dá", e fica uns 2 segundos + ou - aparecendo.
Provando que a propaganda é a alma do negócio!

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