A PRIMEIRA SESSÃO DE FOTOS DE TEIXEIRINHA?

>> 5 de out. de 2007

A interminável obra de Teixeirinha mais parece uma caixa de surpresas de onde não param de sair novidades. Na semana passada, apareceu mais uma! Numa conversa com o colecionador e amigo Claudiomar de Oliveira – lá de Canguçu – ele enviou a foto da capa de um compacto que acabara de adquirir. Até aí, tudo normal. Mas, reparando na imagem, senti algo de familiar, como se já tivesse visto aquela fotografia antes.
Pois bem, descobri que não havia visto exatamente aquela capa. No entanto, vasculhando meus arquivos, encontrei duas imagens muito, mas muito semelhantes. Imediatamente, Claudiomar e eu começamos a especular sobre elas.
A primeira imagem – encontrada em 29 de abril deste ano, ao acaso, na Internet – é da capa do disco 78RPM “Coração de Luto”, lançado em 1960. Reparem que nela Teixeirinha está completamente pilchado, de botas, esporas, bombacha azul-escuro, camisa branca e lenço encarnado. Para completar, o cantor saboreia o chimarrão ao lado do lendário violão “sete-bocas”, tendo como cenário uma bela paisagem campeira. O disco traz estampado no canto superior esquerdo o selo Sertanejo, com a marca do galinho, símbolo da gravadora Chantecler.

78RPM "Coração de Luto" (1960)

A segunda capa – de um compacto sem data, enviada pelo amigo Claudiomar – traz exatamente o mesmo cenário (basta ver a paisagem com o enorme tronco de árvore que aparece ao fundo). Teixeirinha está numa posição diferente. Ao invés do chimarrão, o violão. Mas não é só isso: em comparação à imagem anterior, o lenço do “Rei do Disco” já não parece tão encarnado. As bombachas também não estão mais azuis, mas sim pretas. O selo do galinho cantor continua ali, embora tenha sido transferido para o canto direito.

Compacto "O Gaúcho Coração do Rio Grande"

Finalmente, a terceira fotografia – a mais popular, já impressa até em CD’s. É a capa do primeiro LP de Teixeirinha (“O Gaúcho Coração do Rio Grande”), lançado pela Chantecler em 1961. O cenário se repete mais uma vez. O cantor, no entanto, está servindo a cuia do mate com a água da chaleira. Ele segura entre os dedos da mão esquerda um cigarro. O violão está no chão mais uma vez. Mas, reparem: a bombacha é azul novamente (e desta vez não tão escura)! O lenço está longe de ser vermelho. Até o selo Sertanejo já não aparece mais. Em seu lugar, está outro, o Alvorada.

LP "Teixeirinha - O Gaúcho Coração do Rio Grande" (1961)

Três imagens e algumas possibilidades. Primeiro: provavelmente elas foram produzidas no ano de 1959 – mais tardar 1960. Todas elas serviram de capa nos primeiros discos de Teixeirinha. A primeira em 1960, no lançamento do 78RPM contendo “Gaúcho de Passo Fundo” e “Coração de Luto”. A segunda talvez no mesmo ano, num compacto que trouxe “Linda Terezinha”, “Rio Itapé”, “Sonhei contigo” (esta desconhecida) e “Flor do pago”. Finalmente, a terceira, em 1961, servindo de capa para o LP “O gaúcho coração do Rio Grande”.
Certamente as três fotografias foram tiradas no mesmo dia. O que explicaria, então, as mudanças nas cores do vestuário de Teixeirinha? Aí cabe uma teoria. Se observarmos atentamente a capa do LP “O gaúcho coração do Rio Grande”, veremos que as cores daquela imagem não parecem naturais. A bombacha utilizada pelo cantor mais parece um enorme borrão de tinta sobre o papel. O lenço – que naquela foto aparece lilás – também não dá a impressão de ser realmente daquele tom. Olhando para as três imagens, podemos perceber que em cada uma delas as cores aparecem modificadas. Com atenção, percebemos alterações até na cor do cabelo de Teixeirinha.
Outro motivo de dúvida: sabemos que o violão “sete-bocas” utilizado por Teixeirinha no início da carreira é da cor da madeira, diferindo-se apenas nos tons – mais claro no centro e mais escuro nas bordas do bojo. Nestas três imagens, entretanto, o mesmo violão aparece nas cores lilás e amarelo! A partir disso, só me resta supor que estas imagens tenham sido coloridas artificialmente. Não sei como, mas talvez elas tenham passado por algum processo semelhante às antigas litogravuras (desenhos muito semelhantes às fotografias de verdade), tendo suas cores reforçadas – se é que não foram forjadas.
Coloridas artificialmente ou não, estes retratos (originalmente tirados por Oswaldo Micheloni) podem ser considerados históricos e valiosos, pois marcam a fase inicial da carreira do “Rei do Disco”, além de se constituírem na única sessão de fotos de Teixeirinha das quais uma parte considerável chegou ao público. Teria sido esta a primeira sessão de fotografias da qual participou Vitor Mateus Teixeira? Curiosidade intrigante...

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