O MELHOR DOS DESAFIOS

>> 18 de mai. de 2007

Nos aproximadamente 80 discos de Teixeirinha, se destacam alguns gêneros que fizeram – e ainda fazem – muito sucesso. Imortais xotes como o “Gaúcho de Passo Fundo” ou “Querência Amada” não me deixam mentir quanto a isso. Dentro destes grandes sucessos, com certeza muitos irão lembrar dos clássicos desafios, as típicas trovas, um marco na carreira de Teixeirinha.
Os desafios nasceram em meados dos anos 1960. O primeiro LP a incluir um foi “Bate, bate coração” (Chantecler, 1965). Essas trovas só foram possíveis a partir da participação de Mary Terezinha (que interpretava a adversária de Teixeirinha nas canções). Na faixa “Desafio”, a primeira lançada, Teixeirinha e Mary se xingam, debocham um do outro e, no final, reatam a amizade prometendo retornar com outra trova. Estavam certos: em “Disco de Ouro” (1966), “Desafio pra valer” abre o LP, sendo uma espécie de revanche do primeiro. A partir daí, quase todos os discos trariam um desafio.
No total, foram gravados mais de 30 desafios (incluindo aqueles em que Teixeirinha canta junto a Nalva Aguiar, no disco “Guerra dos Desafios”). Ao lado de Mary Terezinha, Teixeirinha lançou em 1982 “10 Desafios Inéditos”, um LP exclusivo contendo apenas trovas. O gênero tornou-se tão importante na carreira da dupla, que não podia ser desprezado dos discos, apresentações e mesmo dos filmes, onde o casal cantava desafios em quase todas as produções.
Vale lembrar que os desafios eram letras de autoria do próprio Teixeirinha, onde Mary apenas interpretava. Mary Terezinha, diferentemente de Teixeirinha, não é trovadora, embora componha músicas até hoje. Contudo, mesmo que as trovas fossem de “frases feitas”, o importante é que esbanjavam alegria e bom humor. Quando as brigas esquentavam não faltavam ofensas pessoais ou deboches. Um tema muito comum era a rivalidade no futebol, principalmente a que envolvia a dupla grenal (e naquela época a concorrência entre Grêmio e Internacional era tão grande quanto hoje!).
A brincadeira dos desafios, contudo, nos deixa uma tremenda dúvida: qual o melhor desafio da carreira de Teixeirinha? Particularmente, fico dividido entre duas grandes trovas, mas sempre acabo optando por “Desafio do Martelo”, lançada no lado B do LP “Última Tropeada” (Copacabana, 1968). Não há, em minha opinião, um desafio mais empolgante do que este.
“Desafio do Martelo” não é apenas mais uma trova. Nele, como o próprio nome já indica, o importante é “martelar”. Isso mesmo! Numa estrofe, um dos desafiantes canta 5 versos, sendo o sexto verso de responsabilidade do outro adversário. De ritmo rápido, este desafio traz Teixeirinha “arrastando a asa” para Mary, que o dispensa sempre com os adjetivos mais depreciativos. No final, como sempre, eles se entendem. Ficam juntos e ainda anunciam o próprio disco, agradecendo aos fãs pelo sucesso. É um desafio memorável quando ouvido e, pessoalmente penso que ele não encontra adversários quando comparado aos demais.
Por fim, só posso deixar a letra de “Desafio do Martelo” com vocês. Antes, entretanto, faço um desafio aos fãs de Teixeirinha: em sua opinião, qual é a melhor das trovas? Comente!

*

[Falado - Teixeirinha]
“E o desafio hoje é diferente!”

[Falado – Mary Terezinha]
“É do martelo, Teixeirinha?”

[Falado - Teixeirinha]
“Certo, Mary Terezinha!”

[Teixeirinha]
O desafio do martelo
Título de um amigo meu
Os versos tem minha marca
E a Mary compareceu
A música eu também fiz

[Mary Terezinha]
Quem trova melhor sou eu
Quem trova melhor sou eu
A música eu também fiz
Desafio com Teixeirinha
A platéia pede bis
Também trova o martelinho

[Teixeirinha]
Já metesse o teu nariz
Já metesse o teu nariz
Também trova o martelinho
O diabo quando aparece
Ele nunca vem sozinho
Hoje eu te atiro no barro

[Mary Terezinha]
No barro mete o focinho
No barro mete o focinho
Hoje eu te atiro no barro
Melhor é tu ir pra rua
Juntar pontas de cigarro
Na praia eu sento na areia

[Teixeirinha]
Se der de jeito eu te agarro
Se der de jeito eu te agarro
Na praia senta na areia
Tu não és a Miss Brasil
Tua cara é de baleia
Se fosse a mulher divina

[Mary Terezinha]
Petiço da cara feia
Petiço da cara feia
Se fosse a mulher divina
Sou moreninha elegante
Tu não vai ser minha sina
Sai daqui frango pelado

[Teixeirinha]
Macaquinha de botina
Macaquinha de botina
Sai daqui frango pelado
Parece galinha choca
Do pescoço arrepiado
Repare que eu não sou milho

[Mary Terezinha]
Galo velho desbicado
Galo velho desbicado
Repare que eu não sou milho
Vou pegar minha espingarda
Pra caçar este zorrilho
Milho se dá pra cavalo

[Teixeirinha]
Quilina do meu tordilho
Quilina do meu tordilho
Milho se dá pra cavalo
Também se dá pra galinha
E reparte com o galo
Te belisco na orelha

[Mary Terezinha]
Te pincho dentro de um valo
Te pincho dentro dum valo
Te belisco na orelha
Hoje tu vira em galeto
E vou te assar na grelha
Boto graxa de carneiro

[Teixeirinha]
Corto o rabo da ovelha
Corto o rabo da ovelha
Bota graxa de carneiro
Me chama de teu gatinho
Isto não custa dinheiro
Te chamo de ‘cadorninha’

[Mary Terezinha]
Meu cachorrão perdigueiro
Meu cachorrão perdigueiro
Tu me chama ‘cadorninha’
Tu agarra este apelido
E põe na tua vovozinha
Uma velha rabugenta

[Teixeirinha]
É a tua, não a minha
É a tua, não a minha
Uma velha rabugenta
Vou fazer tu te embuchar
Comendo a minha polenta
A minha boca é bonita

[Mary Terezinha]
Mas tua cara é nojenta
Mas tua cara é nojenta
A minha boca é bonita
Teus ‘olho’ é de peixe morto
O teu jeitinho me irrita
Se tu fosse mais bonito

[Teixeirinha]
Corto o rabo da cabrita
Corto o rabo da cabrita
Se tu fosse mais bonito
Tu corria atrás da máquina
Me assustava e dava um grito
Me salve Nossa Senhora

[Mary Terezinha]
Corto o rabo do cabrito

[Teixeirinha e Mary Terezinha]
Corto o rabo do cabrito
Me salve Nossa Senhora
O disco é Copacabana
Pode comprar ele agora
E leve pra suas casas
Nos escute toda hora
Obrigado, queridas fãs...
Nos despedimos e vamos embora

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