SETE-BOCAS: UM VIOLÃO ESPECIAL

>> 9 de mar. de 2007


Quem já teve a oportunidade de observar as capas dos LP’s de Teixeirinha, deve ter reparado que o cantor aparece quase sempre abraçado ao violão. O observador mais atento pode ter percebido que os primeiros discos do “rei do disco” mostram sempre o mesmo violão, um instrumento pra lá de especial.
Em 6 das 9 primeiras capas de seus discos, Teixeirinha aparece acompanhado por um violão cujo bojo traz sete furos, ou bocas. Este pinho teria sido apelidado de “Sete-bocas”, pelo próprio Teixeirinha, ainda no início dos anos 1960. Conforme conta o estudioso Israel Lopes (autor da primeira biografia de Teixeirinha), o instrumento acompanhou o cantor em todo o início de sua carreira, tornando-se uma espécie de amuleto do artista.
O “Sete-bocas” aparece em 5 discos (todos da Chantecler): O Gaúcho Coração do Rio Grande (1961), Assim é nos Pampas (1961), Um Gaúcho Canta para o Brasil (1961), O Gaúcho Coração do Rio Grande vol.4 (1962), Saudades de Passo Fundo (1962) e Gaúcho Autêntico (1964). Além disso, o violão da sorte pode ser visto em algumas cenas do filme Coração de Luto (Leopoldis Som, 1967), em especial quando Teixeirinha se apresenta em um programa de televisão cantando algumas de suas principais canções e, ainda, no momento em que grava a música “Coração de Luto” nos estúdios da Chantecler, em São Paulo.
A princípio, haveria uma dúvida sobre o “Sete-bocas”: seria ele o mesmo que aparece no filme? A dúvida tem um porquê... Nas capas dos LP’s, o pinho tem as sete bocas cobertas por pequenas tampas adornadas com sete pequenos furos cada uma (seriam sete bocas dentro das sete bocas!). Já no filme Coração de Luto, as sete bocas são preenchidas por novas tampas, cujos adornos tem o formato da letra “V”. Praticamente não há dúvidas de que o pinho seja o mesmo, pois ele tem características muito únicas.
A partir da segunda metade dos anos 1960, Teixeirinha aposentaria o “Sete-bocas”. Como um verdadeiro amuleto da sorte, o violão seria carinhosamente guardado nos arquivos do cantor em ótimo estado de conservação. Hoje o “Sete-bocas” é uma das atrações principais da exposição mantida na sede da Fundação Vitor Mateus Teixeira, em Porto Alegre. Para quem conhece e admira a carreira de Teixeirinha, presenciar este objeto é motivo de comoção. Eu mesmo, em setembro de 2006, tive a oportunidade de estar de frente para este pinho que muita sorte parece ter trazido para o “Gaúcho Coração do Rio Grande”. O que mais chama atenção é a sensação de que o “Sete-bocas” (que se mantém conforme foi usado em Coração de Luto) parece ter sido recém dedilhado por seu dono. Sensação que só um artista eterno como Teixeirinha pode despertar em seus fãs...

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