REVIVENDO TEIXEIRINHA: 1 ANO

>> 29 de fev. de 2008


Parece que foi ontem... Há um ano, mais exatamente no dia 3 de março de 2007, entrava no ar o Revivendo Teixeirinha, este humilde blog criado para saudar e homenagear o grande artista Teixeirinha e sua imensa legião de fãs.

Lá se vão doze meses de uma pequena iniciativa que virou um grande sucesso. E os números não me deixam mentir: já são 80 postagens, 21 edições do “Mundo Teixeirinha”, cerca de 300 comentários e mais de 12 mil visitas (proporcionalmente, mil por mês!). Já discutimos mais de duas dezenas de assuntos diferentes e relembramos de fatos quase perdidos no tempo.

Para além das cifras, nossa página ostenta vários “melhores momentos”. Como esquecer do dia em que nosso endereço foi divulgado ao vivo no programa “Estúdio Betha” da Rádio Rural? E de quando fomos citados pela própria Fundação Teixeirinha em sua home page na Internet? Foram várias, inúmeras menções tanto no mundo cibernético, quanto no real. A repercussão deste blog alcançou até mesmo os desenvolvedores de outros sites, como no caso da página “Paulo Sérgio In Memoriam” e do portal “Boa Música Ricardinho” – excelentes trabalhos que já se tornaram nossos parceiros. Para fechar a lista de reconhecimentos, lembro dos comentários recebidos por internautas espalhados pelo mundo. Aí, cabe ressaltar as participações de fãs de Teixeirinha na Austrália e em Portugal.

Como todo site informativo, por aqui também transitaram algumas polêmicas. Afinal, Teixeirinha era gremista ou colorado? Como foi a briga entre ele e Gildo de Freitas? Matérias, comentários e até discussões acirradas tentaram desvendar estes mistérios. O importante aí, no entanto, não é tanto o que realmente aconteceu, mas as hipóteses e até a criatividade e espírito investigativo de cada um. Ou seja: o importante é participar!

Brincadeiras à parte, o Revivendo Teixeirinha acabou desenvolvendo não apenas o resgate à memória do “Rei do Disco”, mas também a de outros artistas, menos lembrados ou então que viveram na mesma órbita do “Gaúcho Coração do Rio Grande”. Foi assim que, de forma muito bonita, ressurgiram nomes como Jorge Camargo (que vem ganhando uma nova história desde então), José Mendes, Maria Celoí e a própria Mary Terezinha – sempre lembrada por aqui. Da mesma forma relacionamos Teixeirinha com o mundo no qual viveu e com os artistas que marcaram sua trajetória (Vicente Celestino, Carlos Gardel, Francisco Alves e Roberto Carlos, entre outros). Enfim, um resgate no tempo que transformou o Revivendo Teixeirinha numa página que vai além do cantor gaúcho, um processo que traz para a atualidade artistas e até gravadoras que hoje não são tão lembradas.

No que diz respeito ao próprio Teixeirinha, creio que alcançamos excelentes resultados. Ótimas sugestões, aliadas ao préstimo de vários colaboradores e ao trabalho deste blogueiro, geraram bons textos capazes de chamar atenção até dos menos interessados no assunto. Dentre tantos êxitos, merecem menção os textos “Teixeirinha em Quadrinhos” (que teve uma inesperada repercussão!), “Guerra de Rimas: Os Desafios”, as três edições (até agora) do “Discomentando” e a série de escritos “Coração de Luto: 40 anos depois” – sobre o aniversário do primeiro filme estrelado pelo “Rei do Disco”. Além disso, é preciso mencionar o “caso Última Tropeada”, isto é, as inúmeras dúvidas respondidas sobre este disco (que acabaria, por fim, protagonizando um texto esclarecedor).

Enfim, são êxitos e mais êxitos. É claro que, como já era de se esperar, vez por outra erramos feio. Aí, é preciso parar, reconhecer o erro e tentar resolvê-lo. Também é evidente que, às vezes, o autor se deixou levar pela emoção ou por experiências pessoais na redação dos textos (e duas matérias relativas a viagens a Porto Alegre ilustram bem isso), mas... Acontece!

Hoje, lembrando tudo o que se passou neste último ano, é preciso que se pense na importância que este pequeno blog ganhou (e continuará ganhando) para aqueles que desejam informar-se não apenas sobre Teixeirinha, mas também acerca de uma parte importante das histórias do Brasil e do Rio Grande do Sul. É preciso que se reflita sobre o tamanho deste fenômeno Teixeirinha, um nome que – aparentemente – já poderia ter desaparecido, mas que – inexplicavelmente – segue vivo. No arremate deste singelo texto, que é uma homenagem a todos nós, deixo o meu muito obrigado pelas visitas, pelos comentários e por serem o combustível que moveu o Revivendo Teixeirinha neste primeiro ano e que, espero, continuem sendo por muitos anos.


E amanhã, "Mundo Teixeirinha"!

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ATENÇÃO!

>> 16 de fev. de 2008

Excepcionalmente na semana que vem o Revivendo Teixeirinha fará uma pausa. O motivo? Estarei envolvido na grande reforma do visual e dos quadros do site. Aproveite a falta de postagens novas para visitar nossos arquivos e deixar suas sugestões para novos textos. Volto na última semana de fevereiro com grandes novidades. Aguardem!

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MUNDO TEIXEIRINHA - Edição 20

“Mundo Teixeirinha” chegando com relativo atraso nesta semana. Motivo: um pouco de preguiça misturada com outros afazeres. Bem, mas antes tarde do que nunca! Vamos lá:

Mary Terezinha

Começo o “Mundo...” desta semana com algo que não é muito comum aqui no blog. É que não costumo censurar a participação de ninguém, mas tenho de impor certas regras quanto a determinadas postagens. E nesta semana tivemos a participação de um amigo que denegriu a pessoa da acordeonista Mary Terezinha. Devo dizer que manifestações como estas são reprovadas aqui no blog e que serão banidas caso se repitam. Este é um espaço para discutirmos questões de cunho artístico (mesmo os temas sobre a vida pessoal de Teixeirinha não abrangem assuntos de caráter íntimo) e assim gostaria que continuasse sendo.

José Mendes


Atendendo a pedidos, vai aqui uma pequena mas justa homenagem. Nesta semana que passou completaram-se 34 anos de morte do querido José Mendes. O “Gaúcho Alegre”, como também era conhecido, nasceu em 20 de abril de 1939, no município de Lagoa Vermelha. Em 1962 gravou o primeiro LP, mas foi só em 67 que obteve sucesso nacional com o fenômeno de vendas “Pára, Pedro”. Sua carreira foi interrompida tragicamente em 1974, quando a caminhoneta em que viajava chocou-se com um ônibus na localidade de Povo Novo (município de Rio Grande). José Mendes gravou oito LPs, vários compactos e atuou em três filmes de longa-metragem.

Meu Pingo Branco

O Fabiano Maccgnanni quer saber em que LP se encontra a música “Meu Pingo Branco”. Lá vai a resposta: ela ocupa a faixa 5 (Lado B) do LP “Amor de Verdade”, lançado pela Continental em 1978 (nº. 1.07.405.131). O disco já foi remasterizado em 2002. É a edição 26 da série Gauchíssimo (Warner/Galpão Crioulo).

Mais músicas

Na semana passada a Jéssica Augusto trouxe uma série de trechos de músicas para que eu decifrasse o nome de cada uma. Como cumpri o desafio, ele se repete novamente nesta semana. Vamos lá:

“... me responda, Teixeirinha, aonde nasce a saudade...” = DESAFIO DAS PERGUNTAS
“... rainha do desafio...” = BRIGA BONITA
“... em fevereiro tu pára...” = DESAFIO DOS BAMBAS
“... não se deixa pra depois...” = BOTA DESAFIO NISSO
“... meu povo não acredita...” = DESAFIO DOS COBRÕES
“... pois eu não sou idiota...” = DESAFIO
“... que nem macaco da Angola...” = AGORA TU ME PAGA
“... heptacampeão do estado...” = AZUL E VERMELHO
“... vai tomar umas vitaminas...” = O DESAFIO DOS DOUTORES
“... na jogada...” = DESAFIO DA ESCÔPA
“... sai Teixeira, credo em cruz...” = DESAFIO DO GRENAL
“... o moço da prefeitura...” = DESAFIO DO ARREMATE
“... eu quero saber do beijo...” = DESAFIO PRA VALER

Linda Loirinha

O Fábio Maccgnanni pediu também a letra da música “Linda Loirinha”. Sem demora, aí vai esta composição que teve duas versões – a primeira no LP “Teixeirinha Show” (1963) e a segunda em “Dorme Angelita” (1968).



Eu planejei de fazer uma viagem
Tirei o meu carro fora da garagem
Fui ver uma moça, bonita imagem
Pra ver o que é bom, eu levo vantagem

Quando a gente ama o peito reage
Não liga pra nada, desgraça é bobagem
Cheguei em casa dela com muita coragem
Falei com a moça no estilo homenagem

[Falado]
“Gaúcho tem que saber se apresentar pra moça bonita!”

Ela é de Lages, Santa Catarina
Quando fui chegando toquei na buzina
Meu carro parou, bem de gasolina
Olhei, vi na porta, sorrindo a menina

Ela é delicada, cinturinha fina
Fala em casamento, contei minha sina
Os ‘velho’ aceitaram, que hora divina
Topei a parada, eu não dobro esquina

[Falado]
“Quando a gente vê moça bonita não deve dobrar a esquina!”

É uma loirinha, linda senhorita
Se eu digo a beleza ninguém acredita
Ela é professora, é grande na escrita
Formada este ano, saiu favorita

Se estou longe dela lhe deixo aflita
Nós dois bem ‘juntinho’ a hora é bendita
Beleza de santa, outras não imita
Das moças de ‘Lage’ ela é a mais bonita

Quantas moças ‘linda’ tenho namorado
E por nenhuma estive apaixonado
Mas agora eu sinto o coração ligado
Na linda loirinha lá do outro estado

Já fiz uma casa, está tudo arrumado
Padrinho e madrinha estão ‘convidado’
Para me casar o dia está marcado
E trazer pro Rio Grande este anjo adorado



Meu ex-amigo

O Leandro pede mais informações sobre a música “Meu Ex-Amigo”. Devo avisa-lo de que a canção será tratada em breve na matéria que estou preparando sobre as músicas compostas por Teixeirinha e que, supõe-se, tenham sido dirigidas a um ou outro artista.

Boa Música Ricardinho

A dica desta semana é para que confiram o bom trabalho desenvolvido pelo site Boa Música Ricardinho (http://www.boamusicaricardinho.com/). Entrem e vejam quantas boas informações!

Pautas

Em breve e atendendo a pedidos, matérias sobre os filhos de Teixeirinha, sobre a música “A morte não marca hora”, sobre a discografia de Mary Terezinha e, principalmente, sobre os aniversários de Teixeirinha e Mary, ambos em março. Aguardem, novidades a caminho!

Agradecimentos

Um agradecimento especial a todos que visitaram e comentaram aqui no Revivendo Teixeirinha durante esta última semana. E um aviso: prestem bem atenção no visual do blog, pois em breve ele estará totalmente modificado. Um grande abraço para o Samuel, Fabiano Maccgnanni, Jéssica Augusto, Leandro, Nilton Tavares, Ricardinho, Fernando, Adelson, Cristina, Claudia, Keche, Rafael Luiz, Nicole Reis, Arnaldo Guerreiro, Claudiomar de Oliveira, Ivan e a todos mais que apareceram por aqui, mas não deixaram comentários.

Fiquem agora com a matéria “A Grande Noite da Viola”. Até semana que vem!

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A GRANDE NOITE DA VIOLA


O texto de hoje bem que poderia fazer parte do “Discomentando”, a nossa discografia comentada de Teixeirinha. O LP de que vou falar, no entanto, erroneamente não tem sido agregado à relação de discos do “Gaúcho coração do Rio Grande”. Talvez a partir de hoje esta história mude...

Desde 1973 os cigarros Arizona promoviam o Festival Arizona da Música Sertaneja, uma grande seqüência de shows realizados em série por todo o Brasil. A cada ano, o evento ampliava seu número de apresentações, dando espaço exclusivo para “a força artística e a criatividade de um gênero muito importante na história musical brasileira – a música sertaneja”. Por ser um festival, a turnê elegia os campeões de cada ano, que gravavam um disco patrocinado pelo Arizona e lançado pela Chantecler.

Em 1981, querendo coroar o reconhecido sucesso da festa, a marca de cigarros e a gravadora paulista uniram-se novamente. Desta vez, contudo, a intenção era outra: no lugar dos vencedores do festival, o disco daquele ano traria nomes já consagrados na música regional cantando seus grandes sucessos. Para encerrar o Festival Arizona de Música Sertaneja – então realizado em 6 Estados e 38 cidades – promoveu-se uma grande festa que passou a ser chamada de “A Grande Noite da Viola”.

Para a “Noite da Viola” (era assim que parte da imprensa insistia em chamar o evento), foram convidados os maiores artistas caipiras, sertanejos e regionais pertencentes ao elenco da Chantecler. Vale sempre lembrar que a gravadora paulista era reconhecidamente ligada ao gênero sertanejo desde sua fundação, em 1957. Por isso mesmo, os grandes nomes da música de raiz mantinham contratos com ela. Milionário e José Rico, Tonico e Tinoco e Teixeirinha são alguns bons exemplos.

Bem, se Teixeirinha (e Mary Terezinha) mantinha contrato com a Chantecler, nada mais óbvio do que escala-lo para a festa, certo? Certíssimo! E foi exatamente isso o que aconteceu.

Em pleno inverno de 1981 as rádios cariocas começavam a divulgar a grande festa que se aproximava. Além das conhecidas duplas do sudeste e centro-oeste brasileiro, os radialistas ressaltavam que Teixeirinha, Mary e o mais novo fenômeno gaúcho – Berenice Azambuja, que estourara pouco antes com “É disto que o velho gosta” - também haviam sido convidados para o evento.

Os cariocas estavam eufóricos. Há seis anos (desde 1975), Teixeirinha não visitava a “Cidade Maravilhosa”, e seus fãs – que ouviam os sucessos do ídolo no rádio – queriam matar as saudades. Atendendo ao convite da Chantecler, em junho de 81, a dupla mais querida do Rio Grande do Sul chegou ao Rio de Janeiro. Concedendo entrevistas, divulgando o LP “Menina Margarethe” e revendo velhos amigos, os dois permaneceram por algumas semanas na capital carioca. E foi entre estes dias, mais precisamente na noite de 20 de junho de 1981, que ocorreu um dos momentos mais incríveis da carreira de Teixeirinha.

O ginásio do Maracanãzinho, palco de grandes espetáculos, dos festivais de música popular e de eventos esportivos internacionais, estava lotado. 10 mil pessoas, entre nordestinos, mineiros, paulistas e, claro, cariocas, faziam a festa à espera de seus ídolos. Depois de alguns instantes de expectativa, um apresentador (cuja identidade ainda não consegui decifrar) anunciava: “Muito boa noite, minha gente... esse espetáculo lindo: A Grande Noite da Viola!”. As milhares de pessoas vibravam num som ensurdecedor. De repente, enquanto eram executados alguns acordes de uma autêntica “moda”, o locutor pede a palavra novamente para anunciar: “Vem aí... Teixeirinha e Mary Terezinha!”. O gigante Maracanãzinho é pequeno para tanta alegria: gritos, aplausos e agitação tomam conta da platéia quando Mary espicha a sanfona, iniciando os primeiros acordes.

A saudade e a espera dos cariocas foi mais do que recompensada. Possivelmente eles sequer imaginassem o que iria acontecer naquele palco. Pensavam, decerto, que o gaúcho cantaria duas ou três músicas conhecidas – como, aliás, estava previsto. Mas, diante dos 10 mil espectadores, Teixeirinha “abriu os trabalhos” com uma de suas marcas: um improviso! Quando a platéia silenciou (ante um acorde desconhecido), ele lascou:



É verdade, meus irmãos
Vai começar a minha prosa
Os homens são os cravos
E as ‘mulher’ são as rosas
Que perfuma com amor
A cidade maravilhosa


Sim, o ginásio ficou em êxtase. A cada novo verso – elogiando a hospitalidade do povo carioca – uma festa nas arquibancadas. Nos seis versos de improviso, o acordeom de Mary, a voz de Teixeirinha e a exaltação do público formavam uma única sintonia. Quando o “Rei do Disco” resolveu lembrar dos outros “irmãos” presentes na platéia, uma nova euforia tomou conta do povo:

Lá do Cristo Redentor
Eu sei que eles vieste
E agora quero cantar
Pro meu irmão cabra da peste
Que é o povo do Norte
Do grande Norte e Nordeste


No último verso, a consagração. Como se estivesse querendo ainda mais do público, o próprio Teixeirinha encerrou o improviso pedindo palmas, desta vez em homenagem à Mary Terezinha:


Meu grande Rio de Janeiro
Terra de rei e da rainha
As rádios anunciaram
E eu lhe prometi que vinha

Tô aqui por que eu cheguei
Terra de rei e rainha
E agora eu quero ver palmas
Para a Mary Terezinha!


A apoteose estava feita. Depois do repente, o público acordou de vez para acompanhar Teixeirinha e Mary Terezinha em três canções: “Coração de Luto”, “Menina Margarethe” (que, segundo alguns jornais, agradou muito ao público) e um desafio (possivelmente o “Bota Desafio Nisso”, gravado nesta época). Aliás, durante este último, por um breve momento faltou energia elétrica no Maracanãzinho. Enquanto os geradores voltavam a funcionar, mesmo sem o som dos microfones e amplificadores, Mary deu seqüência ao desafio, fato que lhe rendeu uma imensa salva de palmas.
As doze faixas do LP

“A Grande Noite da Viola” rendeu, em 1981, dois LP’s. O primeiro, contendo 12 faixas, é a própria gravação do show (num cantinho do disco pode-se ler: “GRAVADO AO VIVO NO MARACANÃZINHO”). Este disco começa e termina com Teixeirinha (para que se tenha uma noção do sucesso do cantor). A primeira música é “Exaltação Carioca”, o improviso de que falei antes. Já a última música do Lado B é “Coração de Luto”, numa rara gravação ao vivo.

O outro LP (que também tem o nome de “A Grande Noite da Viola”) foi lançado simultaneamente ao primeiro. Nele, há uma gravação convencional de “Coração de Luto”, localizada na faixa 3 do Lado B. Até onde consta, nenhum dos dois discos foi remasterizado até hoje. Sendo assim, o improviso de Teixeirinha no Rio e a única gravação ao vivo de “Coração de Luto” seguem praticamente inéditos. Vale a dica: quem encontrar o disco “A Grande Noite da Viola” (ao vivo) que compre. É uma raridade!

Com a colaboração de Claudiomar de Oliveira.

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MUNDO TEIXEIRINHA – Edição 19

>> 8 de fev. de 2008


Ainda bem que o “Mundo Teixeirinha” está pequeno nesta semana. É que o texto semanal (a análise do LP “Teixeirinha Show”) ficou enorme e tomará mais tempo do que o normal. Bem, mas enquanto isso vamos responder aos recados da semana!

Teixeirinha vs. Gildo vs. Jorge Camargo...

Continua a discussão sobre que músicas teriam sido feitas para alfinetar Gildo de Freitas, Jorge Camargo e outros. Nesta semana, o Cassiano Ferreira sugeriu uma matéria falando mais sobre essa polêmica. Assim que houver disponibilidade a matéria sai!

"Testamento de um gaúcho"

A Anna Almeida Nanni pede a letra da canção “Testamento de um gaúcho”, lançada em 1962, no LP “Saudades de Passo Fundo” (Chantecler). A música é muito boa, uma das minhas favoritas:


Eu não sei mesmo quando é que vou morrer
Pois não se sabe a hora, nem o momento
E por saber que a morte não tem dia
Já vou deixando prontinho meu testamento

Meu testamento de morte é este xote
E o ‘meus’ parente que preste bem atenção
: Põe este pinho, meu amigo e companheiro
Junto de mim, dentro do mesmo caixão :

[Falado]
“Quero levar o violão comigo. Depois de morto ainda vou fazer serenata! Ê, barbaridade!”

Por ser gaúcho, muito homem e mulherengo
A ‘minhas’ mão não amarre com uma fita
Eu quero elas ‘amarrada’ com a trança
Da cabecinha duma chinoca bonita

Esta chinoca bonita é uma serrana
Diga a esta china, não quero choro, nem vela
: E a maneira da mortalha que escolhi
Eu quero ir enrolado na saia dela :

[Falado]
“É coisa boa a gente morrer, ir pra baixo do chão, mas ir bem enrolado na saia duma chinoca bonita!”

Pois gostar tanto de mulher não é defeito
Isto herança que meu velho pai deixou
O ‘meus’ parente, cumprindo meu testamento
Muito feliz, quando a morte vir, eu vou

Não pode haver coisa melhor pr’um finado
Ser atendido com as coisas que provoca
: E viajar para a última morada
Bem enrolado na saia duma chinoca :



Netos de Teixeirinha em “Tropeiro Velho”

O amigo Nilton José Tavares disse nesta semana que uma das crianças que aparecem no filme “Tropeiro Velho” seria uma neta do cantor. Confesso que, para mim, esta é uma versão inédita. Quando houver tempo, irei procurar por informações que confirmem o fato.

“Dorme Angelita”

Sugestão do Fabiano Maccgnanni, o disco “Dorme Angelita” será a próxima atração do DISCOMENTANDO (edição de março).

Mary Terezinha

Ainda esclarecendo uma dúvida do Fabiano: no DVD “Teixeirinha – O Gaúcho Coração do Rio Grande” (RBS TV, 2005), Mary Terezinha não canta e nem toca nenhuma música. A foto postada no blog é dos bastidores do programa e, pelo visto, antes das filmagens ela deu uma palhinha aos produtores. No DVD, Mary só aparece contando histórias dos anos de dupla com Teixeirinha.

Qual é a música?

Não, não estou falando do programa de Silvio Santos. É apenas um pequeno desafio que a Jéssica Augusto enviou. Ela quer saber o título de sete canções de Teixeirinha, mas soube informar apenas alguns trechos delas. Juro a vocês que responderei sem consultar meus arquivos. Aí vai:

“Há cinco anos deixei minha terra...” = FILHO INJUSTO
“...sou o silêncio de uma campa fria” = SOU TODO TRISTE
“Lá na fazenda eu criei um pingo branco...” = PINGO BRANCO
“É uma loirinha, linda senhorita...” = LINDA LOIRINHA
“...não tem remédio, é sem cura...” = REPENTE
“Se o cavalo der garupa, me leva...” = GAITEIRO CANTADOR
“Não acredito que alguma mulher...” = GAÚCHO ANDANTE

Desafio concluído! Quem quiser, mande mais trechos que eu tento responder.

Agradecimentos:

Como de costume, agradeço a todos que participaram ou apenas visitaram o blog nesta semana. Registrando o nome de quem deixou recado, agradeço: Jaison, Fabiano Maccgnanni, Cassiano Ferreira, Jéssica Augusto, Nilton Tavares, Anna Almeida Nanni e Arnaldo Guerreiro! Muito obrigado pela visita e voltem sempre!

E agora, com vocês, o “DISCOMENTANDO: Teixeirinha Show”, uma sugestão da amiga Rozélia Baptista. Até semana que vem!

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DISCOMENTANDO: "Teixeirinha Show"

[Clique na imagem para ampliar]


Em meados de 1963, Teixeirinha já tinha feito de tudo um pouco na Chantecler. Contratado exclusivo da gravadora desde 1959, ele já gravara seis álbuns. No último, o consagrado “Rei do Disco” cantava – pela primeira vez – músicas de outros compositores. “Teixeirinha interpreta músicas de seus amigos” (o sexto LP) fazia parte de uma bem sucedida estratégia que tinha por objetivo diversificar a carreira do “Gaúcho Coração do Rio Grande”. A Chantecler, contudo, ainda queria mais.

Naquele mesmo 1963, um outro projeto pipocava na mente dos produtores responsáveis pelo selo “Sertanejo” (divisão pela qual eram lançados os discos de Teixeirinha na Chantecler). Tratava-se de um inédito LP show.

Mas, nos longínquos anos 60, a tecnologia ainda não era tão avançada. Se no século XXI, discos “acústicos” ou mesmo “ao vivo” são produzidos com facilidade e rapidez, o mesmo não se pode dizer daqueles tempos. A nova empreitada envolvendo Chantecler e Teixeirinha, portanto, deveria ser muito bem pensada. A principal missão era aliar baixo custo e alta qualidade a um produto fora dos padrões adotados até então.

É aí que começa a polêmica em torno do LP “Teixeirinha Show”, lançado em 63. Diretamente: ele é ou não uma gravação “ao vivo”? Sinto decepcionar àqueles que pensavam que sim, mas a resposta é negativa. “Teixeirinha Show” é fruto de uma grande e competente edição, aliada a um script muito bem planejado. Isso mesmo! Para evitar os altos gastos – e uma possível qualidade sofrível do produto – a gravadora do galinho forjou um LP no qual Teixeirinha, Mary Terezinha, o Regional Chantecler, um locutor desconhecido e mais de 3.600 pessoas (!) participam de uma tremenda apresentação que seria lançada nacionalmente no mercado fonográfico. As provas de que aquele não é um show de verdade? Daqui a pouco vocês verão!

O disco em si traz as mesmas e tradicionais doze faixas de sempre. A primeira, intitulada “Apresentação”, começa com o locutor (cuja identidade é nebulosa) anunciando o show: “Alô, senhoras e senhores! Muito boa noite! Neste momento tenho o grande prazer de apresentar para todos vocês o único e maior repentista brasileiro no disco: compositor e cantor de sua própria música, Teixeirinha, o gaúcho coração do Rio Grande; e sua acordeonista, Mary Terezinha!”. Um acorde de viola e sanfona – entremeado por aplausos – e começa a apresentação. De início, um “improviso” do “Rei do Disco”, onde ele saúda a platéia. Logo no segundo verso, é informada a dimensão do público ali presente, fato utilizado para dar um realismo maior à gravação:



Quase quatro mil pessoas
Que me assiste nesta hora
Tem a segunda sessão
Que está esperando lá fora

Cheguei no palco cantando
Fez ‘tirim’ a minha espora
E os meus versos ‘sai’ da mente
Pro senhor e pra senhora
Para as moças e os rapazes
Pra crianças canto agora



Bem, até aí o disco parece mesmo ter sido feito a partir de um show. No fim do improviso o locutor volta a mencionar o público, dizendo que “Teixeirinha canta para 3.600 pessoas, e ainda tem a segunda sessão esperando lá fora!”. Feitas as devidas apresentações, o “Gaúcho Coração do Rio Grande” agradece as palavras (desta vez falando, e não cantando) e chama a “senhorita Mary Terezinha”, tratada como “minha acordeonista”, que “me acompanha nas gravações, nos espetáculos por todo o Brasil e também no estrangeiro”.

Depois de 5 minutos e 34 segundos tomados por falas, repentes e aplausos, passamos à segunda faixa do álbum. Aqui, permanecem as palmas, mas somem as falas, pois é hora de cantar. O chamado “primeiro número” é a rancheira “Linda Loirinha” (que, anos depois, seria regravada com outro ritmo). Trata-se de uma bela canção, leve e animada, na qual todos os quatro versos de uma mesma estrofe rimam. Basicamente, é a história de um rapaz que, muito apaixonado, sai de sua terra natal rumo a Lages (Santa Catarina), aonde irá encontrar a “linda loirinha” (moça repleta de qualidades). Apesar de curta (possui apenas 1 minuto e 55 segundos), particularmente, considero esta a melhor música deste disco, pois nela transparecem empolgação e alegria ao mesmo tempo.

Passamos à terceira música de “Teixeirinha Show” e... surpresa! Uma faixa de quase dez minutos, onde são intercalados versos cantados e falas. Aliás, falas não; locução esportiva! Para que entendam, deixo que Teixeirinha explique melhor o “Futebol dos Bichos”. Ele diz: “Agora vou cantar e irradiar uma partida de futebol. É o seguinte: quando eu estive no sertão... que Deus me livre... eu assisti uma partida de futebol entre os bichos, e o locutor... o locutor era o papagaio”. E começa uma das mais esquisitas (no bom sentido!) músicas gravadas pelo “Rei do Disco”. Primeiro alguns versos apresentando os dois times (o esquadrão do Conde Tigre e o quadro do Rei Leão), ambos compostos por animais da floresta. Depois, feitas as devidas premissas musicais, Teixeirinha assume a narração do evento (ocorrido no “Estádio das Pitangueiras” e arbitrado pelo elefante), sendo auxiliado pela repórter de campo, Mary Terezinha.

O jogo é longo e a locução de Teixeirinha é digna do “rádio-metralhadora” (aquelas locuções radiofônicas onde os profissionais tem o incrível dom de emitir 3 ou 4 palavras num único segundo). E o resultado do jogo? Dois a zero para a equipe do Conde Tigre (gols de tatu e veado), com direito a bola na trave, jogador contundido (o goleiro sapo) e, no final, uma briga monumental entre jogadores, arbitragem e até as esposas dos atletas! Falando sério e sucintamente: haveria – em toda a carreira de Teixeirinha – uma faixa mais adequada às crianças do que esta?

Depois de “Futebol dos Bichos”, Teixeirinha conta uma piada, é aplaudido e anuncia a próxima atração: o tango “Falsa Mulher”. Compondo a quarta faixa deste Lado A, vemos uma música mais tradicional e adulta, tratando dos desamores e da falsidade de alguma mariposa. Apesar do arranjo pouco elaborado (são audíveis apenas um ou dois violões e a gaita), este é um ótimo tango.

Fechando esta primeira face do “Teixeirinha Show” (este disco, excepcionalmente, traz cinco faixas de um lado e sete do outro), surge a mais famosa e esperada “música” do disco. O título é simples, mas adequado: “Repente”. Nele, pela primeira vez em sua carreira, Teixeirinha transporta para um LP aquilo que era uma de suas marcas, isto é, o dom de repentista.

A fórmula do “Repente” é conhecida: alguém na platéia diz uma palavra e o repentista tem que bolar suas rimas a partir daquela sugestão. Mas esperem! Há alguns parágrafos atrás, prometi que mostraria evidências de que este não é um disco “ao vivo”. Chegou a hora de conhecermos algumas destas provas.

Teixeirinha explica o que transcorrerá em “Repente” e pede aos membros da platéia quatro palavras. Na primeira, uma “senhorita” grita o termo “amor”. O som – supostamente vindo dos espectadores – é mais baixo, mas a voz é muito, mas muito parecida com a de Mary Terezinha. Suspeito, não? Estranha também é a maneira como Teixeirinha dirige-se à platéia, com palavras bem medidas, respondidas instantaneamente e sem tumultos. É, talvez a maioria de nós jamais tenha visto um show de Teixeirinha, mas é de se imaginar que, ao pedir quatro palavras para elaborar o repente, houvesse, pelo menos, algum furor maior por parte do público.

De qualquer maneira, Teixeirinha colhe as quatro expressões necessárias e executa uma trova limpa e bastante interessante. Com arranjo baseado em milonga, ele rima com as palavras “amor”, “sol”, “aleijado” e “cachaça”. Para cada uma, quatro estrofes (ou quadras), intercaladas por mais aplausos. No final, depois de versos tristes e alegres, ele apela para o bom humor:



Ô, cachacinha malvada
Você tem muito freguês
Tem gente que, se pudesse
Te bebia de uma vez

Tomei um fogo esses dias
Lá no bar do português
Briguei, fui quebrando tudo
E vou contar pra vocês
Ele pra fazer justiça
Mandou chamar a polícia
Me surraram de lingüiça
E fui dormir no xadrez...



Em meio a risos e muitos aplausos, chega ao fim a faixa “Repente” encerrando, consigo, o Lado A do “Teixeirinha Show”.

Mas se as primeiras cinco músicas do LP show de Teixeirinha são bastante convincentes, não se pode dizer o mesmo do Lado B. Sem a menor explicação, somem os sons da platéia (aplausos, risos...)! Aliás, a primeira faixa (“Abertura”), além de ser a mais curta em toda a carreira de Teixeirinha (23 segundos), começa com um incompreensível toque de campanhia. Nela, o cantor agradece ao público e anuncia a próxima atração, a música “Duas Juras”.

“Duas Juras” já é uma música de arranjo mais requintado e lembra em tudo uma canção gravada em estúdio. Basicamente, discorre sobre mais um amor desencontrado. Executada em pouco mais de 3 minutos e meio, ela antecede a terceira faixa do disco, “Diálogo”, que – como o próprio nome nos indica – é uma conversa do cantor com Mary Terezinha.

Em “Diálogo”, Teixeirinha apresenta novamente Mary. Eles começam a conversar. Mary conta-lhe que sua casa ficou sem luz e, então, ela teve de chamar um eletricista que consertou o problema. Teixeirinha diz que era apenas um “fuzil” queimado (na verdade, ele referia-se a um fusível). Mary desconversa e lasca uma pergunta constrangedora: “Você já disse aí pro pessoal se é solteiro ou é casado?”. Teixeirinha reluta, mas responde afirmativamente, salientando que não tem filhos. É então que Mary praticamente encerra o diálogo com a seguinte frase: “Então vai ver que você está com o ‘fuzil’ queimado também!”.

Apesar da piada, os risos e comentários presentes no Lado A do LP não aparecem mais agora. Isto talvez se dê, porque ouvindo com muita atenção a primeira parte do disco, percebe-se que todas as manifestações supostamente oriundas do público são repetidas (os risos, assovios e sons de falas são sempre os mesmos), como se estivéssemos, por exemplo, ouvindo um destes seriados da TV americana. Na segunda face do disco – talvez por questões de qualidade, já que a mixagem do Lado A não ficou das melhores – estes sons são cortados. Em suma, o próprio disco acaba perdendo seu caráter de gravação “ao vivo”, pois desaparecem quaisquer emissões acústicas exteriores.

Se perde um pouco do dinamismo e a chancela de “ao vivo”, pelo menos “Teixeirinha Show” ganha maior familiaridade. E ele segue em frente trazendo – na quarta faixa deste lado – o instrumental “Saudades do nosso amor”, valsa interpretada por Mary Terezinha no acordeom. Depois, mas uma canção com cara de estúdio: “Tropeiro dos Pampas”, uma bonita toada falando da vida romântica levada pelos tropeiros que levam e trazem boiadas de todas as partes.

A sexta e penúltima faixa do “Teixeirinha Show” é “Pensando em ti”, uma música lindíssima (principalmente em sua poesia), interpretada com acompanhamento de pouquíssimos instrumentos (como praticamente todas as canções deste disco), mas com uma qualidade esplêndida. É mesmo o tipo de composição em que não há muito que falar...

Finalmente, chegamos a sétima faixa do Lado B. Ela encerra o disco de forma especial. Seu nome? “Diálogo e repente”, um título adequado e verdadeiro. Primeiro vem a fala, uma brincadeira bastante engraçada entre Teixeirinha e Mary Terezinha. Começa quando Mary pede licença para agradecer por um presente que recebeu – uma cabrita. Teixeira contesta, dizendo que ganhou um presente muito melhor – um bode. Para medir as qualidades dos dois animais, Mary propõe uma aposta: “Jogo a sanfona contra o seu violão que o que eu faço com a minha cabrita você não faz com o seu bode!”. Teixeirinha topa e entra numa grande fria!

Mary já começa apelando: “Eu dou banho na minha cabrita!”. Teixeirinha reluta, mas aceita. Depois, ela dificulta ainda mais: “Eu durmo com a minha cabrita!”. Mais uma vez o cantor não gosta, mas topa. Ela piora: “Eu pisco os ‘olho’ pra minha cabrita!”. Teixeira fica possesso: “Ah, mas parai! Que negócio é esse de piscar os olhos pra cabrita? Vou namorar o bode, é? Ah não, aí não vai dar não!”. Entretanto, sentindo a derrota que se aproxima, ele cede e ainda debocha que ela não terá nada mais de tão grave a dizer.

Teixeirinha não contava com a última de Mary: “Eu mamo na minha cabrita!”. Ele encerra a aposta na hora: “Pode levar, porque esta eu não faço de jeito nenhum!”.

Depois da brincadeira (que é realmente engraçada, mas – insisto – não traz os risos da platéia no final), Teixeirinha decide arrematar o LP cantando em homenagem a todos que escutam o disco. Ele explica: “Já que a Chantecler está gravando este show e vai lançar o mesmo num long-play à venda em todo o Brasil eu vou agora fazer uns improvisos para as pessoas que vão comprar o meu disco show. Cantarei uns versos e começando pelo senhor dono da casa (...) e depois para a senhora dona da casa e também para os filhos... Até para a empregada. Mary Terezinha, puxa o fole!”.

Começa então a parte cantada de “Diálogo e repente”, um extraordinário improviso (que, a julgar pelo caráter fictício do “ao vivo”, não é tão improvisado assim) no qual o cantor saúda pai, mãe, filhos e até a empregada, ou seja, todos os integrantes da casa em que o disco será tocado. Dois detalhes são bastante interessantes nesta gravação: (1) Teixeirinha agradece ao dono da casa por ter-lhe comprado o disco; e (2) pela primeira (e talvez única) vez num disco ele refere-se à dona Zoraida, sua esposa legítima, num verso:



Eu já disse à minha esposa
Que é a dona Zoraida
Pra escolher secretária
Ela é uma parada

Eu quero empregada nova
Ela fica enciumada
Diz que ela é quem escolhe
A minha esposa é danada

Durante o ano ela bota
Oito ou nove ‘empregada’
Umas ‘velha’ rabugenta
Que não serve pra mais nada



Depois da última estrofe, retorna a voz do locutor dando por encerrado o show de Teixeirinha. Com um “boa noite”, encerra-se também este LP que traz Teixeirinha e Mary Terezinha na capa (ele vestido esportivamente e segurando óculos escuros e ela vestida à Jovem Guarda), pousando junto a um lindíssimo automóvel Aero Willys, em algum lugar de São Paulo (possivelmente próximo ao estádio do Pacaembu). Na foto, aparecem também três malas, duas delas utilizadas para transportar gaita e violão. Indiscutivelmente, uma das capas mais bem elaboradas da carreira fonográfica do cantor (com destaque para a sempre exuberante beleza de Mary).

“Teixeirinha Show” foi remasterizado em 2002. Ele é o volume 13 da coleção “Gauchíssimo”, lançamento da Galpão Crioulo Discos em associação com a Warner Music. Vale a pena conferir!

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MUNDO TEIXEIRINHA - Edição 18

>> 2 de fev. de 2008


Carnaval... tamborins esquentados! E o “Mundo Teixeirinha” chega com sua 18ª edição, trazendo tudo o que foi destaque na semana. Aproveitem!

Lista de pautas

Com o início do mês de fevereiro, cumpro o novo ritual instaurado aqui no blog: a lista de pautas. Confira o que será assunto nas próximas semanas por aqui:

01/02: “A saudade que ficou”
08/02: “DISCOMENTANDO: Teixerinha Show”
15/02: “A grande noite da viola”
22/02: “Apaixonado por carro...”
29/02: [postagem especial comemorativa de 1 ano do blog] NOVIDADE!

E não se esqueçam: todas as pautas sugeridas serão atendidas!

Errata

A Nicole Reis já havia me alertado e o amigo Gabriel Lopes Pereira chegou a postar a informação por aqui. Mesmo assim, não custa lembrar: errei! O filme “A quadrilha do Perna Dura” não foi rodado em Osório, conforme publiquei semana passada. “A quadrilha...” foi filmado em São Francisco de Paula. O longa-metragem gravado em Osório foi o “Tropeiro Velho”.

Dúvida?

Enquanto os amigos do blog tentavam encontrar o município de Osório no filme “A quadrilha do Perna Dura” (o que não foi possível pois, como já vimos, Osório só aparece em “Tropeiro Velho”), o Nilton José Tavares teve uma dúvida: ele pergunta se em “Tropeiro Velho” o menino que interpreta o filho de Mary e Teixeirinha é o pequeno Teixeirinha Neto. Na realidade, Neto ainda não era nascido em 1979 e o personagem é interpretado por Alexandre Teixeira – filho legítimo da dupla.

“Conversa fiada”

O assunto deu muito pano pra manga aqui no blog. Afinal, a quem foi dirigida a música “Conversa Fiada”, gravada por José Mendes? Pelas informações que coletei, e pelo que foi postado aqui mesmo no “Revivendo...”, a canção foi feita como resposta aos tradicionalistas extremados que condenavam Mendes pelo pouco conteúdo de sua consagrada “Pára Pedro”. Enfim, não creio que tenha sido dirigida a alguém em especial.

Falando nisso...

É meu dever indicar um livro que acabo de ler. Trata-se da biografia do cantor e compositor José Mendes – o livro “Pára Pedro”, escrito por Ajadil Costa. Para adquirir este precioso estudo, basta contatar o autor através do seguinte endereço: Av. São João, 786; CEP: 95380-000; Esmeralda/RS. Vale a pena!

“Meu ex-amigo”

Teixeirinha se foi, mas sua obra segue perene e despertando várias inquietações. Uma das últimas diz respeito à música “Meu ex-amigo” (“Última gineteada”, 1974). A quem ela teria sido dirigida? Já apareceram diversas indicações, mas seguem na frente os nomes de Gildo de Freitas, Jorge Camargo e Ivan Trilha. Com tantas especulações, não me arrisco a dar meu voto, mas em breve prometo uma matéria buscando uma solução lógica para este mistério.

Remasterizações

Concordo plenamente com a postagem do amigo Samuel aqui no blog. Ele diz o seguinte: “A Lei de Direitos Autorais, além de estar ultrapassada, propiciando a MORTE de nossa CULTURA, é dúbia, dando margem para várias interpretações; Assim, pegar um LP do Teixeirinha que estava apodrecendo nos porões faz gravadoras e remasterizá-lo e compartilhar com os amigos, SEM FINS LUCRATIVOS, é visto por vários especialistas como lícito. (...) Agora, se tem vários cds espalhados nas lojas, pra quê ficar espalhando na NET?”. Concordo com tudo, MAS, insisto que não poderei permitir que o blog transforme-se num local onde se trocam músicas e filmes, pois (1) sou um pesquisador e tenho minhas responsabilidades e (2) a própria família Teixeirinha, apesar de buscar alternativas para disponibilizar o acervo aos fãs do cantor, prefere que as músicas não sejam trocadas pela Internet.

Endereço de Mary Terezinha

Entendo perfeitamente a sede dos fãs por informações referentes à Mary Terezinha, e busco estar sempre divulgando tudo o que diz respeito a querida cantora e acordeonista. Porém, não tenho condições de atender ao pedido feito pela Cristina (ela pede o endereço de Mary), pois não tenho as informações requisitadas. Espero, em breve, conseguir notícias sobre Mary e, podem ter certeza, postarei aqui no blog!

Ainda sobre José Mendes...

A pergunta foi dirigida ao professor Claudiomar (amigo e cadeira cativa aqui no blog), mas como sou enxerido, responderei ao também amigo Nilton Tavares. José Mendes, o “Gaúcho Alegre” autor de “Pára Pedro” e outras pérolas de nosso cancioneiro, morreu no dia 15 de fevereiro de 1974, no quilômetro 14 da BR-471, perto da localidade de Povo Novo – entre Rio Grande e Pelotas. A informação foi retirada do livro “Pára Pedro”, de Ajadil Costa.

Arnaldo Guerreiro

O Juliano Cardoso pede o e-mail do fã de carteirinha Arnaldo Guerreiro. Vou enviar um recado a ele pedindo a autorização do mesmo para divulgar seu endereço eletrônico aqui no blog. Semana que vem já teremos resposta!

Confirmando...

O Fabiano Maccgnanni perguntou qual é o nome da música em que Mary canta “Amarra o pingo o sesteia... Esta na hora da ceia”. Pelos versos, só pode ser mesmo a canção “Amor de Gaúcho”, gravada em 1965 no LP “O rei do disco”. O disco é no número 11 da Série Gauchíssimo.

“Saudade da minha terra”

A Rozélia Baptista pede a letra da bela canção “Saudade da minha terra” (“Mocinho aventureiro”, Copacabana, 1967). Deixo com vocês mais esta bonita música:


[Falado]
“Chora comigo, sanfona! Desabafa a saudade que eu tenho no coração!”

Deixei a minha terra, meu Rio Grande amado
Pra morar em outro estado do mesmo Brasil
Eu vivo muito bem aqui noutra cidade
Chorando de saudade do meu céu de anil

Eu trouxe, por lembrança, uma cuia de mate
Na sombra do abacate tomo chimarrão
Me lembro da querência, quando despedi
Terra onde nasci vive em meu coração

[Coro]
Me lembro da querência, quando despedi
Terra onde nasci vive em meu coração

Deixei a minha casa de tábua de pinho
Me lembro do carinho de uma prenda linda
As noites do Rio Grande que passei com ela
Só o retrato dela é que me resta ainda

Eu vivo muito bem aonde estou morando
Saudades me judiando, isto é problema meu
Só quem não é humano é que não tem lembrança
Dos tempos de criança e de onde nasceu

[Coro]
Só quem não é humano é que não tem lembrança
Dos tempos de criança e de onde nasceu

[Falado]
“Esta cuia que se apóia na concha da minha mão, tem as iniciais RS – a terra em que me viu nascer!”

Me lembro do Rio Grande quando a noite cai
Meu sonho lá se, vai ver o meu céu azul
Vagueia o pensamento passeando no pago
Beijando com afago o Rio Grande do Sul

E quando me acordo, vem clareando o dia
Eu choro de alegria, porque em sonho eu vi
A china, o meu cavalo, a boiada pastando
Os pássaros cantando, terra onde eu nasci

[Coro]
A china, o meu cavalo, a boiada pastando
Os pássaros cantando, terra onde eu nasci


Teixeirinha On-Line?

O Thiago Sene faz uma interessante pergunta: existe algum lugar onde podemos ouvir Teixeirinha na Internet. Realmente, que eu saiba, não. Há um tempo atrás a Rádio Uol disponibilizava discos do cantor, mas – pelo que soube – não há mais este serviço. Em meados de 2007, a Fundação Teixeirinha chegou a testar uma rádio 24 horas que executaria apenas músicas do artista. Infelizmente, esta tentativa também não teve continuidade.

Catuaba com Amendoim

Ótima colaboração da Rozélia Baptista sobre o grupo de forró “Catuaba com Amendoim”, que gravou um CD especial contendo apenas músicas de Teixeirinha. A Rozélia diz o seguinte: “Canta Teixeirinha é o grande lançamento de 2005 do Catuaba com Amendoim, a banda de forró formada em 1996 pelos vocalistas Socorrinha, Kiko, Cláudia Lombardi e Luciano, que também é sanfoneiro, além de B. Jota no sax, Francisco José e Francisco José II na bateria, Agnaldo no baixo e Lídio no teclado. São 14 faixas fantásticas com o melhor da obra do mestre, entre elas, "Cobra Sucuri", "Tempo de Mocinho", "O Menino da Porteira", "Caminhoneiro Amigo" e "Vejo o Nosso Amor no Fim", alguns dos destaques.” Em breve farei uma matéria sobre o disco.

Sugestões

O Thiago Sene, além da dúvida sobre as rádios on-line, pede uma matéria sobre as músicas de Teixeirinha em homenagem aos presidentes da República. Já a Fernanda Athayde sugere uma matéria que será postada em maio, sobre as músicas de Teixeirinha que citam a figura materna. Estas e outras sugestões serão atendidas aos poucos e em breve. Obrigado pelas idéias e continuem sugerindo!

Agradecimentos

Sem delongas, agradeço nominalmente a todos os que apareceram (e comentaram) por aqui nesta semana: Rafael Luiz, Nilton Tavares, Samuel, Humberto Sousa, Roberto, Claudiomar de Oliveira, Cristina, Juliano Cardoso, Fabiano Maccgnanni, Jaison, Rozélia Baptista, Thiago Sene, Fernanda Athayde e Gabriel Lopes. A todos que visitaram, mas não comentaram, o meu forte abraço!

E agora, fiquem com o texto “A SAUDADE QUE FICOU”, sobre os carnavais de antigamente. Bom carnaval a todos e até semana que vem com mais novidades!

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A SAUDADE QUE FICOU

>> 1 de fev. de 2008

Carnaval: para nós, brasileiros, esta palavra é tão comum que às vezes até esquecemos a história da folia, as festas que passaram e os nomes que marcaram a trajetória do samba. E até deixamos de lembrar, também, que todos (eu disse todos) os brasileiros têm sua própria experiência carnavalesca, seja nos bailes e avenidas, seja através das ondas do rádio e da TV.

Vitor Mateus Teixeira, protagonista deste blog, deve ter vivido inúmeras situações de carnaval. Terá encontrado algum amor na folia? Freqüentava bailes e festas ao som das marchinhas? Não sabemos. Mas, como na carreira de Teixeirinha sempre há algum indício sobre qualquer assunto, é possível remontarmos alguns trechos da relação do cantor com a festa mais popular do Brasil.

Antes, um rápido exercício cronológico: oficialmente, o primeiro samba foi gravado em 1917, por Bahiano. Era “Pelo Telefone”, composição de Donga e Mário de Almeida, hoje citado em qualquer antologia de carnaval. Acrescente-se uma década e vamos para 1927, ano da primeira gravação elétrica no Brasil (com Francisco Alves cantando “Albertina”, pela Odeon) e do nascimento de Vitor Mateus Teixeira, nosso querido Teixeirinha. Mais dez anos e estamos em 1937, data da morte de Noel Rosa, o maior compositor deste e de outros períodos da música no Brasil.

Quem prestou atenção neste verdadeiro jogo dos setes (1917-1927-1937), deve ter reparado que Teixeirinha contava apenas 10 anos de vida quando Noel Rosa faleceu precocemente, antes de chegar aos 30 anos. Aparentemente, numa época em que as comunicações ainda eram precárias, o pequeno Victor não teria motivos para sequer conhecer a obra do carioca. No entanto, estamos falando de Noel Rosa, um autor que reinou absoluto na Vila Isabel (maior nicho de compositores do Brasil), que era o mais disputado pelos sambistas do Rio e que teve mais de 200 composições gravadas em poucos anos, apesar das dificuldades físicas. Estamos girando ao redor do homem que genialmente compôs “Com que roupa” e “Fita amarela”, apenas dois dos clássicos “noelianos”. Mesmo pobre e pequenino, Teixeirinha deve mesmo ter crescido ao som de algumas destas melodias que – independente da época – chegavam aos mais longínquos recantos do país através do rádio.

Noel Rosa


Mas, vejam bem: Noel era “apenas” o compositor. Seu talento viajava pelo Brasil através de suas canções, mas estas não vinham marcadas por sua voz. Os maiores cantores da “Era do Ouro” gravavam seus sambas, mas nenhum ficou mais famoso que Francisco Alves, o “Rei da Voz”. Nascido em 1898, no Rio, Chico Viola (como também ficaria conhecido) começou sua carreira em 1918, quando passou a cantar em companhias de teatro. Com voz límpida e estilo peculiar, em poucos anos tornou-se o maior fenômeno masculino da música. Até metade do século XX, Francisco reinou absoluto como o maior “cartaz” brasileiro. E mais: bateu todos os recordes em termos de gravação e vendagem de discos. Até hoje, é difícil encontrar cantores com tantas gravações – 983 músicas em 526 discos!


Francisco Alves

O maior sucesso de Noel Rosa gravado por Francisco Alves foi o estridente samba “Fita amarela”, ouvido por Teixeirinha nas décadas de 40 e 50. No mais alto estilo dos carnavais de antigamente, a música dizia:

Quando eu morrer
Não quero choro nem vela
Quero uma fita amarela
Gravada com o nome dela


Mas os sucessos de Noel na voz de Francisco Alves foram tragicamente interrompidos em setembro de 1952, quando o Buick do cantor chocou-se com um caminhão enquanto circulava pela Via Dutra, em São Paulo. Morria o “Rei da Voz”. Para muitos, acabava o carnaval.

Mesmo admirando outros cantores do samba (em especial Nelson Gonçalves), Teixeirinha parecia nutrir uma admiração especial pelos dois grandes nomes morridos precocemente. Para expressar a saudade que sentia dos carnavais de Noel e Chico Viola, o regionalista compôs e gravou uma marcha (uma das poucas de sua carreira) intitulada “A saudade que ficou”. Ali, Teixeirinha nos leva a uma viagem pelos carnavais do passado e a uma reflexão sobre o quanto a folia de hoje talvez não tenha o mesmo romantismo:

Cadê as marchas bonitas?
Dos tempos de antigamente
Dos carnavais que passaram, que pena
Hoje é tão diferente

Na quarta-feira de cinza
O carnaval acabava
Mas as marchinhas bonitas, meu bem
O ano inteiro a gente cantava

Os carnavais de hoje em dia
‘Finda’ também quarta-feira
Só as marchinhas não ‘fica’ pra gente
Morre ao baixar a poeira

O Noel Rosa morreu
Francisco Alves também
A velha guarda inteirinha partiu
Subiu os céus e não vem

Ó velha guarda querida
Dos carnavais que passou
Pra cantar e compor como eles, meu bem
Nem um herdeiro ficou

Os carnavais de hoje em dia
‘Finda’ também quarta-feira
Só as marchinhas não ‘fica’ pra gente
Morre ao baixar a poeira

O Noel Rosa morreu
Francisco Alves também
A velha guarda inteirinha partiu
Subiu os céus e não vem

Ó velha guarda querida
Dos carnavais que passou
Pra cantar e compor como eles, meu bem
Nem um herdeiro ficou


Em breve, mais um carnaval vem chegando. Desfiles, bailes, sambas-enredo... Brilhos, luzes, alegria... Tudo é bonito, mas, por favor, não esqueçam também daqueles que fizeram a história desta festa no passado. Sigam a música de Teixeirinha e conheçam, com seus próprios ouvidos, nossos astros da “Velha Guarda”. Vocês verão porque a saudade realmente ficou.

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