TEIXEIRINHA: GREMISTA OU COLORADO?

>> 17 de nov. de 2007


A polêmica começou na comunidade “Teixeirinha Official” no Orkut: afinal, Vitor Mateus Teixeira, o Teixeirinha, torcia pelo Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense ou para o Sport Club Internacional? A pergunta dividiu opiniões e eu bem que tentei respondê-la. Mas, como já era de se esperar, a rivalidade entrou em campo e resolvi trazer a peleja pra cá.
Teixeirinha era gremista. Não há a menor dúvida em relação a este fato. Quem quiser comprová-lo, vá até a Fundação Teixeirinha em Porto Alegre e veja a carteira de sócio do Grêmio, um documento pessoal do artista que esclarece a polêmica. Aliás, em minha próxima visita à Fundação, prometo trazer uma fotografia desta carteira para que todos possam vê-la.
Mas existe, ainda, uma outra evidência que põe um ponto final na polêmica: depois de morto, Teixeirinha foi velado nas dependências do Estádio Olímpico Monumental, sede do Grêmio. O fato foi noticiado pelos jornais que cobriram os funerais do cantor e deixa explícito, de uma vez por todas, qual era o time do coração de Vitor Mateus Teixeira.
Porém, se existem provas cabais de que Teixeirinha era um gremista de carteirinha (literalmente), porque a questão ainda é tão polêmica? Simples! Em pelo menos duas ocasiões, o cantor afirmou publicamente torcer pelo rival colorado! É claro que estou falando dos célebres desafios, as guerras de rimas em que Teixeirinha e Mary Terezinha engalfinhavam-se nos versos.
A primeira menção ao futebol em um desafio ocorreu há 40 anos, em 1967. No LP “Dorme Angelita” (Copacabana), Teixeirinha e Mary gravaram o excelente “Desafio do Grenal”, uma trova curiosa em que o cantor defende o Internacional, ao passo que a acordeonista declara-se partidária do tricolor gaúcho. Como em todos os desafios, neste o casal trava uma verdadeira guerra e sobram ofensas para todos os lados. Num dos versos iniciais, Teixeirinha entra de sola defendendo o lendário “rolo compressor” com sede no Beira-Rio:


Termina com a macacada
Macaco pula na brasa
Teu time ‘é’ uns frangos ‘pesteado’
Que joga arrastando a asa
Nós entrando no tambor
Cai por terra o tricolor
Nosso rolo compressor
Muita alegria tem dado


Mas Mary não deixa barato e fuzila:


O Inter vai despenando
Sai, Teixeira, credo em cruz
Frango pesteado ‘é’ vocês
O bico torto reluz
Cor vermelha é sem valor
Quando vê um tricolor
Treme a perna de temor
E põe ovo de avestruz


Neste ótimo desafio, Teixeirinha parece à vontade no papel de colorado. Porém, dois anos depois, o futebol gaúcho volta a ser tema de uma trova e, desta vez, a dupla “vira a casaca”. Em “Azul e vermelho” (“O Rei”, Copacabana, 1969), Teixeira e Mary começam parodiando o hino gremista para, depois, iniciarem a batalha:


[Teixeirinha]
Eu vou virar a casaca
Me desculpe, torcedor
Eu não era colorado
Apenas fui defensor
No verso, sou repentista
No futebol, sou gremista
Meu esquadrão tricolor

[Mary Terezinha]
Teu esquadrão tricolor
Aproveito a embalada
Eu também andei uns tempos
Com a camiseta trocada
Como me sentia mal
Meu clube é o Internacional
Eu sempre fui colorada


Depois deste desafio, foram dez anos sem falar de futebol. O retorno ao tema só veio em 1979, quando chegava às lojas o LP “20 anos de glória” (Chantecler). Nele, está a faixa “Isso que é desafio”, um dos mais frenéticos embates entre a dupla. Nesta trova, Mary e Teixeirinha discutem vários assuntos, incluindo política e... futebol! E desta vez, Teixeirinha volta a defender o colorado! Num ótimo verso o cantor afirma:


No partido PTB,
Eu fui mal interpretado
Eu não disse ser da Arena
Política deixo de lado
O meu partido é mulher
E no futebol colorado


Para complementar, Mary Terezinha marca um golaço no verso seguinte:


No futebol colorado
Bom cantor e bom sujeito
Mas diz o velho ditado
Ninguém no mundo é perfeito
Só por tu ser colorado
‘Taí’ teu maior defeito


No placar dos desafios envolvendo a dupla grenal, deu Inter. Vitória apertada, por dois desafios onde Teixeirinha defende o colorado, contra um em que ele declara-se gremista. Mas, se o cantor era mesmo tricolor, porque defendeu o “rolo compressor” do Gigante da Beira-Rio? Fui buscar informações na história dos dois clubes e formulei uma “teoria” simples, mas possível: Teixeirinha era o compositor dos desafios e, por isso, tinha o poder de escolha nas mãos, podendo ser o que quisesse em suas composições. Em época de grande evidência da dupla grenal isto pode ter feito a diferença.
No primeiro desafio, em 1967, o Internacional vivia uma de suas maiores glórias. Participando pela primeira vez do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (o “Robertão”, uma extensão da Taça Rio-São Paulo), o Inter sagrou-se vice-campeão, sendo considerado o segundo melhor time do país. No ano seguinte, repetiu o feito. Mais um ano e chegamos em 1969, quando o luxuoso Gigante da Beira-Rio era inaugurado como Estádio oficial do Internacional.
Teixeirinha estava, portanto, seguindo a maré. O Inter estava em alta e ele acabou fazendo uma “média” com a torcida colorada. Isto fica muito claro quando, num dos versos, Teixeirinha diz que “nosso rolo compressor / muita alegria tem dado”, referindo-se ao time vice-campeão do torneio futebolístico mais importante do país.
Seguindo a mesma lógica de que Teixeirinha optava pelo time que estivesse em melhor situação, vemos o cantor defender o Grêmio em 1969, ano em que o clube comemorava o heptacampeonato gaúcho, uma seqüência de títulos estaduais iniciada em 1962. Provavelmente, Teixeirinha “virou a casaca” também por conta das conquistas gremistas na Taça Brasil (65, 66, 67) e na Copa Rio de la Plata (1968), títulos que devem ter dado imensa alegria à legião de torcedores do Grêmio, incluindo o próprio cantor.
Em 1979, Vitor Mateus Teixeira retorna à defesa do Inter. Mas aí fica ainda mais fácil entender: neste ano, embalado pelo astro Paulo Roberto Falcão, o colorado conquista o tricampeonato brasileiro, desta vez de forma invicta. Era a consagração de um grande time que ficou na história do futebol gaúcho. Nada mais compreensível que Teixeirinha – o autor de sua própria música – deixasse Mary com o Grêmio e fosse partir em defesa do campeão brasileiro daquele ano.
Resumo da história: Teixeirinha era gremista, mas defendia quem estivesse mais em evidência. Seus desafios mostram o lado sadio da rivalidade grenal, um bom exemplo a ser seguido pelas duas maiores torcidas do sul do país. Aliás, para encerrar, nada melhor do que a mensagem final de uma das trovas, mostrando a importância dos dois clubes e da convivência pacífica entre as torcidas:


Ta empatado o Grenal
O amor desmancha a guerra
Misturam-se as camisetas
Num beijo esta briga encerra
E viva as duas torcidas
Dos times da nossa terra


E, como diria um grande locutor esportivo: Ergue o braço o árbitro! Final de jogo!

2 comentários:

Anônimo 22 de novembro de 2007 às 13:41  

SOU COLORADA E AMO AS MÚSICAS DO TEIXEIRINHA! BEIJOS!

Unknown 12 de junho de 2008 às 19:35  

Bah ta loco o cara virava a cazaca quando bem entendia!Que viajem..suahus';SOU COLORADA E TENHO AMOR AO INTERNACIONAL! Beijos

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