DISCOMENTANDO: Carícias de amor (1970)

>> 12 de jun. de 2008

Quando completou 10 anos de carreira, Teixeirinha renovou o visual e lançou o disco “Volume de Prata”, LP de produção sofisticada e destinado a comemorar sua primeira década de sucessos. No ano seguinte, 1970, ele teve a árdua tarefa de produzir um long-play tão bom quanto aquele. Então, no primeiro semestre do ano em que o Brasil seria tricampeão mundial de futebol, surgiu “Carícias de amor”, quinta produção de Teixeirinha pela Copacabana.

Apesar do nome, “Carícias de amor” não é um disco 100% romântico. Muito pelo contrário. Em seu repertório, destacam-se peças variadas, com pouca repetição de ritmos e temas. Porém, o instrumental que serviu de base para o LP é o mesmo em praticamente todas as 11 faixas. Além disso, possivelmente por questões de cronometragem, este disco possui uma música a menos (somente uma canção apresenta menos de três minutos de duração).

Basicamente, o LP de código CLP-11603, traz diversas músicas de fácil assimilação. O disco começa com “Não é papo furado”, um xote onde se destacam os principais instrumentos presentes na gravação: violão, gaita e percussão (de triângulo, cascos de cavalo, “agê”, etc.). A composição é um misto de saudação aos fãs e provocação aos críticos, no mais alto estilo de Teixeirinha.

As duas faixas que se seguem no lado A de “Carícias de amor” são românticas e apresentam um estilo muito próprio, caracterizado pelo sofrimento de quem canta. No tango “Estradas que se vão”, Teixeirinha deixa de lado o tradicional ritmo “marcado” e parte para uma proposta mais moderna, inspirada nos tangos mais lentos e com ampla utilização de violinos. Na letra, ele conta sobre o dia em que encontrou sua amada pedindo-lhe perdão. A magia desta peça é a possibilidade que cria no ouvinte que pode “visualizar” as cenas descritas pelo cantor (“Tomei-lhe as mãos / e os seus joelhos descolaram-se do chão...”).

A terceira canção do álbum é “Só quero vingança”, uma guarânia que se utiliza de violino, gaita e violão. Esta é, sem dúvidas, uma das mais belas músicas gravadas por Teixeirinha – e também uma das menos lembradas. Ao ouvido minimamente treinado, fica claro que a composição é inspirada em “Vingança” de Lupicínio Rodrigues. A história fala sobre uma mulher que, desesperada, retorna a sua terra natal em busca do perdão do amado. Ela bebe e se desespera, mas ele não a deseja mais e, além disso, ri de tal situação num gesto de vingança.

“Tristeza”, a quarta canção do LP, é um samba cantado exclusivamente por Mary Terezinha. Gaita, violão, cavaquinho e pandeiro compõem um arranjo belíssimo com direito a breque e tudo mais o que caracteriza um grande samba. Já “Minha querida” é uma valsinha romântica e com bonito arranjo. Para encerrar a primeira face de “Carícias de amor”, um desafio de título “Briga bonita” faz a festa dos ouvintes. Desta vez, a história começa com uma guerra de rimas envolvendo as cidades de Passo Fundo e Bagé. No decorrer da canção, a dupla vai brigar em São Paulo e até o então presidente Médici e o apresentador Flávio Cavalcanti são citados durante a gravação.

Finalmente, abrindo o lado B, a faixa-título: “Carícias de amor”. Trata-se de um arrasta-pé com instrumental bem caracterizado pela ação de violino, cuja letra é de uma simplicidade imensa. No refrão (“Pega, pega, pega, pega / cachorrinho mordedor / vai morder devagarinho / o pezinho do meu amor”), fica evidente um direcionamento ao público infantil, elemento presente em Teixeirinha desde seus primeiros sucessos – “Não e não” e “Dou e dou” como exemplos maiores.

“Rancheira bonita”, “Azulão” e “Saudade do xote” compõem o “miolo” desta segunda parte de “Carícias de amor”. A primeira e a última são homenagens aos dois ritmos sempre presentes na carreira de Teixeirinha. “Azulão”, por sua vez, remonta uma história muito semelhante a de “Canarinho cantador” – antigo sucesso do “Rei do Disco”. Com exceção desta canção, as outras duas são as grandes contribuições deste disco aos ritmos regionalmente gaúchos.

Por fim, mais um desafio: “Bom de bola”. Agora, ao invés de defenderem Grêmio e Internacional, Teixeirinha e Mary Terezinha se engalfinham na briga por Corinthians e Palmeiras, no maior duelo do futebol paulista. O sucesso fica por conta das piadas envolvendo a torcida do “Timão” e a “italianada” palmeirense.

Um detalhe que não pode passar desapercebido é a capa de “Carícias de amor”. Nela, Teixeirinha aparece trajado como os cantores de tango (terno escuro e chapéu ladeado, à Gardel), num estúdio de gravação. Por detrás do cantor (que está abraçado a um violão), aparecem três pedestais para microfones e sete músicos reunidos em pequenos grupos. Com exceção de um dos instrumentistas (o que toca contrabaixo), todos os outros estão sentados tocando algum instrumento. São violões, cavaquinho e percussão. Exatamente atrás de Teixeirinha, encoberta pelo braço esquerdo do cantor, podem ser vistos os pés de uma mulher (usa sandálias brancas e de salto alto). Sobre as pernas da moça, um acordeom, o que nos faz pensar que só pode ser Mary Terezinha quem está ali. Na contracapa, só aparecem o nome das canções do disco e miniaturas de outras seis capas de LPs gravados por Vitor Mateus Teixeira na Copacabana.

Particularmente, creio que “Carícias de amor” não é o melhor dos discos gravados por Teixeirinha nesta fase de sua carreira (que, aliás, julgo ser a de maior qualidade). Contudo, sem dúvidas é um grande disco que – se não deixou uma música marcante como “Dorme Angelita” ou “O colono” – ao menos deu pérolas como “Não é papo furado” e “Só quero vingança” (em minha opinião, a melhor composição do álbum). De zero a dez, classificaria este LP com a nota sete, oito talvez. Até porque, os anos 1970 dariam títulos muito mais bem produzidos na carreira do “Rei do Disco”.

4 comentários:

Anônimo 12 de junho de 2008 às 08:46  

that's really cute..wish i had one too.

Anônimo 14 de junho de 2008 às 10:58  

Oi Chico!
Não sei se tens sugestão de "Discomentado" para o mês de agosto, mas sugiro o álbum "Amor Aos Passarinhos".
Beijos.

Anônimo 15 de junho de 2008 às 10:32  

Tudo bem Chico?
Tenho uma sugestão para "DISCOMENTANDO" que tal falar sobre o álbum: "RIO GRANDE DE OUTRORA / CRIME DE AMOR"?
Um abraço!

Anônimo 15 de junho de 2008 às 10:36  

Seria bom se você falasse dos Discos de Ouro que o Teixeirinha recebeu ao longo da carreira. Além de citar o LP: DISCO DE OURO. né?

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